Apesar da gravidade do fato, o envolvimento das crianças com o trabalho de reciclagem de lixo já não é foco de pesquisas há mais de dez anos. Para tentar recuperar o tempo perdido, alguns eventos pretendem propor estratégias de erradicação desse tipo de trabalho que é semelhante à escravidão.
A realidade é tão próxima que a Prefeitura de Curitiba já foi alvo de uma ação do Ministério Público do Trabalho. Durante o final de semana, cerca de trezentas pessoas se reuniram em Faxinal do Céu durante o I Encontro Estadual de Catadores de Materiais Recicláveis do Paraná.
Hoje tem início o Simpósio Internacional Estratégias para a Erradicação do Trabalho Infantil na Coleta do Lixo. Os dois eventos contaram com a participação do Ministério Público do Trabalho e podem trazer estratégias de combate ao trabalho insalubre de adultos e crianças.
Atualmente, a maior parte dos catadores de material reciclável em Curitiba recebe o carrinho de um depósito e dorme no local em que entrega o lixo. “Isso mostra que o trabalho do reciclador tem condição análoga à do escravo. Ele está preso ao depósito por dívidas de moradia e de aluguel do carrinho”, revela a promotora.
“O catador de material reciclável disputa o lixo com os caminhões da prefeitura”, revela Ezequiel Bibiano, do Centro de Apoio à Integração Comunitária da Vila Torres.
No local, cerca de 30% dos moradores vivem direta ou indiretamente da reciclagem de lixo, e pelo menos 20 depósitos recebem caminhões da prefeitura. “Isso é uma irregularidade. Precisamos pensar na elevação da condição social das famílias. O poder público deve contratar cooperativas para remunerar os catadores adequadamente”, ressalta a procuradora, que entrou com uma ação na Justiça contra a Prefeitura de Curitiba.
Crianças
O principal fator que faz uma criança se envolver com esse tipo de trabalho é o fato dos pais não terem onde deixá-las. Luciana da Silva passou por isso há dois anos.
“Eu não tinha onde deixar meu filho de um ano quando ia trabalhar, então o Conselho Tutelar tentou tirá-lo de mim. Depois de mais de um ano e meio de espera, finalmente consegui uma vaga na creche para o meu filho, que hoje já tem quatro anos”, afirma.
Para Renato Mendes, coordenador do Programa Internacional para Erradicação do Trabalho Infantil, da Organização Internacional do Trabalho no Brasil, a relação da criança com esse tipo de trabalho é inaceitável.
“Há 15 dias atrás, 80 países, dentre eles o Brasil, se comprometeram em acelerar o processo de erradicação do trabalho infantil até 2016. Torcemos para que o trabalho nos lixões seja o primeiro a ser combatido, já que compromete a educação e coloca em risco a saúde das crianças”, ressalta.