Nada a comemorar no Dia da Água no Paraná

No lugar da água, em alguns rios do Paraná encontramos garrafas plásticas, sofás, sucatas de geladeira, bonecas e até carpetes. São esses objetos recolhidos quase que diariamente dos rios e mananciais da região de Curitiba. ?Dizer que tiramos uma tonelada de lixo dos rios não é um bom índice?, afirma a engenheira da Secretaria do Meio Ambiente de Curitiba, Giseli Martins dos Anjos. Afinal, o que comemorar?

O trabalho que a organização não governamental Eco Rios vem desempenhando para tentar salvar os rios de Curitiba e Região Metropolitana seria um bom motivo. Se não houvesse, em compensação, tantos problemas: ocupação desordenada em áreas de mananciais; erosão decorrente do desmatamento; assoreamento; poluição através de fontes industriais e esgotos domésticos. ?Todos os rios estão com problemas. Está aumentando o número de voluntários, mas num sistema tartaruga, enquanto a poluição aumenta a jato?, lamenta o presidente da Eco Rios, Iolando Wojcik.

?Em Curitiba a maior fonte de poluição é o esgoto doméstico?, conta a diretora de Meio Ambiente da Sanepar, Maria Arlete Rosa. Segundo ela, no Rio Tarumã, por exemplo, há cerca de 700 ligações de esgoto irregulares de grandes poluidores (restaurantes e outros) até moradores, que não permitem que o órgão verifique. ?É uma quantidade absurda de esgoto in natura que é lançado nos rios do Estado e no País, o que faz com que aumente o número de crianças com doenças de contaminação hídrica?, afirma Norberto Ramon, chefe do setor de outorga e fiscalização da Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (Suderhsa).

Esse problema é facilmente confirmado em áreas de ocupações. Um exemplo é o Rio Vila Guaíra, que cruza a favela do Parolin. ?É muito mais cômodo jogar no rio do que esperar a coleta?, afirma a engenheira Giseli Martins dos Anjos.

Mais a lamentar

Por regiões, a diretora de Meio Ambiente da Sanepar foi elencando os demais problemas do Estado. ?Em todos os grandes centros urbanos temos problemas de qualidade dos mananciais?, afirma. Em Curitiba e Região Metropolitana os problemas são com a Bacia do Rio Pequeno, na BR-277, a caminho de Paranaguá, que abastece 75% da população. Outro caso é a Represa do Irati, onde as plantas marinhas começaram a florescer exageradamente, isso porque o Rio Timbu é o mais contaminado por carga orgânica (esgoto).

No interior, problema também persiste

Em Ponta Grossa, os problemas com a Represa de Alagados são complexos, segundo a diretora de Meio Ambiente da Sanepar, Maria Arlete Rosa: algas, assoreamento, mineração, suinocultura. ?É complexo porque além de ser de abastecimento, é utilizado pela Copel para gerar energia?, afirma.

Em Maringá, a preocupação é com a Bacia do Rio Pirapó, onde, devido as chuvas do início do ano, foi carregado uma grande quantidade de lixo, comprometendo o abastecimento de água da região.

Em Londrina, os dois principais rios, Cafezal e Tibagi, encontram-se poluídos. Em Cascavel, o principal problema com o rio do mesmo nome da cidade é o assoreamento. A grande quantidade de lixo que pode ser encontrado em suas águas também assusta a população.

Área rural

Segundo o presidente da Eco Rios, Iolando Wojcik, na área rural dos municípios da RMC, problemas também existem. Na região de Contenda, Araucária e Lapa, o grande comprometedor da água é a terra que escoa da lavoura com a chuva e caem no rio, além do saibro do asfalto que as prefeituras não dão importância e até contribuem para o problema, segundo ele. ?Todas as prefeituras, inclusive a de Curitiba, fazem a rua e não têm nada que contenha o saibro, que cai direto no rio. As prefeituras não dão exemplo?, afirma Iolando.

Boas ações

Para tentar reverter a situação, a Sanepar desenvolve o Programa de Educação Sócio-ambiental, que mantém grupos que identificam e propõem soluções aos problemas específicos em cada região e ações educativas e de conscientização.

No entanto, não é somente a Sanepar que tenta reverter a situação da água no Estado. A Ong Eco Rios também trabalha constantemente, com trabalho de voluntários e pouco dinheiro, com quatro rios afluentes do Iguaçu, na região de Contenda: Rio da Gralha, Catanduva, Hortelã e Santo Antônio, além do Rio Itaqui, na região de Piraquara. Eles tentaram trabalhar com os rios maiores, Iguaçu e Barigüi, mas foram impedidos pela grande burocracia do Estado.

?Até hoje o IAP (Instituto Ambiental do Paraná) não deu licença para colocar uma tela para tentar barrar o lixo que é carregado nas águas. Continua descendo lixo lá (Barigüi). Como vamos fazer o nosso trabalho se eles não autorizam? Parece que o governo quer que acabe com os rios. Não temos o apoio do governo, temos de pagar licença (de aproximadamente R$ 95), é uma burocracia danada e às vezes até somos multados por estarmos tentanto fazer a nossa parte?, conta Iolando.

O diretor da Suderhsa, Norberto Ramon, confirma essa burocracia. ?A burocracia é grande porque existe um número muito grande de leis, algumas até contraditórias?, afirma. (NF)

Desperdício: outro problema

– em 15 minutos de banho são consumidos 105 litros de água, em média. Se reduzidos 10 minutos desse tempo, cai para 75 litros;

– para lavar as mãos vão sete litros e escovar os dentes, dez;

– ao deixar a torneira aberta para fazer a barba, mais 65 litros;

– o mais trágico: se uma torneira ficar pingando, durante um mês, lá se vão 4.140 litros de água, o suficiente para encher oito caixas d’água.

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