MST monta acampamento em rua central de Curitiba

Pela segunda vez neste ano, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam a frente do prédio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), ontem, em Curitiba. Desta vez, ao invés de tomarem apenas a escadaria e a calçada da sede, cerca de 600 sem terra levantaram acampamento, fechando toda a quadra da Rua Dr. Faivre, entre as avenidas Visconde de Guarapuava e Sete de Setembro. Os manifestantes prometem ficar no local até o final da semana.

Os trabalhadores rurais vieram de diversas regiões do estado. Por volta das 9h, os dez ônibus começaram a chegar. Ainda de manhã, os manifestantes descarregaram os materiais e já começaram a montar o acampamento. No início da tarde, de um caminhão, eles descarregaram as caixas de som, colchões e os alimentos. O estacionamento do Incra foi liberado para que os acampados utilizassem como cozinha. O instituto ainda liberou o auditório para as assembléias, água e banheiros.

Segundo a coordenadora do MST, Solange Luiza Parcianello, assentada de Paranacity, região noroeste do Paraná, logo de manhã eles tiveram um primeiro contato com o superintendente local do Incra, Celso Lisboa de Lacerda. ?Amanhã já temos audiência marcada com o superintendente. Queremos também, ainda esta semana, conseguir marcar reuniões com as secretarias de Estado, de Educação e Agricultura. A nossa idéia é ficar até o final da semana?, diz ela.

Na pauta de reivindicação, os sem terra incluíram itens nacionais e mais regionalizados. Entre os pedidos, medidas para avançar a reforma agrária no Brasil, incluindo a atualização dos índices de produtividade, a desburocratização da reforma agrária e mudanças no modelo econômico; mais terras para assentar as cerca de 8 mil famílias acampadas no Paraná; viabilização dos projetos de assentamento no estado com garantia de infra-estrutura necessária, pagando para isso R$ 8 milhões e outros R$ 12 milhões do crédito de habitação; assistência técnica; e melhorias na educação, principalmente com ampliação das escolas itinerantes (em acampamentos) e mais recursos e convênios.

De acordo com o superintendente do Incra, de manhã o encontro com o MST foi para impedir que eles tomassem o prédio do instituto, pois, segundo ele, este era o propósito. ?A pauta deles é bastante ampla e vai desde questões econômicas até mais específicas do Paraná. Todos esses assuntos já vêm sendo tratados pelo Incra, como questões cotidianas. Porém, este ano tivemos um problema de atraso da aprovação do orçamento pela União, o que atrasou todas as ações e liberações de recursos, créditos e convênios. Este é o principal motivo da reclamação?, afirma Lacerda. Ainda segundo ele, é possível que o presidente nacional do Incra, Rolf Hackbart, venha até Curitiba para debater com os manifestantes os itens nacionais da pauta.

Via Campesina ocupa fazenda pela segunda vez

Elizangela Wroniski

Na semana passada a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) fez a desocupação da fazenda Syngenta Seeds, em Santa Terezinha do Oeste. Mas ontem as cerca de 100 famílias do movimento Via Campesina retornaram ao local. Eles querem que seja construída uma escola de agroecologia e um banco de sementes crioulas, além do assentamento das famílias na área. A Syngenta vai pedir à Justiça a expedição de um novo mandado de reintegração de posse.

As famílias ocupavam a área desde março, como forma de protesto pela realização de experimentos com produtos transgênicos na fazenda. Segundo a Via Campesina, a área fica perto do Parque Nacional do Iguaçu e é considerada zona de amortecimento, não podendo cultivar produtos geneticamente modificados. Devido a isso, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) embargou os experimentos. Mas segundo a Syngenta, as atividades de pesquisa seguem as legislações vigentes e são realizadas com Certificado de Qualidade de Biossegurança, concedido pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).

A empresa conseguiu na Justiça um mandado de reintegração de posse que venceu no último dia 1.º. A retirada dos trabalhadores só não ocorreu na data porque estava chovendo. A desocupação terminou no dia 8.

Os agricultores acamparam em frente à fazenda, e ontem retornaram ao local. Eles afirmam que amanhã começam o plantio de milho. Mas se depender da Syngenta, os agricultores vão perder as sementes. Ontem, o cartorário local estava emitindo um documento que comprova que a fazenda foi ocupada novamente.

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