Foto: Aílton Santos/Jornal Hoje |
Momento do encontro entre integrantes do MST e os ruralistas. |
Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e agricultores entraram em conflito na tarde de ontem, em Cascavel, no oeste do Estado. A confusão aconteceu na BR-277, depois de cerca de 150 ruralistas promoverem um bloqueio em parte da rodovia. Os sem terra se dirigiam para a fazenda experimental da Syngenta Seeds, desapropriada pelo governo estadual, em Santa Tereza do Oeste, quando foram parados quilômetros antes do destino, em frente ao Parque de Exposições Celso Garcia Cid.
Cerca de dois mil sem terra se dirigiam para a propriedade para o encerramento da Jornada da Educação na Reforma Agrária, promovida pelo MST, em Cascavel. Quando parados, eles desceram dos ônibus para contornar o bloqueio e continuar a pé. Foi quando aconteceu o confronto. Cada um dos lados acusa o outro de ter agido com violência e ter iniciado a briga.
Um dos coordenadores do movimento na região, Keno de Oliveira, diz que na hora em que os sem terra passavam pelos tratores e caminhões parados na pista, teriam sido atingidos por pauladas e intimidados com tiros para o alto. ?O presidente da Sociedade Rural do Oeste (SRO) me agrediu pessoalmente?, acusa Oliveira. Segundo o militante, nove pessoas do movimento teriam ficado feridas sem gravidade. Ele também garante que não houve revide por parte do MST.
Já o presidente da SRO, Alessandro Meneghel, afirma que os produtores rurais não agrediram ninguém e que, ao contrário, teriam sido alvejados por pedras e pauladas. ?Estamos em 150 pessoas. Iríamos partir para cima de duas mil??, argumenta. Um ruralista teve a mão quebrada e foi encaminhado para um hospital da região.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) acompanhou a confusão. Havia 12 homens no local, que tentaram apartar a briga. Ninguém foi preso. Após o tumulto os sem terra continuaram o caminho a pé. Os produtores mantiveram o bloqueio até por volta das 16h30 com a intenção de esperar os sem terra voltarem. Agentes da Polícia Federal, porém, foram até a rodovia e dissuadiram os ruralistas a acabar com o bloqueio e deixarem o local.
Ameaça
Segundo o presidente da SRO, bloqueios como o de ontem devem acontecer novamente. ?O objetivo da manifestação é deixar claro que, a partir de agora, se o governo do estado não cumprir as reintegrações de posse ordenadas pela Justiça, nós iremos agir. Ninguém agüenta mais esse clima de terror que se instaurou na região com as invasões?, diz. Questionado de que maneira seria essa ação, Meneghel afirmou que ?se o governo não tirar os invasores, nós tiraremos?.
Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), todos os mandados de reintegração são executados. A demora em alguns deles seria causada pela logística necessária para a ação, que envolveria planejamento e o deslocamento de polícias de outras regiões.
A reportagem tentou ouvir a superintendência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no Paraná, para saber quantas propriedades na região oeste estão ocupadas atualmente, mas as pessoas que poderiam responder estavam viajando.
MPF informa que Syngenta está regular
A Syngenta Seeds anunciou ontem que o Ministério Público Federal (MPF), através da Procuradoria do Município de Cascavel, informou oficialmente que a empresa está em acordo com todos os requerimentos regulamentares e legais em sua estação de pesquisa em Cascavel. O MPF anunciou, como conseqüência, o arquivamento do inquérito civil público sobre as atividades de pesquisa da empresa.
De acordo com o documento emitido pelo MPF, o Ministério da Ciência e Tecnologia confirmou que a empresa tem todas as autorizações necessárias da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, a CTNBio, para o manuseio de organismos geneticamente modificados em sua estação de pesquisa que foi desapropriada pelo governo do estado, sem violar qualquer norma ou regulamentação referente à proteção da área do Parque Nacional do Iguaçu.
O MPF também citou que a CTNBio é o órgão que determinou sobre a legalidade do plantio de organismos geneticamente modificados na unidade de Cascavel. Segundo uma nota da empresa, a Syngenta recebeu de forma positiva esse esclarecimento que confirma sua posição original de que a pesquisa com organismos genéticamente modificados na unidade de Cascavel esteve, durante todo o tempo, com permissão legal, e que continua analisando as medidas mais adequadas ao caso.