Missa animada reúne milhares de pessoas

Milhares de fiéis acompanharam a Missa de Finados celebrada ontem, em Curitiba, pelo arcebispo dom Moacyr Vitti e animada pelo padre Reginaldo Manzotti. Durante a celebração, os católicos substituíram a tristeza pela morte de entes queridos, pela alegria transmitida através das palavras de fé na vida eterna. A estimativa era de que 30 mil pessoas participaram da cerimônia.

A celebração foi em frente ao Cemitério Municipal do Água Verde e começou às 15h. Por volta das 14h, o trânsito já estava complicado e aos poucos as ruas foram sendo tomadas pelos fiéis. Enquanto as pessoas aguardavam o início da celebração, o padre Manzotti animava a multidão com cantos de louvor. A mensagem transmitida era de alegria e esperança. ?É a oportunidade que temos de olhar para a eternidade e entender a morte. De olhar para a morte e entender a vida. A missa de hoje não é de tristeza, mas de saudade, com a certeza do reencontro. O túmulo não é um fim, mas uma passagem?, disse o padre.

Dom Moacyr também disse palavras de esperança. ?O importante é olharmos a morte através da fé. A morte humana é difícil de aceitar, mas quando lembramos que é o encontro com Deus, ela ganha sentido. A morte não é o fim. A vida continua?, explicou.

A missa atraiu gente de todas as idades. Lucinda Jarno, 81 anos, estava machucada devido uma queda, mas não queria perder a missa. A filha levou um banquinho para que conseguisse assistir a celebração. ?Fico em paz?, disse.

Andréia Tenchena, 27 anos, fez questão de levar os três filhos – o mais velho tinha sete anos e o mais novo apenas um. Para acomodá-los melhor, levou água e bolachas. ?Acho bonito o trabalho do padre Manzotti, vale a pena estar aqui?, afirmou.

Além de Curitiba, muita gente da região metropolitana participou da celebração. Rose Luciana Alves, 34 anos, de Pinhais, contou que encontra alívio nas palavras do padre Manzotti. Ela assiste todos os domingos as missas celebradas por ele, transmitidas pela TV. Não quis perder a chance de acompanhar de perto a missa. ?Perdi meu marido há sete meses e tenho quatro filhos para criar. Encontro conforto nas palavras de fé do padre?, diz. Ela também levou as crianças para participar da missa. ?Quero ensinar desde cedo o caminho certo?, explica.

Rose Luciana Alves, 34 anos, também de Pinhais, disse que ?vim para receber as bênçãos do padre. A fé já ajudou muito a minha família. A minha cunhada estava muito doente, fizemos orações e ela ficou bem?, explica.

Para que todos pudessem se comungar, foi montada uma equipe com 60 ministros para distribuir as hóstias. ?As pessoas estão redescobrindo como a religião é importante?, avalia Manzotti.

Seguidores da Seicho-No-Ie agradecem espíritos passados

Os seguidores da filosofia Seicho-No-Ie, em Curitiba, aproveitaram o Dia de Finados e realizaram ontem a cerimônia de gratidão aos espíritos dos antepassados. ?A diferença da nossa crença para as religiões ocidentais, é que não temos apenas um dia reservado à lembrança de quem já morreu, como é celebrado no Dia de Finados. Cultuamos sempre nossos antepassados?, explica a preletora e presidente da União das Associações Prospectoras da Seicho-No-Ie do Paraná, Jesulina de Aparecida Farias.

Durante a cerimônia, que não precisa acontecer necessariamente em Finados, os participantes preencheram registros espirituais com o nome das almas dos seus antepassados. Todos foram lidos durante a cerimônia, para evocar os espíritos que ainda teve oferendas de alimentos para as almas dos mortos.

Segundo Jesulina, a filosofia do Seicho-No-Ie, oriunda do Japão, ensina que quanto mais reverência se fizer aos antepassados, mais a vida do crente melhora. ?É como se lembrássemos diariamente da nossa árvore genealógica, já que se faltasse apenas um pedaço dela, não estaríamos vivos?, diz. Através das homenagens, os seguidores acreditam que estão acalmando os espíritos. ?Mesmo quem já morreu emite vibrações. Se eles foram ruins, interferem diretamente na nossa vida?, conta a preletora, que acrescenta que a influência dos espíritos pode ainda representar eventos maiores, como guerras. ?Por isso prestamos homenagens. Quanto mais iluminado o mundo espiritual, mais paz existe na terra?.

Jesulina diz que é seguidora da filosofia há 27 anos, e não tem descendência japonesa. ?Para fazer parte não é necessário ter ascendência asiática. A Seicho-No-Ie está aberta até para quem acredita em outras religiões?. A filosofia chegou ao Brasil com os imigrantes japoneses e mesmo que parte da cerimônia ainda seja realizada na língua nipônica, a maioria dos participantes presentes ontem era de outras origens.

