Representantes de movimentos sociais – constituídos na Frente de Luta pelo Direito à Cidade e Contra os Despejos Forçados – e cerca de 150 moradores de áreas irregulares realizaram ontem, em frente à Prefeitura de Curitiba, um ato público contra os despejos forçados na capital e região metropolitana. Em seguida, mesmo após uma resistência inicial das autoridades, as lideranças foram recebidas pelo secretário de governo, Maurício Ferrante. Na reunião, ficou determinado um novo encontro na semana que vem, com administradores da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab) e representantes do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), além de entre os dias 12 e 17, uma audiência direta com o prefeito Beto Richa.
Segundo Melayne Macedo, da Central de Movimentos Populares (CMP), Curitiba enfrenta um sério problema de despejos. "A prática comum, geralmente a mando da Prefeitura, é a polícia entrar de madrugada e destruir as casas".
Hoje, ainda de acordo com a representante da CMP, o déficit local é de 63 mil casas para relocação, mas são previstos no plano diretor apenas duas mil unidades. "O que seria uma gota no mar da necessidade", afirma. Nas últimas gestões, apenas 0,2% do orçamento da Prefeitura foi destinado à habitação.
Segundo Melayne, são principalmente três as áreas ameaçadas de despejos: Tatuquara, Jardim Bela Vista e Jardim da Ordem. Algumas das áreas em processo de relocação, mas que também sofreram despejos, seriam o Sambaqui, Vila Audi e Almirante Tamandaré. "Nessas áreas o pessoal foi relocado, mas ainda não está regularizado", afirma.
De acordo com Hilma Santos, representante do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), na Grande Curitiba há atualmente 800 áreas de ocupações irregulares, o que representa a imensa necessidade de moradia.
Diante da realidade, os manifestantes pediam um basta aos despejos forçados, com a efetivação de uma comissão contra a prática, além de mais investimento em moradia.
Judicial
Em relação aos despejos forçados, o diretor-presidente da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab), Valdemir Manoel Soares, afirma que não são impulsionados pelos órgãos municipais, mas partem de decisões judiciais. "Muitas vezes são os proprietários das áreas que se mantêm irredutíveis e cobram a ação da Justiça".
Soares admite que as regiões do Tatuquara e Jardim da Ordem estão iminentes ao despejo, e afirma ainda que existem 37 mil pessoas na fila e cerca de 240 áreas irregulares apenas na capital. Até agora foram 350 relocações, nas quais famílias em área de risco foram levadas aos loteamentos da Cohab. "Não temos condições de fazer atendimentos a todas essas situações", afirma Soares.