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Moradores de Morretes se dizem esquecidos

Há exatos dois anos, o município de Morretes viveu a maior tragédia de sua história. No início de março de 2011, a região foi devastada pelas fortes chuvas que causaram deslizamentos de terra, alagamentos e enxurradas.  Em toda a cidade, mais de 15 mil pessoas foram atingidas pelas águas. Cerca de 8 mil ficaram desalojadas. Quatro pessoas morreram. Além de Morretes, as chuvas também devastaram os municípios de Antonina, Paranaguá e Guaratuba.

Na época, o governo estadual anunciou a liberação de R$ 8,8 milhões para Morretes. Esses recursos forma aplicados na recuperação de moradias, de estradas rurais, pontes e vias urbanas. Além disso, no final do ano passado o governo do Paraná também anunciou a construção de 52 novas casas, que se juntarão às 33 que já estão prontas. Apesar dessa ajuda, os moradores das localidades mais afastadas de Morretes ainda se sentem esquecidos.

Gerson Klaina
À base de antidepressivos, Júlio ainda trabalha para cobrir o prejuízo e tentar se reerguer.

A região da Floresta foi uma das mais afetadas pelas chuvas de 2011. No local ainda é possível encontrar as marcas das tragédias. As famílias que moram na localidade ainda sofrem para retornar à normalidade. O agricultor Júlio Raineth Júnior vive e trabalha na localidade há mais de 40 anos. Produtor de hortifrutigranjeiros, ele perdeu tudo na enxurrada de dois anos atrás. ‘Não sobrou nada. Só voltei a plantar depois de um ano e ainda estamos trabalhando para poder cobrir o prejuízo e tentando se reerguer‘, relata.

Segundo o agricultor, mesmo dois anos após a tragédia, os moradores e produtores da região de Floresta sentem falta de apoio por parte do governo. ‘Para não dizer que não fizeram nada, limparam toda a área, a estrada e voltaram com a luz. Isso logo depois das chuvas. Depois, mais nada aconteceu. Não recebemos nenhum tipo de ajuda. Tem gente aí que perdeu tudo e está reconstruindo com o próprio esforço. Nada de apoio financeiro ou social‘, desabafa o agricultor.

De acordo com o morador, os produtores da região ainda sofrem com a falta de crédito para retomar a produção. ‘Como não sabemos o que vai acontecer com as nossas terras, por se tratar de área de risco, ouvimos não por parte dos bancos quando pedimos crédito agrícola. Além disso, precisamos de pequenas coisas, como a ajuda de máquinas da prefeitura para tratar, outros precisam de auxílio-aluguel. São coisas pequenas, mas nada acontece‘, diz.

Gerson Klaina
Marcas da catástrofe ainda estão por toda parte.

‘Eu, sinceramente, estou perdendo a vontade de trabalhar por causa dessa situação. Além de termos perdido tudo, ainda continuamos sofrendo com o descaso. Desanima demais. Estou tomando antidepressivos para conseguir dormir e seguir com minha vida‘, completa o agricultor.

Prejuízo incalculável

O agricultor José Pio mora na região da Floresta há mais de 30 anos. Há dois anos, Seu José estava prestes a colher 3 mil pés de pupunha quando a enxurrada destruiu por completo a produção. Até hoje, o produtor não consegue calcular o prejuízo causado pela enchente. ‘A devastação ainda faz parte da nossa vida. É só olhar pro lado e ver as árvores mortas, o mato tomando conta da terra, pedras. Perdi tudo. A casa, minha pr,odução. Agora é tocar a vida‘, conta.

Gerson Klaina
Seu José muito prejuízo.

Seu José também reclama da falta de ajuda por parte das autoridades e agora quer voltar à vida normal plantando milho e feijão. ‘Ainda estamos tentando recomeçar. Vamos sobrevivendo, mas podíamos ter mais apoio por parte da prefeitura ou do governo. Recebemos ajuda nos primeiros meses, mas agora que precisamos de mais para recomeçar, estamos aqui esquecidos. Mas vamos levando”, desabafa.

Prefeitura estuda situação

De acordo com Claudia Peluso, secretária de Ação Social de Morretes, a atual administração está apurando minuciosamente a situação das famílias da localidade de Floresta que ainda sofrem as consequências das fortes chuvas de 2011. ‘Ainda estamos na fase de conhecer mais profundamente a atual cenário. Na semana passada retiramos do abrigo as duas últimas famílias que ainda estavam sem suas casas. Então, ainda estamos apurando o que ainda precisa ser feito‘, disse.

Segundo a secretária, 33 das 52 casas previstas para serem construídas e atender os moradores que perderam tudo na tragédia já foram entregues pela Cohapar. ‘Agora estamos analisando caso a caso para decidir quem realmente terá que vir morar nessas casas e quem poderá permanecer na área atingida, que é uma área de risco‘, afirma.

Gerson Klaina
Dois anos depois da maior tragédia da história do município, moradores das localidades mais afastadas se dizem desamparados pelo governo.