O setor que trabalha com motos no Brasil está "sorrindo à toa". É que a produção teve um crescimento de 10% em 2004 – cerca de 1,05 milhão de unidades -, e já estima que este ano terá outros 7% de aumento – 1,1 milhão de unidades. Com esses números, a indústria de duas rodas bateu o maior recorde de vendas desde o ano de 1975, quando teve início a produção de motociclos no Brasil.
Segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas (Abraciclo), o Sul do Brasil está em terceiro lugar no número de motos em circulação no mercado, com 20,5%, ficando atrás do Sudeste, com 37,8%, e do Nordeste com 21,5%, e à frente do Norte com 9,3%. O Paraná responde por 7,8% do mercado nacional de motocicletas.
Mas não é só no Brasil que o setor vem crescendo. As exportações atingiram 14,5% da produção de 2004. Hoje os produtos brasileiros estão em 65 países. Os principais compradores são os Estados Unidos, Espanha, Argentina, França e México. Para o diretor executivo da Abraciclo, Moacyr Alberto Paes, o País conseguiu atingir esses mercados não apenas pelos preços competitivos. "A qualidade vem abrindo portas para os mercados internacionais, até porque atendem padrões internacionais de redução de poluentes", disse.
Economia
Mas o principal fator para o crescimento na procura por motos, garante Paes, está mesmo na economia, seja para a utilização no trabalho, estudo ou para o lazer. Essa economia também se estende na hora da compra e da manutenção. Conforme o diretor, as motocicletas mais consumidas são as de 150 cilindradas, que representam 91% do mercado, e possuem um custo médio de R$ 5,5 mil. "As formas de pagamento também são atraentes: 50% adquire a moto através de consórcios, e o restante paga à vista ou parcelado", comentou.
E a economia, de dinheiro e tempo, fez com que o motorista Nelson Telles optasse pela moto para ir ao trabalho. "Se utilizasse ônibus, principalmente nos finais de semana, perderia muito tempo esperando", falou. Outra grande vantagem é o custo, pois Telles admite que com um tanque de combustível consegue rodar cerca de 30 dias. "Eu moro cerca de 16 quilômetros do meu trabalho, e com R$ 30 eu encho o tanque o rodo praticamente o mês todo", disse.
Telles se encaixa bem no perfil dos consumidores avaliados pela Abraciclo. Paes disse que a grande maioria dos compradores são do sexo masculino e que utiliza o veículo para ir ao trabalho ou como instrumento de trabalho – os chamados motoboys.
Motocicletas elevam acidentes no PR
Só em Curitiba, a frota de motocicletas saltou de 51.288 unidades em 2003 para 59.304 em janeiro deste ano. E com um maior número de motos em circulação, aumentaram também os acidentes de trânsito. A constatação é do Batalhão de Policiamento de Trânsito (BPTran) de Curitiba, que confirmou que em 2004, do total de 26.507 acidentes registados na capital, 3.827 envolveram motos. Apesar de os números serem menores que 2003 – foram 4.005 acidentes com motos – o número de óbitos foi maior: 17 mortes em 2003 e 25 em 2004, um aumento de 47%. Nos dois primeiros meses de 2005, o BPtran já registrou 5 mortes envolvendo motociclistas.
Conforme o sargento responsável pela comunicação social do BPTran, Ronivaldo Brites Pires, a maioria das ocorrências envolve inexperiência e imprudência dos motoristas. "Pela facilidade, a moto passou a ser o principal veículo nas cidades, principalmente do público jovem", falou. O policial comentou ainda que os acidentes com maior gravidade ocorrem nas periferias, onde os motoristas dirigem em maior velocidade pela falta de mecanismos de fiscalização.
Gravidade
Para o professor do Setor de Tecnologia e do Departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pedro Akichino, a maior preocupação é com as conseqüências dos acidentes."Se comparado com o número total de acidentes de trânsito, as motos representam um percentual menor, mas o mais preocupante é a gravidade dessas ocorrências", afirmou. Ele acredita que o motociclista é um pedestre em alta velocidade. "O risco de morrer com moto cresce exponencialmente com a potência. Acima de 250 cilindradas, por exemplo, o risco é 13 vezes maior do que o automóvel", falou. O professor acrescentou que no Japão não são vendidas motos acima de 600 cilindradas.
Para Akichino, existem algumas indicações que fazem aumentar o perigo do uso da moto. Uma delas é a menor visibilidade frontal, que chega a ser um terço da dos automóveis. O veículo é mais sensível a freadas e possui baixa manobrabilidade, além de ser suscetível a buracos e pistas escorregadias. Em relação aos automóveis, ele destaca que as motos são pouco visíveis pelo retrovisor, e nas rodovias acabam sendo pouco percebidas durante ultrapassagens. (RO)