Morreu na manhã desta terça-feira (8) em Curitiba, aos 83 anos, João Féder. Advogado, jornalista, radialista, professor e escritor, o nome de João Féder marcou de forma indelével a história do jornalismo no Paraná. Ele foi o criador do jornal Tribuna do Paraná, em 17 de outubro de 1956. Nascido em Campo Largo, Féder era diretor do jornal O Estado do Paraná quando recebeu a missão de criar um jornal vespertino voltado para os trabalhadores de Curitiba e região.
A aparência franzina escondia um homem valente disposto a aceitar desafios. Ele costumava dizer que “nas páginas da Tribuna, mais vale um sapo morto na Praça Tiradentes que um soldado derrubado na Guerra da Coreia”, definindo desde a criação o DNA do jornal, com foco no noticiário local.
Depois que a Tribuna cresceu e apareceu, João Féder foi se dedicar a outra paixão da sua vida, o direito. Formado pela Universidade Federal do Paraná, se tornou conselheiro do Tribunal de Contas do Paraná por 33 anos, quando realizou palestras e conferências em todos os Estados da Federação, à exceção do Acre, e presidente do Tribunal em 1969, 1980 e 1981, corregedor geral (1971, 1974 e 1976) e vice-presidente (1968, 1070, 1972, 1977, 1978, 1979, 1983, 1984, 1988, 1996, 1997, 1998 e 1999). E diretor da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil, de 1992 a 1997.
Paralelamente, se dedicou ao ensino como professor do curso de Comunicação Social da PUC-PR (cadeira de Radiojornalismo) e professor da cadeira de “Ética e Legislação de Imprensa” do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Paraná (UFPR) por mais de 30 anos. Mesmo lecionando sobre um assunto espinhoso, como ética e legislação, João Féder conseguia conquistar o interesse dos alunos. Prova disso é que foi paraninfo, patrono e nome de turma de inúmeras formaturas da Universidade Federal do Paraná.
Como jurista, recebeu diversas condecorações, títulos e diplomas como a Comenda e Medalha Ercílio Domingues (TCE-RS), Colar do Mérito José Maria Alkmin (TCE-MG), Medalha Comemorativa do Centenário de Nascimento de Rui Barbosa (Ministério da Cultura e Fundação Casda de Rui Barbosa), Prêmio Cultura e Divulgação da Câmara Municipal de Curitiba, Diploma do Mérito Municipalista Ernesto Geisel (Associação das Câmaras Municipais do Paraná), Personalidade do Ano (homenagem no Congresso Brasileiro de Direito Administrativo, 1977) e Colar do Mérito Miguel Seabra Fagundes da Associação do Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricom).
Palanque no banhado
Aposentado, o inquieto João Féder retornou as atividades de origem e voltou a dedilhar artigos em O Estado do Paraná. Chegava na antiga sede das Mercês com um Camaro branco, vistoso. Carro de playboy, mesmo. Tinha que usar uma almofada no banco para conseguir enxergar além do capô, que abrigava um motor nervoso. Mesmo com o carrão e o terno impecável, era homem de hábitos simples, sempre sorridente. Quando alguém perguntava a ele “firme, Seu João”? Ele logo respondia: “firme como palanque no banhado”! Na despedida da redação das Mercês, em setembro deste ano, lá esteve o baluarte olhando pela última vez o prédio que ele inaugurou 34 anos atrás.
Em junho de 2007 quando encerrou de vez suas lides jornalísticas escreveu um artigo. O estilo elegante de sempre, pontua paixão pelo trabalho: “Esse adeus, paradoxalmente, não é propriamente o adeus da despedida final, mas o adeus de um jornal que foi por longos anos minha segunda casa, empresa à qual dediquei muito do meu sangue e, no jornalismo do passado, até algumas noites indormidas.”
Neste processo, Féder aceitou ideias, mas obstinado não abriu mão do nome: “O que estou, contudo, querendo dizer é que estou me despedindo de uma empresa que dividiu meu coração, que me ofereceu a oportunidade de ganhar algum respeito em nossa imprensa, depois de nela batalhar por algum,as décadas, através da qual mantive uma ligação relevante com a sociedade e que me permitiu criar o jornal que sempre imaginei, um jornal para a cidade de Curitiba, para o qual, como disse na primeira reunião com os redatores, seria de maior importância um mendigo esfomeado na Praça Tiradentes do que um acidente de avião na Indonésia. E, lembro-me ainda que briguei pelo título. Mas não sei impulsionado por qual sentimento, encasquetei com Tribuna do Paraná.”
Entre os diversos cargos que ocupou estão o de diretor dos jornais O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná, diretor da TV Iguaçu (Canal 4, de Curitiba), diretor da TV Tibagi (Canal 11, de Apucarana), diretor para o Paraná da Fundação Cásper Líbero. O sepultamento começou às 17h desta terça-feira (08).