Mulheres, como a borracheira Beatriz
Freire Rodrigues, vencem preconceitos
e mostram competência em profissões
consideradas como “masculinas”.

Foi-se o tempo em que o mercado de trabalho para a mulher estava restrito a funções burocráticas ou domésticas, que a rigor não oferecem grandes desafios. A idéia de “sexo frágil” fez com que o leque de opções se reduzisse para o público feminino e muitas profissões foram consideradas inadequadas. Aos poucos, e a duras penas, o cenário foi se modificando. Hoje é possível encontrar mulheres no ramo da construção civil, em usinas hidrelétricas e, mais recentemente, até pilotando aviões da Força Aérea Brasileira (FAB). Sinal claro de que elas vêm, cada vez mais, ganhando espaço em um mercado que até então era dominado pelos homens.

Um exemplo é o caso da operadora de usina Sibeli Ribeiro de Jesus, 46: única mulher que desempenha essa função na Companhia Paranaense de Energia (Copel). É ela quem faz inspeção na Usina Hidrelétrica Marumby, na Serra do Mar, cuida das máquinas e atende as equipes de trabalho. Mora na vila residencial durante seis dias da semana, e no sétimo viaja para Paranaguá ou Ilha das Peças, onde mora a sua família.

“O preconceito, no início, era muito grande, mesmo por parte dos operadores, que achavam que uma mulher no serviço não daria certo. Também as esposas não gostavam, especialmente porque os operadores moram na mesma vila residencial, e elas estranhavam a presença de uma mulher”, conta. “Hoje não tenho mais dificuldades. Ao longo do tempo, as pessoas se acostumaram com a minha presença.” Sibeli revela que, quando prestou concurso público, há 17 anos, poderia ter optado entre a carreira de professora ou operadora de usina: optou pela segunda. “Na escola, sempre gostei de eletricidade. Era uma área apaixonante.”

Para Sibeli, as mulheres precisam conquistar mais espaço no mercado de trabalho. “Elas ainda têm um pouco de medo, e os homens continuam machistas”, sentencia.

Borracheira

Beatriz Freire Rodrigues, 42, é outro exemplo de que as mulheres vêm, cada vez mais, ganhando espaço em um mercado que até então era dominado pelos homens. Filha e irmã de borracheiros, ela se especializou no assunto e hoje é proprietária da borracharia São Cristóvão, no Jardim Pinheiros, em Santa Felicidade, na capital. Faz de tudo: frisa pneu, desmonta, conserta. E não apenas de veículos pequenos, mas de caminhões também. “Tem homem que fica cabreiro e pergunta se eu sei mesmo consertar. Outros chegam aqui e se surpreendem, admiram o meu trabalho”, conta Beatriz, que tem curso de computação, já trabalhou em escritório, mas optou finalmente pelo ramo da borracharia. “Não troco o que faço por nada. Adoro o meu trabalho”, confessa a borracheira.

Mesmo suja de graxa, Beatriz não perde a vaidade: está sempre com brincos e batom. Mas os elogios vêm mesmo pelo seu trabalho. “Acho que mulher trabalha com mais tranqüilidade, é mais caprichosa, cuida mais”, aponta.

Taxista

A taxista Dóris Cordeiro, 50, enfrentou muito preconceito no início da profissão, há 9 anos. “Houve pessoas que não queriam fazer corrida comigo; homens que chegavam a segurar o trinco da porta e, quando viam que era mulher na direção, iam embora”, relata Dóris. Hoje, ela conta que já superou as dificuldades. E que ganha a preferência de clientes no caso do transporte de crianças, idosos e doentes. Dóris ganha cerca de R$ 1,2 mil por mês e conta que não trocaria a profissão por nenhuma outra. “Gosto dessa liberdade”, diz. Ex-dona de casa, Dóris foi influenciada pelo então marido, taxista há 30 anos, a entrar no ramo. Segundo ela, em Curitiba, há 34 taxistas do sexo feminino para quase 4 mil do sexo masculino. A filha de 23 anos promete seguir a mesma profissão.

Muitas não sabem direitos

Para a advogada Giane Wantowsky, falta conhecimento dos direitos trabalhistas femininos, especialmente por parte das mulheres que desempenham funções pouco remuneradas, como é o caso de operárias. “Pouca gente sabe, por exemplo, que em caso de aborto involuntário, a mulher tem direito a duas semanas de descanso. A mulher que adotar uma criança também tem direito à licença-maternidade”, explica a advogada.

Segundo ela, muitas mulheres têm medo de avisar a direção que estão grávidas, o que é um erro. “Não pode ocorrer rescisão contratual sob o argumento de que a funcionária se casou ou está grávida”, esclarece.

