Em 2004 os estudantes do turno matutino da Escola Estadual Rosa Frederica Johnson, situada à Rua João Antunes de Lara, 47, bairro Cachoeira, Almirante Tamandaré, orientados pelo professor de História, realizaram várias pesquisas no bairro. A proposta deste artigo é apresentar os problemas sociais por eles levantados.
Aline Cristine Silva Tescka, 6.ª A, conversou com Candinha da Silva Almeida, 69 anos, residente há 33 anos no Cachoeira. Ela disse que antigamente era um sossego, embora não tivesse conforto, mas era bom morar no bairro. ?Hoje, o que adianta ter conforto e não ter sossego? Em minha casa ladrões já entraram quatro vezes?.
Não só dona Candinha reclamou do desconforto, mas também Olga Wagner (foto), que dialogou com os alunos da 7.ª A. Ela comentou que no passado era mais rápido arrumar serviço do que agora. Não se escolhia o serviço, o que viesse estava bom. ?As pessoas não eram tão agitadas, eram mais calmas. Não tinha tanta violência, tantas mortes. Antes era difícil ver pessoas que falassem de drogas, era mais nos bailes e no centro de Curitiba que isso ocorria?.
Já o depoimento de Marciana Wagner é um alerta sobre os malefícios das drogas: ?Eu tenho muita fé em Deus. Tive um filho e uma filha. Ele era bêbado e viciado em drogas. Ela saiu de casa para viver com o namorado. Minha vida não era fácil. Um certo dia ela voltou para casa e o meu filho morreu?.
Embora ocorram desencontros na história de muitas famílias, existe um programa de recuperação de adolescentes viciados em drogas, conforme explicita a matéria do jornal O Estado do Paraná (1.º de agosto de 2004):
?Crianças e adolescentes entre 12 e 18 anos, que foram viciadas em drogas ou condenadas pela Justiça em Almirante Tamandaré, têm auxílio especial. São encaminhados para o Programa de Atendimento ao Adolescente (PAA). Cerca de 30 crianças estão sendo atendidas atualmente no local. Todo o atendimento segue os princípios do Estatuto da Criança e Adolescente?.
No Posto de Saúde do bairro também existe a tentativa de conscientização dos problemas relacionados às drogas. Os estudantes Thiago C. dos Santos, Marielle T. Magni, Welinton dos Santos, Rafael de Castro Costa e Francielle de Paula, 7.ª A, estiveram lá e coletaram um verso antidrogas que estava exposto na parede:
?Se você usa drogas.
o problema é seu.
Se você quer parar,
o problema é nosso.?
Conforme Alci Fonseca Romero, diretor da Escola Estadual Rosa Frederica Johnson, a comunidade é carente e esquecida pelos governantes do município. Faltam opções de lazer para adolescentes e jovens. ?Muitos deles ficam nas ruas e acabam se envolvendo com drogas e crimes. No jardim Monte Santo foi construída uma quadra de esportes, há mais ou menos cinco anos, um espaço muito bom para os jovens e adolescentes daquela região, mas infelizmente foi abandonada pela administração do município e, em conseqüência, foi depredada e destruída. Hoje só existem alguns sinais do que era aquela quadra, e virou refúgio de viciados em drogas?.
Romero (foto), apontou também problemas na escola: ?Infelizmente tivemos alguns arrombamentos, principalmente nos finais de semana, com retirada de equipamentos. Tomamos alguns cuidados: estamos com sistema de alarme, uma empresa monitora a escola, os professores e funcionários contribuem com doações mensais para pagar a empresa de monitoramento, pois o Estado não se responsabiliza com esta despesa?.
Mauricio Ribeiro, entrevistado pelos estudantes da 8.ª A, reforça com mais informações sobre escolas e fala da experiência com a neta: ?Eu sempre escuto dos meus filhos e netos que as escolas estão destruídas pelos alunos bagunceiros e que os mercados estão falidos de tanto ser assaltados. Ruas esburacadas, falta esgoto e água encanada e os postos estão sem atendimento. Já assaltaram meu filho e tentaram estuprar minha netinha de 12 anos de idade?.
Residente no bairro há 30 anos, Jacira Dirshimbel (foto) disse que está cansada de ouvir a mesma conversa dos políticos. Na época de eleição prometem que farão isso e aquilo, mas não acontece nada. Dirshimbel lembra que quando veio morar no bairro tinha aproximadamente quinze anos. ?Não tinha bagunça nem violência, não havia assaltos, não aconteciam mortes, tudo era calmo. Mas de uns tempos para cá o bairro foi decaindo, pois a violência, o tráfico, os assaltos e as mortes foram crescendo?.
P.S. Embora a pesquisa tenha ocorrido em 2004, a situação do bairro Cachoeira continua caótica. Mas parece que existe esperança. Aos 15 de julho de 2005, Alci Romero explicitou: ?Há por parte da administração atual uma abertura maior quanto ao recebimento de sugestões e também quanto à realização de benfeitorias no município. Constatei numa conversa com o prefeito Vilson Goinski o interesse em minimizar a situação caótica em que se encontra o município. Com relação à quadra que mencionei no ano passado, a sua estrutura ainda existe (piso, cobertura), mas continua sem a devida manutenção para que alcance o objetivo pela qual foi construída, o que é uma pena?.
Jorge Antonio de Queiroz e Silva é pesquisador, historiador, professor. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná. queirozhistoria@terra.com.br
