O homem já enfrenta dificuldades de encontrar matéria-prima abundante do meio ambiente. Não é mais possível apenas retirar da natureza. É preciso reaproveitar tudo, inclusive os resíduos, e esse processo virou uma tendência mundial. O que antes era jogado fora, está sendo transformado em outros materiais com propriedades similares aos dos originais. Há produtos criados a partir do resíduo que podem ser aplicados na restauração de estradas, por exemplo.

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A química pesquisadora do Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Marisa Soares Borges, explica que a criação de novos materiais produzidos com resíduos é uma tendência versátil, usada mundialmente. "Não dá mais para só tirar da natureza. Também é perigoso jogar resíduos de volta para o meio ambiente", afirma.

Além das vantagens ambientais, os custos das empresas que adotam esse processo podem ser reduzidos com o emprego dos novos materiais. "Por causa da alta competitividade e da globalização, as empresas buscam mais eficiência, tanto na sustentabilidade ambiental quanto na economia", comenta Marisa. Os materiais produzidos possuem propriedades similares aos materiais tradicionais, o que facilita a aceitação. O Laboratório de Tecnologia Ambiental (LTA) da UFPR, onde Marisa trabalha, faz assessoria de gestão ambiental para empresas (privadas e estatais) e órgãos de apoio à pesquisa. Os convênios e projetos desenvolvidos pela equipe do laboratório abrangem o processamento de resíduos industriais e químicos.

Entre os resíduos que podem ser reaproveitados estão os de concreto, demolição, produção de cal e aqueles com alto teor de metais pesados (chumbo, cromo, níquel, zinco, estanho). "Alguns materiais feitos a partir de resíduos podem ser aplicados na construção civil, o que diminuiria os custos. A gente sabe que comprar material de construção é caro e, por causa disso, muita gente não tem acesso a casa própria. Além das casas, o material pode ser usado na recuperação de estradas. É uma ótima alternativa", revela Marisa.

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Além dos convênios e assessoria para empresas, o LTA está desenvolvendo um programa de gerenciamento de resíduos dentro da própria UFPR. Os resíduos são gerados pelos laboratórios de pesquisa e ensino da instituição. "A comunidade acadêmica sempre é consultada em questões de acidentes ambientais e aponta os erros e as soluções sempre com muita propriedade. Assim, ela tem por obrigação colocar em prática um programa em situações menores dentro da universidade", esclarece Marisa.

Reaproveitamento ajuda a formar

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Dentro da UFPR, há uma grande diversidade dos materiais usados nos laboratórios, muitos deles com alto grau de toxicidade, e que não estão sendo tratados adequadamente. Conforme a pesquisadora do Departamento de Engenharia Química da Federal, Marisa Soares Borges, o trabalho de reaproveitamento também ajuda na formação dos alunos, que se inserem no processo. O sistema de gerenciamento já funciona em alguns locais, como o laboratório de biologia celular.

O professor deste departamento, Ciro Alberto Oliveira Ribeiro, conta que o laboratório gera resíduos de análises. Quando um material biológico é preparado para ser observado em um microscópio, são utilizados produtos químicos para a preservação de suas células. "Alguns produtos, como o álcool, são fáceis de ser eliminados. O mesmo não acontece com outros que precisamos usar. A ciência não anda sem gerar resíduo. Por isto, temos que gerenciá-lo", enfatiza. Ele relata que os usuários do laboratório de biologia celular seguem à risca um manual elaborado por Marisa a fim de seguir as normas para o destino correto dos resíduos. O trabalho da pesquisadora serviu de base para a aprovação de um projeto de lei na Câmara dos Deputados que obriga as universidades brasileiras a implantarem programas de gerenciamento de resíduos. (JC)