Outro direito é, em caso de a empresa ter pelo menos 30 mulheres empregadas, com mais de 16 anos de idade, possuir local apropriado para assistência dos filhos e vigilância no período da amamentação. Essa obrigação pode ser suprimida através de convênios com creches. “O grande desafio é quebrar o paradigma de que mulher é o sexo frágil, não tem condições e não está preparada para determinadas funções”, aponta a advogada. (LS)

Violência está sendo mais denunciada

Casos de violência contra a mulher vêm aumentando. Segundo dados divulgados pela Delegacia da Mulher de Curitiba, em 2003 houve o registro de 3.549 ocorrências – quase 17% a mais do que no anterior, quando foram registradas 3.031 denúncias. Casos de lesão corporal saltaram de 734 para 1.330 – um aumento de 80%. Também o número de estupros aumentou, de 85 para 109 – crescimento de 17%.

Para a delegada Darli Rafael, da Delegacia da Mulher, os índices não são negativos. “O que aumentou foi o número de mulheres que tiveram coragem de ir à delegacia registrar queixa”, acredita a delegada. “Elas estão cansadas de ser vítimas e não querem mais dar uma oportunidade ao seu companheiro para se regenerar e resolveram logo denunciar.”

Mas esse número ainda não é o suficiente. Segundo a delegada, várias mulheres ainda têm medo de registrar denúncias, muitas vezes porque sofrem pressões, até mesmo por conta da própria família, para não prosseguirem. “Embora muitas vezes elas sejam as provedoras do lar, elas silenciam e ficam suportando as agressões dentro de casa.”

Darli alerta as pessoas para que não se acomodem diante de uma situação como essa. “A partir do momento em que nós vamos nos acostumando com as coisas ruins e elas vão se tornando naturais, isto demonstra que está havendo uma decadência de valores”, ressalta a delegada.

Segundo a Delegacia da Mulher de Curitiba, todas as informações prestadas são sigilosas e os sofrimentos enfrentados pelas vítimas são respeitados. Ao fazer a denúncia, todas as providências necessárias de auxílio à mulher são tomadas para a mais breve solução das denúncias. (LS)

Serviço – Qualquer denúncia de violência contra a mulher pode ser feita na Delegacia da Mulher pelo telefone (41) 223-5323 (o atendimento é 24h) ou em qualquer distrito policial mais próximo.

Elas são 40% do mercado de trabalho paranaense

As mulheres já representam 40% do mercado de trabalho formal do Paraná. Em 1995, o índice era de 37%. Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério de Trabalho e Emprego, o Estado empregava 1.812.631 pessoas com carteira assinada em dezembro de 2002. Do total de empregados, 724.756 eram mulheres. Embora a participação feminina tenha aumentado, os indicadores divulgados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) revelam que as condições de trabalho delas ainda são desfavoráveis na maioria das vezes.

O grau de instrução das trabalhadoras paranaenses supera os índices do sexo masculino. 42,5% das mulheres têm 2.º grau completo ou incompleto, enquanto entre os homens o percentual é de 34,5%. Com nível superior completo ou incompleto, há 22,8% das mulheres e 11,5% dos homens. “Tradicionalmente, os homens começavam a trabalhar mais cedo e abandonavam os estudos, mas isso está mudando”, comenta o economista Sandro Silva, do Dieese. Ele ressalta ainda que o crescimento da presença feminina no mercado de trabalho ocorreu em virtude do baixo crescimento econômico do País. “As altas taxas de desemprego forçaram a mulher a trabalhar para complementar a renda familiar e até ser chefe de família”, cita.

Em dezembro de 2002, o salário médio das assalariadas paranaenses era de R$ 671,29 – 19% menor que a média dos rendimentos dos homens (R$ 828,72). A idade média das mulheres assalariadas é igual a dos homens: 34 anos. Porém as mulheres tendem a ter mais estabilidade no emprego. O tempo de permanência no trabalho é de 61 meses – contra 53 meses dos homens.

“Apesar do maior grau de escolaridade e do maior tempo de permanência no serviço, a diferença salarial se explica porque as mulheres não ocupam tantos cargos de gerência e direção, situação que também está mudando”, salienta Silva.

Setores

É na administração pública que se encontra o maior percentual de mulheres trabalhando no Paraná: 61,5% do total. Outro setor onde elas marcam presença expressiva é o de serviços (46%), com destaque para serviços médicos, odontológicos e veterinários (80,7%), ensino (61,5%) e hotéis e restaurantes (55,1%). No comércio estadual, 38,8% dos empregados são do sexo feminino. A proporção cai para 27% na indústria de transformação, 14,7% nos serviços industriais e de utilidade pública (Copel e Sanepar), 10,9% na agricultura, 7% na construção civil e 6,8% no extrativismo mineral.

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