Uma mulher que sofria de doença renal morreu na noite de quinta-feira depois de não ter sido atendida no Hospital de Clínicas (HC) de Curitiba, descumprindo a promessa dos funcionários em greve, de que os setores de emergência estariam funcionando plenamente. A denúncia partiu de um médico residente que não quis se identificar, em entrevista à rádio BandNews. ?A paciente, que sofria de um quadro de síndrome urêmica, chegou ao hospital precisando realizar uma diálise (…). Como não havia gente para acessar os códigos de internamento, ela não foi admitida?, disse.
A família da mulher não quis dar entrevistas e não permitiu que o nome da paciente fosse revelado, mas confirmou a denúncia. O médico explicou que a paciente fazia tratamento de diálise duas vezes por semana no Hospital das Nações, para onde a família se dirigiu após a negativa do HC. ?Só que lá eles não prestam este serviço à noite. Então o quadro da mulher piorou e ela faleceu procurando vaga?. Segundo o médico, existiam vagas no HC e, caso houvesse funcionários para realizar o internamento, a mulher poderia ter passado pelo procedimento.
A assessoria de imprensa do HC negou o episódio, dizendo que ninguém com o diagnóstico descrito pelo médico fora admitido e que não houve óbito com essas características na noite de quinta. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Ensino do Terceiro Grau Público de Curitiba (Sindtest), José Carlos Belotto, disse que enfermeiras atestaram a uma comissão de ética do sindicato que os servidores atenderam corretamente a paciente. ?É preciso verificar exatamente o que aconteceu, pois agora irão querer vincular qualquer óbito à greve?. Ele reafirmou que a orientação é o atendimento de todos os casos graves. Os servidores técnico-administrativos do hospital contratados pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) aderiram à greve no último dia 28 de maio e, com isso, o atendimento do HC, que já é precário, deteriorou-se. Desde o início da paralisação o número de internamentos despencou. Apenas quem foi admitido antes da greve está tendo atendimento.
Ontem, dos 14 leitos disponíveis na UTI, sete estavam ociosos. Do total de 22 servidores do setor, cinco aderiram à greve – o HC admite, porém, que mesmo antes da greve apenas 11 estavam funcionando devido à precariedade vivida pela instituição. Segundo o reitor da UFPR, Carlos Augusto Moreira Júnior, outros dois funcionários da UTI cardíaca também estão em greve.
O Ministério Público Federal encaminhou pedido para que o HC encaminhe a relação de funcionários que continuam em greve para que seja cumprida uma liminar da Justiça Federal que impôs multa aos dirigentes sindicais e desconto em folha dos servidores caso não voltassem ao trabalho, o que deveria ter acontecido na última segunda.