Cerca de três mil integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam ontem as praças de pedágio das estradas do Paraná. A mobilização aconteceu no Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária, que também marca o aniversário do massacre de Eldorado dos Carajás (Pará), ocorrido há 11 anos. Na ocasião, 19 sem terra foram mortos durante confronto com a polícia. Os manifestantes também pediam o assentamento de oito mil famílias no Estado e a atualização dos índices de produtividade (determinados em 1975). Os sem terra ainda protestaram contra o agronegócio e o pedágio.
Até o final da manhã de ontem, 25 das 27 praças de pedágio do Paraná haviam sido ocupadas pelo MST. Pela concessionária Caminhos do Paraná, apenas a praça de Imbituva não foi invadida. O mesmo aconteceu com a praça de Jaguariaíva, da Rodonorte.
Os integrantes do MST chegaram às 5h40 da manhã na praça de pedágio da concessionária Ecovia, em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Eles liberaram as cancelas para os motoristas que trafegavam no trecho de concessão da empresa na BR-277, entre Curitiba e o litoral do Estado. A Ecovia tirou os funcionários das cabines. Os veículos que trafegavam pela estrada, em sua maioria caminhões, não pagaram a tarifa. A concessionária registra, em média, a circulação de 350 veículos por hora em cada sentido da rodovia.
Cerca de 50 pessoas, entre elas crianças, ficaram na praça de pedágio da Ecovia, empunhando bandeiras do MST e distribuindo jornais para os motoristas. Elas pertencem a um acampamento localizado em Antonina. Alguns sem terra chegaram a trocar balas de banana por contribuições em dinheiro dadas por caminhoneiros. Os manifestantes levaram colchões, comida e um pequeno fogão para a praça de pedágio, sinalizando que poderiam ficar no local por um longo período.
A assessoria de imprensa do MST no Paraná informou que a ocupação das praças de pedágio não tinha horário para terminar. Como não precisavam pagar a tarifa, muitos motoristas de caminhões saudavam os sem terra que estavam na praça de pedágio da Ecovia. A Polícia Rodoviária Federal acompanhou de longe a movimentação no local.
José Damaceno, um dos líderes do MST no Paraná, negou que o governo estadual de Roberto Requião tenha dado algum tipo de respaldo às ocupações. O governo do PMDB trava uma batalha judicial contra as concessionárias e, em ocupações anteriores, foi acusado de omissão.
Nenhuma reintegração cumprida
Roger Pereira
A Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR) informou que as seis concessionárias paranaenses haviam entrado na Justiça com pedidos de reintegração de posse. A primeira a obter sucesso foi a Ecovia que, no início da tarde, teve liminar concedida. No final da tarde, outras quatro concessionárias já haviam conseguido liminar para a reintegração de outras 14 praças. No entanto, as ordens não foram cumpridas até a noite de ontem.
As únicas praças de pedágio desocupadas foram a de Relógio, em Prudentópolis (liberada às 13h30), e a de Laranjeiras do Sul (às 18h), ambas da concessionária Caminhos do Paraná. Nos dois casos, a desocupação ocorreu sem conflitos e sem determinação judicial. Os manifestantes saíram dos locais sem mais explicações.
A ABCR informou que só hoje fará um cálculo inicial sobre os prejuízos causados com a ocupação, após receber de cada concessionária um relatório com informações sobre o período em que o pedágio ficou liberado, o fluxo de veículos e danos materiais ocorridos durante a ocupação. Somente na praça da Ecovia, por exemplo, a estimativa era que se deixou de arrecadar mais de R$ 20 mil ontem. Até o fechamento desta edição, 23 praças continuavam ocupadas e com as cancelas abertas no Paraná. A coordenação do MST revelou que os manifestantes iam dormir nos locais e que o protesto continuaria até a tarde de hoje. Segundo o MST, as praças de Jaguariaíva e Imbituva não foram invadidas porque não há acampamentos próximos.