Duas semanas após a aprovação de um menino de oito anos no vestibular da Unip (Universidade Paulista), a procuradora da República Mariane Guimarães de Mello Oliveira pediu ao Ministério da Educação (MEC) que investigue, num prazo de 30 dias, o conteúdo dos processos seletivos das instituições particulares de ensino (IES) em Goiás. A procuradora desconfia que os vestibulares "faz-de-conta" dão acesso aos cursos de graduação a alunos sem preparo.
"O que todo mundo desconfiava acabou sendo confirmado pela aprovação do menino na Unip", disse a procuradora, que é especialista em Educação e Direitos do Cidadão. Mariane insiste com o MEC que sejam verificados os critérios pedagógicos, e se estes são suficientes "para preservar um padrão mínimo de qualidade do ensino", afirmou em ofício.
Segundo a procuradora, os critérios e o padrão são preconizados pela Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a chamada LDB. Na prática, porém, o que acontece no dia das provas é bem diferente.
"O João Vitor (Portellinha) não sabe o nome dos livros que estudou uma semana antes do vestibular", contou Mariane, ao recordar a entrevista que fez com o menino, aprovado no início do mês no vestibular para Direito. "Ele nada sabe de Física, Química ou Biologia e dificilmente passaria se as provas fossem da 5ª série do Ensino Fundamental em que cursa", revelou.
Segundo ela, as suspeitas sobre a qualidade dos processos seletivos não são recentes. Mas o caso se agravou ainda mais no final da semana, quando foi revelado pelo jornal "O Popular", de Goiânia, que há facilidades nos vestibulares das faculdades particulares: um repórter foi aprovado em quatro vestibulares para Direito, "sem sequer ter lido 80% das questões das provas", diz o documento do Ministério Público Federal (MPF) e a matéria do jornal, que circulou no domingo (17).
Na opinião de Mariane, as duas situações – a aprovação do menino na Universidade Paulista e nos quatro vestibulares do repórter – dão os indícios que faltavam sobre as suspeitas de "mercantilização" na prestação de serviços na área de ensino superior. Além da ausência de critérios no processo seletivo.
Segundo a procuradora, no caso específico de João Victor, que é tido como aluno "normal" na escola em que estuda, a questão ficou ainda mais grave porque o menor, com ajuda do pai, o empresário William Ribeiro, conseguiu pagar a taxa de matrícula na Unip, que já vinha sendo investigada pelo MPF. "Com certeza, o menino não é um gênio", disse a procuradora. "Para uma criança de oito anos, ele demonstrou um desenvolvimento mental normal, correspondente à idade que tem", sinalizou.