As integrantes do Movimento das Mulheres dos Policiais Militares continuam acampadas em frente aos quartéis da PM impedindo a entrada ou saída das companhias. A mobilização das mulheres começou às 19h30 de quarta-feira, quando elas esvaziaram pneus dos carros da polícia e trancaram os portões do Quartel Central da PM, na Avenida Getúlio Vargas, em Curitiba.
As mulheres são contra o projeto do governo que quer reajustar os salários dos policias de forma parcelada. De acordo com Lúcia Sobral, uma das representantes das categoria, elas querem discutir uma nova forma de repassar o reajuste, “que pode ser parcelado, mas durante um ano, e não em três como pretende o governo”.
Pela proposta, o índice de 130% seria aplicado aos salários no início dos anos de 2003, 2004 e 2005. Segundo Lúcia um policial militar de primeira classe, com 20 anos de trabalho, recebe hoje R$ 857,23, e teria o salário alterado para R$ 1.156,20, mas só em 2005.
Sem acordo
No começo da tarde de ontem, as lideranças do movimento reuniram-se com o comandante-geral da PM, Gilberto Foltran. Segundo Lúcia, no entanto, não houve nenhum entendimento. “Enquanto eles continuaram com essa proposta de parcelar em três vezes não tem jeito”, garante.
As mulheres querem negociar com o governo alterações no projeto antes que ele seja enviado para aprovação na Assembléia Legislativa, o que está previsto para a próxima terça-feira.
Trancados
Cinco mulheres faziam a guarda em frente ao 13.º Batalhão da PM, no Capão Raso (zona sul). Cerca de cinqüenta carros estavam dentro do quartel, e só podiam deixar o local com a permissão das mulheres. Márcia Linhares, integrante do Movimento, disse que durante à noite uma viatura deixou o quartel para prestar atendimento a um assalto onde uma mulher e uma criança eram reféns. “Era uma situação de emergência. A viatura saiu, mas depois retornou para o quartel”, disse.
A mesma determinação valia para os policiais que estavam dentro do batalhão. Ontem pela manhã um policial que não estava de serviço e teria ido ao batalhão apenas participar de um interrogatório tentou negociar com as mulheres a saída, mas não teve acordo. O policial acabou pulando a cerca lateral do quartel para deixar o local. Nesse batalhão, afirma Márcia, a orientação era que os policiais fizessem o policiamento pelo bairro à pé, mas isso não foi confirmado no local. Na 3.ª Companhia da Polícia Militar, na Cidade Industrial, seis mulheres se revezavam para “cuidar” da área. Os quinze carros da polícia estavam com os pneus murchos e as mulheres trancaram o portão de entrada com cadeado. Isabel Neves, integrante do Movimento, denunciou que o marido, sargento Neves, que atua no batalhão de Piraquara havia sido detido como forma de retaliar a manifestação das mulheres.
No começo da noite de ontem o movimento estourou também em Londrina. “Vamos nos reunir no centro da cidade e devemos rumar até o 15.º Batalhão”, garantiu Zelina Umbelino, líder do movimento na cidade.
Boatos
O comandante-geral da PM, coronel Gilberto Foltran, negou a informação, dizendo que tudo não passava de boatos. “Elas estão divulgando informações mentirosas com o objetivo de colocar a população em pavorosa”, declarou. Ele afirmou que a PM está trabalhando com algumas dificuldades ? como os bloqueios nos rádios de comunicação ? mas nada que interfira diretamente no atendimento à população.
Para o comandante, a manifestação das mulheres é totalmente infundada, já que elas não apresentaram contraproposta. Além disso, afirmou que houve uma quebra de confiança entre as partes, “pois estávamos mantendo um diálogo aberto com elas, que também haviam prometido que não fechariam mais os quartéis. Agora elas jogam tudo isso no lixo”. Foltran entende que elas poderiam aceitar o projeto como está, e depois negociar com o próximo governo uma outra forma de repassar o reajuste, pois entende que agora não será mais possível qualquer alteração. (colaborou Guilherme Voitch)