Movimento intenso em todos os cemitérios

Lígia Martoni

Por causa da saudade, das recordações, religiosidade ou tradição, milhares de pessoas lotaram ontem os principais cemitérios de Curitiba para visitar túmulos de familiares, amigos e até de desconhecidos. O tempo ameaçou, mas a chuva não veio, fazendo com que o movimento fosse intenso em boa parte dos cemitérios da capital. A média de visitantes em alguns dos maiores – como os cemitérios do Água Verde, Santa Cândida, São Francisco de Paula, Parque Iguaçu e Jardim da Saudade – ficou entre 20 a 30 mil pessoas em cada um, número superior ao do ano passado.

Também contribuiu para a movimentação o fato de o feriado ter caído no meio da semana, o que fez muita gente ficar na cidade e aproveitar para cumprir o rito do Dia de Finados. Mas, apesar dos fatores a favor, o que geralmente se encontra nos cemitérios são pessoas que honram fielmente a tradição. É o caso de Zeferino Scpack, 81 anos, que todos os anos, acompanhado pelos filhos, visita os túmulos de familiares em pelo menos três cemitérios diferentes. Fazer essa rota  é, para ele, uma satisfação. ?Venho com alegria. É apenas uma vez por ano. E mesmo quando chove, a gente enfrenta?, diz.

A freira Célia Regina Capeleti, acompanhada por mais nove irmãs franciscanas da congregação Sagrada Família de Maria, também afirma que, todos os anos, elas vão ao cemitério para rezar o terço. Diante do túmulo de outras freiras da mesma congregação, elas rezam para que suas almas sejam purificadas. ?Também pedimos que intercedam por nós junto a Deus e aproveitamos para rezar por todos os falecidos?, garante Célia. Da mesma forma, a comerciante Taeko Ikematsu diz se lembrar daqueles que já morreram e que ela sequer conheceu. ?Coloco uma flor em cada túmulo abandonado que vejo?, conta, depois de visitar a sepultura dos pais.

Tradicionais

Túmulo que tradicionalmente atrai muita gente é o de Maria Bueno, assassinada ao final do século XIX, com 29 anos, pelo soldado José Inácio Diniz. A sepultura, localizada no Cemitério São Francisco de Paula, recebe todos os anos centenas de visitantes, devotos que consideram a vítima de um dos primeiros crimes passionais de Curitiba e autora de milagres. ?Visito o túmulo dela sempre que posso. Já deixei até mesmo de visitar parentes meus para vir até aqui?, afirma a dona- de-casa Maria Aparecida Pereira.

Flores

Os floristas que trabalham nos arredores dos cemitérios acreditam que, apesar do movimento intenso, o Dia de Finados já não alavanca tanto as vendas de flores e coroas como no passado. Para o vendedor Edson Teodoro, um dos motivos para isso é que as redes de supermercados estão tomando o lugar dos pequenos comerciantes por comprar quantidades maiores e, consequentemente, ter possibilidade de oferecer preços mais baixos. ?Fizemos até arranjos mais baratos, mas mesmo assim vendemos bem menos que no ano passado.? Quem confirma é Antônio Silva, proprietário de uma floricultura anexa a um dos cemitérios mais centrais de Curitiba. ?Nosso movimento vem caindo todos os anos. Há cinco anos, pedíamos 300 pacotes de flores. Hoje, diminuímos para 80 e ainda sobra?, lamenta, contando que as vendas durante o feriado de Finados este ano caíram em média 30% em relação ao mesmo período do ano passado.

Peculiaridades chamam atenção no Dia de Finados

Nájia Furlan

Milhares de pessoas visitaram ontem os túmulos e prestaram homenagens aos mortos. Apesar de todo ano alguns rituais serem os mesmos, o Dia de Finados traz os detalhes específicos de cada cemitério.

De fora nem se percebe o movimento, mas na Necrópole Ecumênica Vertical, por exemplo, os mais de 60 mil visitantes esperados não encontraram os túmulos depredados pelo vandalismo, puderam assistir à missa de Finados sentados e ainda não precisaram se preocupar com a limpeza do local.

Os detalhes da construção vertical tem suas vantagens para datas como as de ontem. ?Se chove aqui, as pessoas estão abrigadas e ainda tem iluminação. As famílias vêm apenas trocar as flores, porque da manutenção e conservação da limpeza nós fazemos?, afirma o proprietário Nelson Fernandes.

Parque São Pedro

No Cemitério Parque São Pedro, este ano a novidade foi o fundo musical para meditação, que tocou ao longo do dia. Porém, algumas das mais de dez mil pessoas esperadas, mesmo com um som que acalma, parece se incomodar com o movimento. Elis Regina, de 34 anos, estava no cemitério para homenagear o filho de 13 anos, que morreu em dezembro de 2001. Apesar de todo dia 22 ela visitar o local, hoje tinha um motivo a mais. ?Vim pela saudade que hoje aperta demais. Geralmente venho e fico bastante, mas o movimento incomoda e hoje fico só um pouquinho?, afirma.

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