Adélia de Souza, 90 anos, viveu e trabalhou desde 1944 no Hospital São Vicente em Curitiba. Depois que se aposentou, na década de 80, quis continuar vivendo no local e desde então os enfermeiros e funcionários passaram a ser sua segunda família.
Adélia foi morar num orfanato aos 10 anos, quando seu pai morreu. A mãe era costureira e ganhava muito pouco para sustentar a família. Depois disso, foi para um convento, mas acabou não se ordenando freira. Em 1944 começou a trabalhar na copa do hospital. Conta que naquela época todas as moças solteiras eram obrigadas a morar no local. Quando começou as atividades dividia um quarto com duas moças, depois ficou em um individual. “Só as casadas é que podiam morar com a família”, lembra.
Conta que tinha liberdade para sair e entrar. Era muito divertido, tinha muitas amigas e sempre saiam juntas para passear. Embora tivessem que prestar contas de onde iam e ter horário certo para voltar. O tempo foi passando e o hospital crescendo. As colegas foram embora e Adélia foi a única que ficou daquela época. “Não tenho família em Curitiba”, diz. O seu único irmão morreu quando tinha 20 anos.
Hoje ela passa o dia todo deitada e são as enfermeiras do hospital que cuidam dela. Parte de sua aposentadoria é destinada ao hospital. Ela ainda conserva uma boa memória e senso de humor. Quando a reportagem pediu para fotografá-la, disse que se soubesse antes teria colocado brincos e fita no cabelo. Mas a observação era apenas uma brincadeira. “Sou feliz, sou bem cuidada aqui”, disse. Na cabeceira de sua cama duas fotos de sua mãe são as únicas lembranças dos seus familiares.