Nas folgas, delegados fazem sucesso nos palcos

Quem assiste ao show do grupo Terrayá não imagina que atrás da descontração de um dos vocalistas da banda se encontra o delegado Cícero José, que atua na Delegacia de Estelionato em Curitiba. O mesmo acontece com quem houve o CD Bezerra da Silva Ao Vivo, lançado em 1999. Não imagina que a voz que canta 11ª faixa é do delegado Jorge Azor, da delegacia de Furtos e Roubos da Capital.

Os dois delegados-cantores são unânimes em afirmar que a música é como se fosse uma válvula de escape. Uma forma de dar vazão a tensão que vivem diariamente, já que enfrentam todo o tipo de gente e de situações. Algumas até com risco de morte. Realidade bem diferente da vivida nos palcos. Porém os dois reconhecem que a verdadeira vocação é a carreira policial e dificilmente trocariam a perseguição policial pela busca ao sucesso.

Eles só discordam num ponto, o ritmo de música que escolheram para animar as noitadas por aí a fora. O delegado Azor optou pelo samba e Cícero José pelo forró, ambos valorizando as origens dos estilos.

Azor disse que nunca teve aquele sonho, desde pequeninho, em ser cantor, a coisa fluiu naturalmente. Quando era vice-diretor da Academia de Polícia Civil começou a cantar nas comemorações da escola e festas de amigos. “O pessoal disse que eu levava jeito e comecei a me dedicar”, conta. Em 1984 já era delegado na Polícia Cível e fazia shows eventualmente.

Mas o lado cantor do delegado ganhou maior impulso quando uma amiga em comum, entre ele e o Bezerra da Silva, o apresentou ao sambista, que também é delegado. Azor cantou num show do Bezerra em Curitiba, em 1998. Agradou tanto que foi convidado para gravar com ele um CD ao vivo. A música escolhida não podia ser outra: Foi o doutor delegado que disse – só que foi adaptada para Foi o Azor delegado que disse. “Os amigos deles perguntavam se eu era mesmo delegado”, afirma Azor. A gravação foi na favela da Rocinha. “Estava apreensivo, mas o Bezerra disse que com ele não haveria problemas”, fala. O CD vendeu mais de 200 mil cópias.

Por enquanto Azor está sem tempo para se dedicar a música, já que atua na delegacia e ainda dá aulas de Direito Penal na Pontifícia Universidade Católica (PUC) e na Universidade Federal do Paraná. Mas pretende gravar algumas faixas com cantores de samba de raiz como Almir Guineto, Arlindo Cruz e Reinaldo. A amizade entre eles nasceu durante suas incursões artísticas. Depois quem sabe vai produzir CD com a sua banda CPI do Samba.

Lançamento

O delegado Cícero José já gravou o seu CD, chamado de Um novo dia. Ele e a sua banda fazem o lançamento no próximo sábado, 18, no bar Era Só o que Faltava. O delegado explica que o trabalho é uma forma de afirmar o folclore e a cultura do litoral paranaense, partindo da Ilha do Mel. A banda nasceu em 2000 e faz cerca de dois shows por semana.

No repertório, músicas de autoria do grupo, de domínio público e ainda de Nhô Berlarmino e Raimundo Rolim. O delegado, que é pernanbucano, mas vive há mais de 30 anos no Paraná, trouxe o folclore em suas veias e foi fácil se apaixonar fandango paranaense e pelo forró dos caiçaras, como são chamados os nativos do litoral. Anos mais tarde conheceu os demais integrantes do Terrayá – Xis, Roberto, Tico, Ceará da Sanfona e Zaíco – e agora cantam juntos.

Cícero explica que o nome da banda deve-se ao fato de que na Ilha do Mel só é permitido dançar até as 2h da manhã, mas o povo dizia que queria ficar “até raiar” o dia.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo