Mudança de ferrovia preocupa Campo Largo

Moradores da Colônia D Pedro II, em Campo Largo, estão preocupados com a tradição polonesa seguida pelos descendentes desde que os imigrantes chegaram para desbravar aquelas terras, em 1876. Eles temem que a transferência da linha férrea que passa por Curitiba ? ligando a capital a Almirante Tamandaré e Rio Branco do Sul ? para a sua localidade atraia gente de fora e interfira nos costumes que duram mais de um século.

Parte da memória desse povo está preservada em duas casas, que foram construídas pelos próprios imigrantes e fazem parte de um museu. Os pinheiros falqueados com ajuda das poucas ferramentas da época ganharam forma de moradias. As casas eram todas encaixadas já que não havia pregos e as frestas eram tampadas com barro. Alguns moradores lembram que nasceram nelas. É o caso da mãe de Silvana Szychta, de 13 anos. “Aqui foi construído um pedaço da nossa história”, diz a menina.

Agora o museu virou ponto de encontro dos mais velhos. Às vezes se reúnem, fazem fogo no fogão à lenha e passam horas contando “causos” antigos ? todos, é claro, no melhor polonês. Mas a língua não é privilégio só dos mais velhos. Algumas crianças dominam bem os dois idiomas. É o caso da neta de 8 anos de Florentina Bilinoski, 57. “Como ela passa bastante tempo comigo, aprendeu. Só falamos assim lá em casa”, orgulha-se a avó.

No museu há ainda vários objetos rústicos de madeira, usados na agricultura e ainda utensílios domésticos. Além de imagens e livros religiosos, em polonês. Pessoas de fora podem conhecer um pouco desta história durante as festas da colônia, onde também é apresentado danças folclóricas. “Elas são criativas. Não quero que essa tradição acabe”, diz Zuliane C. Fedato.

Os colonos têm medo que as áreas ao redor da rodovia sejam invadidas e a tranqüilidade do local seja abalada. “A gente costuma deixar implementos na roça. Depois, eles poderão ser roubados”, justifica outro agricultor, Ivo Debax, 30. Outro problema é que alguns propriedades vão ser cortadas ao meio. “O lugar onde está um tanque de peixe e que o gado usa para beber água vai ficar separado do pasto”, reclama Guilherme Spaki.

Cargas tóxicas

Ele reclama também do barulho do trem e de possíveis problemas ambientais. A linha férrea deve ficar entre as represas do Passaúna e Rio Verde e um acidente com cargas tóxicas prejudicaria o abastecimento de água para Curitiba e região.

Mas o secretário de Assuntos Metropolitanos da Prefeitura de Curitiba, Fernão Accioly, esclarece que por ali não vai passar cargas nocivas ao meio ambiente. Ele diz ainda que o estudo e relatório de impacto ambiental estão sendo elaborados pelo IAP e a comunidade vai poder discutir esses problemas em uma audiência pública.

Ele também afirmou que poderá se discutir com a empresa que vai operar a linha sobre os cuidados com a segurança do local, evitando que áreas sejam ocupadas de modo irregular. A área ao longo da ferrovia que terá que ser desapropriada é de cerca de 20 metros.

O secretário lembrou ainda da necessidade de desviar o trem da zona urbana de Curitiba, já que neste trajeto ele acaba interferindo na vida de cerca de 300 mil pessoas. Seja devido os seus diversos cruzamentos ou pelo barulho.

O secretário se comprometeu que vai conversar com o prefeito de Curitiba Cássio Taniguchi, assim que ele retorne de Johanesburgo, onde participa da conferência sobre o ambiente Rio+10, para repassar a preocupação dos moradores e discutir soluções técnicas para os problemas levantados por eles. Reiterou também, que foi a própria Prefeitura de Curitiba que ajudou a levar as casa polonesas para o lugar onde está o museu, sinal de que se preocupa com a tradição dos imigrantes.

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