Há 32 anos, Elizabethe Dobis Chmyz, moradora do Alto da XV, em Curitiba, convive diariamente com os barulhos e incômodos gerados pelos trens que passam ao lado de sua casa. Segundo ela e vizinhos da região, não existe horário para o transporte de cargas. As buzinas são intermitentes e não respeitam a tranquilidade da população.

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De acordo com Elizabethe, em certos horários o trem toca durante um minuto sem parar na altura do cruzamento da Rua Padre Germano Mayer com a Rua Reinaldino de Quadros, no Alto da XV. “É um abuso. Alguns maquinistas são irresponsáveis e, ao invés de buzinar toques curtos ao se aproximarem dos cruzamentos, dão apenas uma pausa durante um toque longo. Isso nos atrapalha muito”, diz.

Para a empresária Zuleide de Lima, que também mora próximo ao trilho do trem, os problemas são os mesmos. “O trem não tem horário. Passa de manhã, tarde, noite e madrugada. Já perdi a conta de quantas vezes acordei de madrugada assustada com o barulho e tremedeira gerados pela passagem do trem”, afirma a moradora do Barreirinha. Para ela, “é totalmente arcaico um trem desse porte cortar a cidade dia e noite”, ressalta. “O risco gerado é muito grande. Constantemente vemos acidentes e engarrafamentos gerados pela passagem do trem”, completa a moradora Valéria Imoski.

Uma solução para o problema enfrentado pelos curitibanos é a efetivação do contorno ferroviário, obra que ainda está no papel. Em março do ano passado, a prefeitura de Curitiba, através do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) e em parceria com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), apresentou a arquitetos e engenheiros da cidade a opção final para o novo contorno ferroviário. Desde então, porém, nada mais foi feito.

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Segundo Clever Almeida, presidente do Ippuc, a continuidade do projeto depende de um Estudo de Viabilidade Técnico, Econômico e Ambiental (EVTEA). “Esse estudo é base para sabermos, por exemplo, as alternativas existentes com a retirada da linha que atualmente passa por Curitiba”, explica. Com base nessas propostas, será possível escolher o melhor trajeto para os ramais oeste e leste. “Com isso poderemos decidir qual será a melhor opção para esses ramais, levando em consideração os aspectos econômicos, logísticos e ambientais”, diz o presidente.

Em nota, o Dnit informou que está em fase final a elaboração do termo de referência do edital de licitação para a realização do estudo de viabilidade do traçado oeste. O atraso na elaboração, segundo o Dnit, aconteceu pela necessidade de avaliação dos parâmetros ambientais.

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Quanto aos prazos, Almeida afirma que ainda é difícil fazer um prognóstico. “Dependemos das alternativas para a obra. Esperamos ter isso até 2011, para então começar a elaborar o projeto de execução da obra”, adianta.

Defesa do uso das ferrovias

Para o engenheiro civil Paulo Sidney Carreiro Ferraz, diretor do Sindicato dos Engenheiros do Paraná (Senge/PR), que também esteve envolvido no processo de 2009, o problema dos trens não atinge apenas Curitiba. “A primeira questão é que o Paraná tem muita dificuldade para implementar qualquer projeto ferroviário. Parece que as forças dos outros modais em funcionamentos são muito mais fortes”, opina.

Segundo ele, o crescimento das linhas férreas só traria benefícios, uma vez que seu custo é, em média, 30% menor. “Baixando o preço da logística, reduz o custo dos produtos internos, o que facilita a exportação”, avalia. O investimento em ferrovias poderia beneficiar também a situação das estradas brasileiras. “O trem tira o caminhão da estrada, o que diminui a poluição, reduz acidentes e causa menos degradação nas rodovias”, diz.

No caso de Curitiba, o contorno deve ser muito bem planejado antes de qualquer ação. “,Não podemos pensar a curto prazo. O contorno deve ser bem definido para que não tenhamos que enfrentar os mesmos problemas em poucos anos”, ressalta Ferraz.

Solução

Para o especialista, mesmo com a construção do contorno ferroviário em Curitiba, não deve-se abandonar a linha já existente, uma vez que ela já está pronta para utilização do chamado VLT (Veículo Leve Sobre Trilho). “Existem tecnologias que reduzem os ruídos do VLT, um veículo capaz de substituir ônibus. Trata-se de um modal compactado e que pode ser uma solução para o transporte de passageiros em Curitiba”, opina. (LC)

ALL contesta problema do barulho da buzina

Com relação ao barulho gerado pelas buzinas, a América Latina Logística do Brasil S/A (ALL), empresa responsável pela ferrovia, afirma que os maquinistas seguem uma determinação de segurança. Em nota, a empresa disse que no Brasil, segundo o Regulamento Geral de Operação Ferroviária, deve-se tocar buzina da locomotiva antes de iniciar a movimentação, ao se aproximar de túneis, viadutos ou de uma passagem de nível. A buzina também deve ser tocada com suficiente antecedência para que produza o efeito de advertência desejado pelo menos 200 metros antes de chegar a um cruzamento. Segundo a ALL, o apito também deve ser utilizado quando as condições climáticas afetam a visibilidade ou quando existem vidas em risco.

Sobre os horários de passagem dos trens, a empresa disse que os modais não circulam entre a meia-noite e 5h da manhã. Isso faz, segundo ao ALL, parte de um acordo estabelecido com a comunidade. A empresa garantiu que não existe circulação fora desse horário, a não ser em casos de emergência.
Expectativa

Sobre o contorno ferroviário de Curitiba, a ALL afirma que a expectativa é grande, uma vez que a obra possibilitará maior produtividade e a redução dos riscos de acidentes. (LC)