Inimigo Invisível

Mortes inexplicáveis no Hospital Evangélico

Dona Marina Santos Stringari tinha uma vida completamente saudável e agitada. No auge dos seus 77 anos, a idosa rodava a cidade atrás de materiais para o seu maior hobby, a bijuteria. “Ninguém acreditava no tanto de coisa que ela fazia. Ela era super independente”, diz a neta, Stephanie. No final 9 de março de 2010, Dona Marina teve crise de asma e foi levada pela família ao Hospital Evangélico, onde foi internada para controlar o problema respiratório. Os médicos decidiram mantê-la no hospital por uma noite para observar o caso.

De acordo com a família, Dona Marina estava muito bem e até insistiu para que ninguém a acompanhasse durante a noite. Foi aí que o drama da família Stringari começou. Segundo Stephanie, eles receberam um telefonema do hospital por volta das duas horas da manhã sendo avisados que a avó tinha tido um crise respiratória e o estado tinha piorado. Chegando no hospital, foi só o tempo de receber a notícia do falecimento de Dona Marina. Os médicos alegaram parada respiratória.

“Foi totalmente surpreendente e quase sem explicação. Saímos poucas horas antes e ela estava muito bem, sem problema nenhum, apenas em observação. Falaram que foi parada respiratória, mas não acreditamos nisso. Foi tão de repente que até hoje achamos que foi uma infecção hospitalar. Sempre vai ficar esse ponto de interrogação”, desabafa Stephanie.

Gravidez de risco

O caso de Rosaina Gomes dos Santos é diferente, mas a dúvida é a mesma. No dia 03 de janeiro, Rosaina entrou no trabalho de parto em uma das unidades do Mãe Curitibana e foi encaminhada também ao Hospital Evangélico. Lá chegou por volta das nove horas da manhã, mas a cesariana só foi realizada às 23h30. A gravidez de Rosaina era de risco, mas, segundo a família, a gestação foi tranquila, já que o pré-natal foi feito corretamente e todos os exames estavam em ordem.

Apesar da gravidade, o bebê nasceu saudável, porém Rosaina permaneceu internada em observação. Nos dias seguintes, o quadro da paciente foi piorando, mas segundo a família, os médicos não conseguiam diagnosticar nenhuma doença. “Ficamos sem entender nada, pois não falavam nada pra gente. Entrava e saía médico do quarto e nenhuma notícia”, diz a cabeleireira Vânia Gomes dos Santos, irmã de Rosaina.

De acordo com a família, foi realizada uma cirurgia na região abdominal para tentar descobrir o que estava acontecendo com Rosaina. Após a operação, Rosaina foi piorando, foi internada na UTI, mas faleceu no último dia 12 de janeiro. “Ninguém nos falou nada, até hoje não sabemos do que minha irmã morreu, mas acreditamos que possa ter sido uma infecção generalizada. Mas quem pode afirmar?” diz Vania.

Resposta

A assessoria de imprensa do Hospital Evangélico, que atendeu os dois casos, afirma que nenhuma reclamação por parte das famílias foi recebida na ouvidoria do hospital e que se os familiares quiserem ter acesso aos prontuários dos parentes falecidos, precisam fazê-lo por via legal, pois não se pode divulgar os prontuários abertamente por uma questão de ética, de sigilo.

No caso de Stringari, a paciente era portadora de asma grave e por muitos anos se tratava com um pneumologista do corpo clínico do Evangélico. Foi internada em caráter emergencial no dia 16/02/2010 com uma piora dos sintomas necessitando internamento em UTI em razao da gravidade do quadro. A paciente após 22 dias em tratamento no hospital foi a óbito no dia 10/03/2010. Não procede a informação da família em que diz que ela chegou no dia 09/03 e foi a óbito no dia seguinte.

Já Gomes dos Santos chegou no dia 03/01/2012 recebeu atendimento conforme protocolo médico, mas infelizmente falece,u em decorrência de complicações relacionadas a própria gestação de alto risco no dia 12/03/2012.
 
Ambas as pacientes receberam toda assistência médica, inclusive com encaminhamentos para Unidade de Terapia Intensiva- UTI devido a necessidade e gravidade do quadro clínico.

Quanto à infecção hospitalar:

Em consulta a  Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Evangélico (C.C.I.H.), o médico responsável informa que em nenhuma das causas de morte dessas pacientes estão atribuídas diretamente á infecção hospitalar.

Informa ainda, que os índices de infecção hospitalar da instituição estão compatíveis com as estatísticas dos órgãos normativos exigentes. Índices estes que são considerados baixos se confrontados com o perfil dos pacientes graves atendidos pelo hospital.

Às cegas

O drama vivido pelas famílias Stringari e Santos pode ser o mesmo de milhares de brasileiros. A dúvida se um parente morreu em decorrência de uma infecção hospitalar é comum, já que até hoje não se sabe ao certo número de pessoas que essa doença atinge em todo o país. Segundo dados da Associação Nacional de Biossegurança (Anbio), doenças adquiridas em hospitais matam em média 100 mil pessoas por ano.

Para se ter um ideia do tamanho do problema, o Brasil não há dados atualizados sobre os efeitos da infecção hospitalar. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o último estudo sobre as infecções hospitalares realizado no país aconteceu em 1995. Desde então, não se sabe ao certo os números da infecção em território nacional.