Seis dos oito policiais presos na semana passada na Operação Pontocom.pr foram denunciados ontem pelo Ministério Público à Justiça. Os delegados Hamilton Cordeiro da Paz Júnior e Roberto Fernandes, além dos investigadores Gerson Camargo, Luiz Fernando de Abreu, Getúlio Lisboa Silveira e Roger Rocha Galotti, se processados, podem responder por crime de formação de quadrilha, extorsão – quando se exige dinheiro mediante violência ou grave ameaça – e concussão – caracterizado no momento em que um funcionário público exige vantagem indevida em razão do cargo. Eles são acusados de cobrar propina para não revelar um esquema de hackers que agiam em todo o Sul do Brasil fraudando bancos pela internet.
Os adolescentes ameaçados foram presos no início do mês pela Polícia Federal através da Operação Pontocom e teriam causado um prejuízo de, pelo menos, R$ 4 milhões às instituições financeiras nos últimos dois meses. Eles são acusados de fazer transferências ilícitas para contas de laranjas em acordo com empresários que usavam seus serviços para pagar contas, boletos e efetuar compras com os recursos fraudados via internet.
A promotora no Ministério Público Estadual responsável pelas denúncias contra os delegados e investigadores, Marla de Freitas Blanchet, afirma no documento que o delegado Hamilton da Paz e os investigadores Gerson Camargo e Luiz Fernando de Abreu exigiram de um dos adolescentes da quadrilha de hackers R$ 15 mil para não prendê-lo. Eles teriam chegado ao rapaz através da denúncia de outro hacker, Syllas Hewerton Duarte de Souza, interrogado no 7.º Distrito – onde os policiais eram lotados. O jovem teria dito aos policiais sobre a quadrilha, declarando os crimes praticados e os nomes dos envolvidos. A partir daí, conforme a denúncia, começaram as perseguições ao adolescente, inclusive com campanas em frente à casa dele e ligações que insinuavam ameaças física e moral. A promotora acredita que o delegado e os dois investigadores devem responder pelos crimes de formação de quadrilha e concussão.
Sobre o delegado Roberto Fernandes e os investigadores Getúlio Vieira e Roger Galotti, todos da delegacia de Matinhos, recai a denúncia de que teriam conseguido R$ 21 mil do adolescente por meio de agressão física, mantendo também o menor preso. A exigência inicial, conforme informa a denúncia, era que o adolescente desse aos policiais R$ 50 mil. Os dois investigadores, que segundo a denúncia abordaram a vítima, disseram que não poderiam aceitar valor menor, por determinação do delegado. Avisado, o pai do jovem teria se deslocado à cidade e efetuado parte do pagamento a uma pessoa identificada como Claudio Stegues Pereira, tendo em troca a liberação do filho. O adolescente teria se deslocado dias depois à delegacia para pagar mais R$ 5 mil ao delegado Fernandes.
O delegado Hamilton da Paz, preso preventivamente quando a operação foi deflagrada, está em liberdade por força de um habeas corpus concedido pelo desembargador da 2.ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, Lídio Rotulle de Macedo. Por extensão da mesma liminar, o delegado Roberto Fernandes também foi solto. O delegado Paulo Roberto Padilha (13.º Distrito) e o investigador Carlos Pereira (1.º Distrito), que tiveram suas prisões revogadas, devem ser investigados pela Corregedoria da Polícia Civil. Os outros policiais continuam na cadeia.
Advogados defendem suspeitos
O advogado Beno Brandão, que defende o delegado Hamilton da Paz, afirma que o delegado comunicou a Polícia Federal, quando do depoimento que levou ao nome do adolescente, sobre o esquema dos hackers. "Se fosse verdade que ele estava dando dinheiro para a polícia não derrubá-lo, jamais a delegacia teria comunicado à PF", conclui o advogado, contando sobre o conteúdo da liminar que deu origem ao habeas corpus: "O delegado-chefe da Divisão Policial da Capital, Roberto Ferreira do Nascimento, deu declaração dizendo que o Hamilton o comunicou sobre a quadrilha e que ele concordou em mandar o caso para a Polícia Federal."
Edson Vieira Abdala, advogado do delegado de Matinhos Roberto Fernandes, declarou que o cliente nega as acusações, garantindo jamais ter conversado com qualquer um dos hackers. (LM)