Na escadaria da Mesquita Al Imam Ali Eben Abi Taleb, em Curitiba, mais de 60 muçulmanos manifestaram ontem indignação contra os ataques desta semana às mesquitas de Samarra, no Iraque, e repúdio às caricaturas do profeta Muhammad (Maomé), publicadas em um jornal dinamarquês, em setembro de 2005. Mostrando ao mundo que é possível protestar em paz, a mensagem dos manifestantes era uma só: ?estamos unidos, estamos juntos. Nosso profeta é Maomé?.
Com faixas, bandeiras de luto e em voz alta, a opinião dos muçulmanos paranaenses em relação aos dois atos eram claras. As caricaturas eram caracterizadas como desrespeitosas ao islamismo, ou a qualquer outra religião, e a destruição de lugares sagrados, como a mesquita do neto do profeta Muhammad no Iraque, era condenada com veemência. Já as bandeiras pretas mostravam todo sofrimento e tristeza.
O xeque libanês Alssid Sayed comentou as ações. ?É algo feito por pessoas que ignoram a realidade do islamismo e são dirigidos por mãos externas. Tanto Maomé quanto Jesus Cristo estão isentos de pessoas que trabalham para que essas destruições aconteçam?, afirma. Sobre as caricaturas, o religioso diz não acreditar que ?um cristão verdadeiro tenha feito uma coisa dessas?. Durante a manifestação, ele ainda pediu que todos os guias religiosos se manifestem para que ?coisas como essas não aconteçam, pois essas caricaturas não atingem somente o islamismo, mas todas as religiões?.
Também presente, para prestar apoio à manifestação muçulmana, o padre católico ortodoxo de Curitiba, Eli Estephan, falou sobre união, paz e tolerância. ?Em cada religião existem os fanáticos. E o fanatismo vem da ignorância. Nossa união aqui reflete nossa tolerância um com o outro. Ele é meu irmão (apontando ao xeque), só que optou por seguir Deus através do profeta Maomé e eu sigo o mesmo Deus, por Jesus Cristo. Não há diferença?, afirma.
Mesmo estando em uma cidade sunita, os templos atacados no Iraque, eram importantes mesquitas xiitas, onde ficavam túmulos de descendentes de Maomé. Segundo o xeque Alssid Sayed, é justamente essa separação e diferença extremas entre as duas religiões, consideradas pelos fanáticos, que faz com que ataques como os da última semana aconteçam. Para muçulmanos de todo o mundo, simultaneamente, sexta-feira à tarde é dia de oração. Em Curitiba, na mesquita Ali Taleb, antes de se unirem para manifestar, sunitas e xiitas rezavam juntos, guiados por um único xeque: Alssid Sayed. Cada um, porém, a sua maneira: os sunitas com os braços cruzados e os xiitas com as mão para baixo. ?O povo brasileiro tem a bondade em acolher de braços abertos e sem distinção todas as religiões. Se todos os povos fossem como os brasileiros nisso, a clemência e a paz estariam reinando entre todas as pessoas?, sugere o xeque.