Foto: Walter Alves/O Estado

 Situada às margens do Rio Nhundiaquara, a cidade histórica recebe visitantes durante todo o ano.

continua após a publicidade

Toda a história de Morretes – cidade dos filhos ilustres e dos grandes ciclos econômicos (do ouro, da erva-mate e da cana-de-açúcar), aliada à beleza natural, faz com turistas apareçam o ano inteiro. Porém, é no final do ano, no verão, que o número de visitantes supera as expectativas. Somente para este ano, a Secretaria Municipal de Turismo espera cerca de cinco mil por final de semana. A temporada se aproxima, mas a cidade ainda precisa de "ajustes".

 "A estrutura está pronta: temos 26 restaurantes e 22 pousadas, o suficiente para atender a demanda. O que deixa a desejar ainda é a questão de trânsito: estacionamento e sinalização. Por falta de planejamento, a cidade hoje sofre e o principal problema é a arrecadação", afirma o secretário de Turismo de Morretes, Carlos Alberto Gnatta Neto. Segundo ele, a cidade tem 16 mil habitantes – apenas seis mil na área urbana. Considerando que o índice de inadimplência nos impostos é de 40%, "o município, que também não tem indústria, deve ficar buscando parcerias para investir no turismo", diz o secretário.

Os projetos que o município tem para melhorar a infra-estrutura da cidade – principalmente para alavancar o turismo na região – são muitos, mas poucos já estão em ação. Há o complexo turístico do Porto de Cima (próximo à ponte sobre o rio Nhundiaquara); o projeto de melhorias no sistema de água e esgoto, que está pronto para ser ligado; o projeto de sinalização turística – que hoje é bem precária, mas terá início apenas em janeiro de 2006; e outros, como o de uma trilha suspensa sobre o Salto dos Macacos – local de acesso complicado; e os projetos de Turismo Rural e jardineiras para cidade, que ainda dependem de recursos.

O "Caminho do Itupava", também ponto turístico de referência para a região, estava deixando de receber turistas por falta de estrutura e segurança. O local hoje já está em processo de restauração – um projeto de parcerias municipais, estaduais e privadas -, mas segundo o secretário de Cultura de Morretes, Rogério Tonetti, pelo menos a limpeza deve ser concluída até a temporada.

Problemas

continua após a publicidade

O complexo turístico de Porto de Cima são quiosques projetados para oferecer mais conforto aos veranistas, com serviços como sanitários, informações turísticas, fraldário, camping, postos das polícias Florestal e Militar e do Corpo de Bombeiros e lanchonetes, bem próximos ao rio. No entanto, as estruturas estão prontas, mas já quebradas e pichadas, e ainda fechadas e vazias. Isso porque a obra foi embargada, a pedido de uma ONG regional, por estar muito próxima às margens do rio. Por falta de opção e controle, alguns visitantes entram com o carro próximo ao rio, fazem churrasco e tomam banho, não respeitando as placas de "Água imprópria para banho" e "Proibido jogar lixo".

O saneamento do município também apresenta problemas. Segundo o gerente da unidade litorânea da Sanepar, Denílson Belão, Morretes se prepara para passar de 384 ligações – hoje apenas 12,4% da população é atendida com rede de esgoto – para 1,9 mil, o que significa atendimento de 55,57% do município. A antiga estação de tratamento será substituída por outra com maior capacidade: de seis litros por segundo passará a 30. Todas essas readequações da rede de coleta e tratamento do esgoto local – que, direta ou indiretamente acaba caindo no rio Nhundiaquara, segundo o gerente da companhia -, foram iniciadas em 2002. Porém, apesar do investimento total de R$ 72 milhões, as obras, que ele afirma estar prontas, só serão entregues no primeiro semestre de 2006. "O esgoto gera um transtorno fenomenal, mas com esse salto fica mais tranqüilo para se investir em turismo", comenta Belão.

continua após a publicidade

Empresários apontam os problemas

Quem depende dos turistas parece não estar contente com tantos detalhes a serem reparados, em tão pouco tempo. Gerente de um grande restaurante, o empresário Airton Silvério ouve muitas reclamações dos turistas. "Falta muita coisa: falta divulgação por parte dos órgãos oficiais de turismo, isso inclui placas e sinalizações; falta mais receptividade com o turismo aqui na região, ou seja, falta investir mais na recepção dos turistas, eles não têm motivos para ficar mais que um dia. À noite, aqui, não tem nada para fazer; falta qualificação de guias de turismo e mais informação e esclarecimentos aos turistas que aqui chegam. Enfim da infra-estrutura da cidade ainda falta muita coisa", aponta Silvério.

Uma última reclamação de Silvério é em relação ao patrimônio histórico do município, que está abandonado. De acordo com a diretora-geral de Cultura de Morretes, Laurice de Bona, o jornalista e historiador Rocha Pombo é um dos filhos ilustres do município. Hoje sua história seria preservada no Casarão Rocha Pombo, um dos pontos a ser visitado no centro histórico de Morretes. No entanto, não se preserva essa memória. "O Casarão fica aqui ao lado e está há mais de três anos abandonado. É um descaso muito grande, mas quem deve cuidar disso?", questiona Silvério, que mora há 12 anos em Morretes.

Os proprietários de outro restaurante, Silvana e Maurício dos Santos, têm ainda outra reclamação: "O efetivo da PM é muito pequeno para o fluxo de turistas que visita Morretes. Não é suficiente para se sentirem seguros", afirmam. De acordo com a Polícia Militar da cidade, o efetivo é de 25 policiais, duas viaturas e duas motos. Eles admitem. "Pelo fluxo de pessoas que passa por aqui, o efetivo é um pouco restrito. A necessidade seria um efetivo maior para trabalhar na prevenção", reconhece o sargento Jaime da Conceição. No entanto, ele completa que as ocorrências locais não são das mais "pesadas". As principais são: perturbação do sossego e embriaguez.

Segurança do boiacross será melhorada

Apesar dos problemas e dos investimentos serem escassos, Morretes terá novidades para impulsionar o turismo local. Algumas começam já a partir deste verão. Uma delas é a melhoria na segurança do "boiacross", prática que atrai muitos visitantes ao rio Nhundiaquara, mas que há anos vinha se apresentando muito perigosa e descuidada.

"Já a partir de meados deste mês estamos regularizando o boiacross e melhorando a segurança. Agora, ao alugar uma bóia, será obrigatório a oferta do capacete e do colete. Trata-se de colocar na prática uma lei que já existia, mas não era cumprida e, portanto, todos os problemas eram causados", afirma o secretário de turismo Carlos Neto. Segundo ele, equipes do Corpo de Bombeiros farão plantões permanentes no local, para garantir a segurança.

Além do boiacross, serão incentivados outros esportes "radicais" em Morretes, impulsionando o turismo de aventura e o ecoturismo: montanhismo; cicloturismo – um roteiro de mountainbike, passando por sete localidades rurais da região, num percurso de 36 quilômetros; rapel, rafting; cascating e boating; todos com profissionais preparados para atender, segundo Neto.