Museu transforma lixo em arte, em Campo Magro

Se para muitos peças antigas, belos quadros, esculturas e até livros não têm valor algum, imaginem o valor que não teria 400 toneladas de lixo: em situações comuns, nenhum. No entanto, para os 71 funcionários da Unidade de Valorização de Rejeitos (UVR), cultura, conhecimento e lixo estão associados e têm valor de vida. Isso porque eles trabalham no Museu do Lixo.

"É gratificante e interessante poder contribuir e preservar esse lado social. É bom trabalhar aqui. É uma contribuição com a própria vida", confirma Alcídio Gomes dos Santos, 54 anos, que há seis trabalha separando o lixo do município e, assim como os colegas, muitas vezes encontra coisas inacreditáveis.

Para os que visitam o local, em Campo Magro, é fácil imaginar o ciclo. Começa em casa, onde as pessoas jogam o que não tem mais interesse. Os caminhões da Prefeitura passam, recolhem os lixos de toda uma cidade e levam até a UVR. Chegando lá o material é depositado num enorme funil. O lixo então cai nas duas esteiras e passa pelos olhares atentos e seletivos dos "classificadores", que, separando o reaproveitável do rejeito, entre uma garrafa e um pedaço de papelão, podem encontrar até um vestido de noiva já meio amarelado. "Eles mesmos separam e, quando é algo interessante, levam para o nosso museu", conta a secretária-administrativa e educadora ambiental da unidade, Juliana Constantino da Silva.

Fotos antigas em preto e branco, peças em bronze e madeira, relógios, telefones, quadros, instrumentos bélicos e musicais, dinheiro, capacetes oficiais, filmes super 8. "São tantas coisas, que todo dia a gente encontra. Tudo é interessante. A gente se habitua a encontrar. A intenção é sempre trazer alguma coisa mais para cá", conta Alcídio. Todas essas peças curiosas, mais de duas mil, encontradas no lixo pelos funcionários, estão expostas e são vistas por mais de 150 visitantes diários.

"As duas peças que chamam mais a atenção dos visitantes são um mapa de Curitiba de 1857 e uma face em mármore, com o selo do Louvre", afirma Juliana. Além do museu, como conta a educadora, do lixo também foi montada uma biblioteca que hoje conta com mais de 1,5 mil livros, encontrados nas esteiras. "A biblioteca é para funcionários e filhos de funcionários. Muitos deles fazem pesquisa escolar aqui. Muitos funcionários são de baixa escolaridade e não podem comprar um livro, mas aqui têm acesso à cultura e conhecimento", orgulha-se Juliana.

A Unidade de Valorização de Rejeitos é mantida pela ONG Instituto Pró-Cidadania, em parceria com a Prefeitura de Curitiba. Tanto a Unidade quanto o museu e a biblioteca são abertos para visitas e quem participa garante que a experiência é um tanto quanto reveladora. "Vêm pessoas aqui que olham para uma peça e lembram de ter tido as mesmas em casa, mas que um dia jogaram fora. Elas pensam: será que não é esse?", conta Juliana da Silva. 

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