Não basta ser aluno, tem que participar

A participação do aluno dentro da escola não se resume apenas em sentar na sala de aula e aprender as lições com a professora. As crianças também devem se envolver com a rotina do local onde passam a maior parte do dia. Isso, porém, não acontece com muita freqüência, principalmente entre os estudantes da pré-escola até a 4.ª série do ensino fundamental. Mas na Escola Municipal Adriano Robini, no bairro Fazendinha, em Curitiba, essa situação está mudando. Hoje será eleito um grêmio estudantil com alunos entre seis e dez anos. Eles vão participar ativamente das decisões da diretoria e propor soluções para a melhoria das atividades dentro da escola.

A professora Cinthya Catherine Martins teve a idéia de fazer a eleição do grêmio com as crianças dessa faixa etária com a intenção de realmente inserir o aluno no local de ensino. A iniciativa é pioneira nas escolas municipais, pois os grêmios só funcionam a partir da 5.ª série. “Um dos objetivos do ensino é criar um cidadão crítico, participativo, ciente de seus direitos e deveres. Na verdade, isso não é desenvolvido literalmente nas crianças pequenas. O envolvimento está sendo muito grande porque elas não tinham noção que podiam participar”, comenta Cinthya. “A intenção é que os alunos detectem os problemas e discutam isso com a turma, que vai propor soluções. A diretora não tem como saber de tudo e estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Assim, eles serão os ajudantes da diretora”, explica.

Para colocar a idéia em prática, as doze turmas elegeram dois representantes em cada sala. Os 24 alunos escolhidos formaram duas chapas para concorrer nas eleições. Eles distribuíram panfletos e fizeram cartazes para expor seus objetivos. “Os alunos escolhidos são os que tiram as melhores notas e que são exemplos para a turma”, explica a pedagoga da escola, Rosilene Zadorosny. “Escolheram a gente porque sempre respeitamos os colegas”, diz Brenda Garcia, 9 anos, integrante de uma das chapas. “Os bagunceiros não foram escolhidos porque não são bons exemplos”, diz Kelly Letícia, 7 anos, outra candidata.

Para a pedagoga, esse exercício se torna mais válido ainda pelo fato de 2004 ser um ano de eleições municipais. “Vai contribuir na formação dos alunos, que vão aprender cedo a importância do voto e a escolher bem os nossos representantes”, comenta Rosilene. Os candidatos estão com as propostas na ponta da língua. “Precisamos colocar mais policiamento perto da escola. Ladrões já entraram aqui e levaram televisão, rádio, computador, microfone e caixa de som”, comenta Rafael Lopes, de 10 anos. “Na hora do recreio tem muita briga e a gente precisa acabar com isso”, aponta Luís Eduardo Tavares, também de 10 anos.

Além da eleição do grêmio estudantil, seis representantes da 2.ª série estão concorrendo também para o Diretor por um Dia, trabalho que deve acontecer uma vez por mês. A criança escolhida vai acompanhar por uma tarde todas as atividades da diretora da escola, como atender pais e professores, a fim de conhecer as dificuldades e entender a função da chefe da escola. “As duas ações estão fazendo com que os alunos se policiem, senão serão criticados. Isso gera cobrança, o que ajuda a formar um aluno responsável e que dá exemplo”, avalia Cinthya.

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