Moradores reclamam de juros de financiamento

Os moradores do loteamento Jardim Raksa, no bairro do Pinheirinho, zona sul de Curitiba, estão revoltados. Eles reclamam que os juros cobrados pela Imobiliária São Paulo, de Araucária, são abusivos e prometem entrar com ação coletiva contra o estabelecimento através da Associação dos Adquirentes de Imóveis Financiados (Assaif).

O relações públicas Antônio Machado, de 30 anos, é um dos que se sentem lesados. Ele conta que comprou um lote de 448 metros quadrados em sociedade com o cunhado, há quase quatro anos, pelo valor de R$ 21,9 mil. Pagou R$ 3 mil de entrada e financiou o restante em 144 parcelas. No contrato, segundo Machado, consta que seriam pagas parcelas de R$ 248,24, que resultariam em saldo devedor de R$ 35.746,56. “Fui à imobiliária, tirei o extrato e vi que ainda devo R$ 35.073,00 ? ou seja, já paguei R$ 14.861,00 e é como se eu não tivesse pago nada?”, questiona. Para ele, há má-fé da imobiliária, já que, segundo Machado, no extrato consta que não foi paga a entrada. “Onde foram parar os R$ 3 mil?”, indaga.

O supervisor de vigilância Dirceu Ribonska Marchaki, que está desempregado há seis meses, também contesta os juros do financiamento. No caso dele, seu lote foi avaliado em R$ 44 mil. Já foram pagos R$ 17 mil em quatro anos, mas ainda restam R$ 45 mil de saldo devedor. “Aqui ninguém vai conseguir terminar de pagar. A imobiliária falou que subiria conforme a poupança, mas está aumentando muito mais.”

Ação

O presidente da Associação, Andrés Manuel Carrillo y Acosta, explica que a ação deve ser fundamentada em dois itens específicos – o primeiro de que a cobrança de juros de 1% ao mês extrapolaria o que diz a Constituição Federal, e o segundo de que os juros devem ser cobrados de forma simples, conforme súmula 121 do Supremo Tribunal Federal (STF). “A taxa de juros deveria ser de 0,62% ao mês. Além disso, defendemos e sugerimos que a prestação decline mês a mês até o saldo devedor zerar.”

As irregularidades, no entanto, não terminam aí. Segundo Andrés, o comprador é induzido ao erro ao comprar o lote. “Os bancos também agem de forma abusiva, mas não escondem as informações. A gente tem condições de analisar, criticar e até impugnar, mas no caso do contrato da imobiliária, não.”

Imobiliária

O sócio-proprietário da Imobiliária São Paulo, Renato Ferreira Monteiro, nega a existência de irregularidades, incluindo a cobrança abusiva de juros. “Ficamos preocupados com a situação e entramos em contato com um economista que refez as contas, obedecendo todos os métodos da matemática. Ficou comprovado que não há capitalização dos juros e que não há nada de ilegal”, defende-se. Segundo ele, o que existe é desinformação por parte das pessoas. “Os procedimentos da matemática financeira são difíceis de entender. No caso do cálculo de juros, tivemos todo o cuidado para nos certificarmos de que estão corretos.” Segundo ele, o juro cobrado é de 1% ao mês mais correção anual do Índice Geral de Preços de Mercado (IGPM). “O saldo devedor não é o valor real, porque se a pessoa quiser quitar o imóvel desembutimos os juros”, explica. “Em 24 anos de mercado, nunca tivemos qualquer problema, tudo a gente tenta resolver. A ação nos causa estranheza.”

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