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Moradores do Tingui não aguentam mais promessas

Há 18 anos, quando se mudou para o bairro Tingui, na região norte de Curitiba, o mecânico Jorge Charles já ouvia promessas de canalização do Rio Bacacheri-Mirim, que passa bem em frente à sua casa. Hoje, aos 69 anos, já aposentado, ele continua à espera de uma solução para as enchentes e a erosão que ameaçam residências e ruas da vizinhança.

Seu Jorge mora na Rua Diógenes do Brasil Lobato, via que segue paralela ao rio por cerca de um quilômetro. “Quando comprei este terreno, o antigo proprietário falou que iriam canalizar no ano seguinte. Até hoje estou esperando. Mas ele não tem culpa. Foi iludido, assim como eu”, lamenta o morador, que tem que trabalhar constantemente para evitar que parte de sua propriedade seja engolida pela água.

Gerson Klaina
Luiz Henrique: como vou investir, se na próxima chuva tudo pode desabar?

“A gente tem que estar constantemente arrumando o acesso. Já comprei até uma carreta para carregar entulho para escorar o barranco. Aqui não é invasão. Comprei o terreno, tenho todos os documentos, pago o IPTU… Já cansei de ouvir promessas e de pedir para a prefeitura uma atitude para resolver essa situação, que é de emergência”, ressalta Jorge.

A luta de seu Jorge é a mesma de centenas de outros vizinhos, que vivem nas margens do Bacacheri-Mirim. No Tingui, o assunto é considerado tão sério que motivou a reabertura da associação de moradores, em 2011. “A prefeitura sempre dá uma desculpa diferente para não executar a obra”, diz Alex Sandro Ribeiro de Pontes, presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Tingui (Amat).

Gerson Klaina
Jorge, morador da região há 18 anos: até hoje estou esperando.

Segundo Alex, a administração municipal alega falta de licença ambiental para a canalização. “Dizem que é um procedimento que não se realiza mais. Mas no final do ano passado, fizeram a canalização de um trecho de uns 300 metros. Se ali não houve esse problema, por que não podem fazer os 600 metros que faltam e completar o serviço?”, questiona.

A poucos metros dali, na Rua José Gildo Beleski, as enchentes também preocupam os moradores. Depois de ter sua casa invadida pela água, em março de 2011, o técnico em telecomunicações Rudimar Thomazi decidiu agir por conta própria. “Fiz um dique e instalei uma válvula de retenção. Aqui temos que fazer tudo por conta. Até o roçado do mato sou eu que faço. Se não, vira uma selva de jacarés”, afirma.

Gerson Klaina
Rudimar: fazemostudo por conta.

Risco constante

Proprietário de um pet shop na Rua Edmundo Alberto Mercer, o empresário Luiz Henrique Chaves Martins diz que já participou de várias audiências públicas e está sempre em contato com a prefeitura solicitando providências. “Desde que estou aqui, há oito anos, tenho ido direto, mas sempre escuto uma evasiva. Enquanto isso, está tudo caindo”, reclama. Luiz diz que a situa&ccedil,;ão impede o desenvolvimento do bairro. “Eu quero expandir o negócio, aumentar a loja, abrir uma clínica… Mas como vou investir, se na próxima chuva tudo pode desabar?”, indaga.

O Bacacheri-Mirim é um dos afluentes do Rio Bacacheri, que compõe uma das principais bacias hidrográficas da cidade. O Paraná Online perguntou à Secretaria Municipal de Obras Públicas (Smop) se existe projeto de canalização do rio ou de alguma obra para evitar enchentes na região, mas não obteve resposta até o início da noite de ontem.

Gerson Klaina
Alex: sempre uma desculpa diferente.
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