Uma descoberta histórica anunciada pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro apresenta para o mundo a Berthasaura leopoldinae, uma nova espécie de dinossauro brasileira. Segundo especialistas, a ossada encontrada na cidade de Cruzeiro do Oeste, no Paraná, é a mais completa já descoberta no país.

continua após a publicidade

A espécie viveu no Brasil em um período estimado entre 70 e 80 milhões de anos. O animal tinha porte pequeno (cerca de 1 metro de comprimento) e possuía feições únicas em seu crânio, o que fazem desta descoberta uma das principais realizadas da paleontologia brasileira. No local, conhecido como “Cemitério dos Pterossauros”, onde também foi descoberto o Vespersaurus paranaensis, em 2019.

+ Leia também: Hipermercado Extra fecha as portas em Curitiba e anuncia queima de estoque

O nome da nova espécie é uma homenagem “tripla”. “Bertha se refere à professora/pesquisadora Bertha Maria Júlia Lutz (1894 – 1976), bióloga do Museu Nacional/UFRJ e uma das principais líderes na luta pelos direitos políticos das mulheres brasileiras.”

continua após a publicidade

A pesquisadora também explicou que o epíteto específico “leopoldinae” homenageia tanto a Imperatriz brasileira Maria Leopoldina (1797 – 1826), que foi uma grande entusiasta das ciências naturais e uma das principais responsáveis pela independência no Brasil, como também a escola de Samba Imperatriz Leopoldinense que honrou o Museu Nacional/UFRJ com o tema do seu desfile na Marquês de Sapucaí em 2018.

O esqueleto de Berthasaura leopoldinae foi encontrado em escavações conduzidas pela equipe de paleontólogos do Centro Paleontológico da Universidade do Contestado e do Museu Nacional, em um corte de estrada rural em Cruzeiro do Oeste, como informou Luiz Weinschütz, geólogo do CENPALEO, que esteve na coordenação das escavações.

continua após a publicidade

“Na última década, dezenas de fósseis foram coletados nessa região, o que levou à descrição de novas espécies, particularmente de pterossauros. Essa nova descoberta de um dinossauro, o segundo da região, mostra a importância daquele sítio fossilífero que chamamos de Cemitério dos pterossauros.”

“Os materiais fósseis são muito bem preservados e, por isso, têm fornecido várias informações importantes a respeito desse ecossistema que representa um oásis no meio de um deserto do Cretáceo”, destaca Everton Wilner, também do CENPALEO. A idade dos depósitos ainda é incerta, devendo se situar entre 70 e 80 milhões de anos.

A maioria dos dinossauros encontrados no Brasil podem ser divididos em dois grandes grupos: os saurópodes e os terópodes. Berthasaura é um terópode pertencente aos abelissaurídeos, importantes componentes das faunas do hemisfério sul (Gondwana) no período Cretáceo, destaca o Diretor do Museu Nacional/UFRJ, Alexander Kellner, que participou de algumas escavações em Cruzeiro do Oeste e é um dos autores do artigo.

“Temos restos do crânio e mandíbula, coluna vertebral, cinturas peitoral e pélvica e membros anteriores e posteriores, o que torna “Bertha” um dos dinos mais completos já encontrados no período Cretáceo brasileiro”. Mas, segundo Kellner, o que torna esse dinossauro genuinamente raro, é o fato de ser um terópode desprovido de dentes, o primeiro encontrado no país, “uma verdadeira surpresa!”

Para se ter certeza dessa condição edêntula, foi feito um estudo, no Laboratório de Instrumentação Nuclear (LIN) da Coppe/UFRJ, utilizando a microtomografia computadorizada. “Aplicar técnicas que são comuns em outras áreas de pesquisa em fósseis, como a tomografia, é algo que tem nos fascinado muito” – destaca o professor Ricardo Tadeu Lopes, que coordena o laboratório, ligado ao Programa de Engenharia Nuclear da instituição. “Sempre ficamos muito curiosos quando o pessoal do Museu nos traz exemplares para analisarmos” – completa Olga de Araújo, pesquisadora de pós-doutorado também do LIN/Coppe.

Segundo o aluno de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Zoologia do Museu Nacional/UFRJ, Geovane Alves Souza, que desenvolveu essa pesquisa como parte de sua tese de doutorado, “além da Berthasaura não possuir dentes, a espécie também não apresentava qualquer sinal da existência de cavidades portadoras de dentes (alvéolos) na mandíbula e no maxilar e a microtomografia da mandíbula confirmou que não era apenas um artefato de preservação, mas sim uma feição desse novo dinossauro.”

O jovem pesquisador complementou que foram identificadas marcas e sulcos sugerindo a presença de um bico córneo (de queratina), semelhante ao que ocorre nas aves hoje em dia. “É difícil confirmar se a Berthasaura poderia ter usado seu bico para rasgar nacos de carne, assim como os gaviões e urubus fazem hoje em dia, ou se o bico seria utilizado para cortar material vegetal”. Vivendo em uma área restrita como o deserto, esse dinossauro deveria se alimentar do que estivesse disponível, tendo provavelmente desenvolvido uma dieta onívora – salientou.

Divulgação / Museu Nacional