Os militares que ocupavam a colônia de pescadores da Ilha do Maciel, no município de Pontal do Paraná, deixaram o local ontem. Aproximadamente 50 homens armados da Aeronáutica, Marinha e da Polícia Federal (PF) entraram na ilha na última terça-feira e notificaram oficialmente os cerca de 400 moradores que eles devem deixar o local em até 20 dias.
De acordo com a Prefeitura local, a área pertence à Imobiliária Pontal, que em 1976 cedeu ao Ministério da Aeronáutica para a construção de uma base e uma pista de pouso. Como a construção não ocorreu, a escritura prevê a devolução da área ao doador. A confusão começou porque a imobiliária quer que o Ministério devolva o terreno ?limpo?, sem os moradores e as residências que foram erguidas na ilha. A reportagem não conseguiu entrar em contato com a empresa.
Segundo o presidente da Federação das Colônias de Pescadores do Paraná, Edmir Manuel Fernandes, há relatos de que os pescadores estão presentes na ilha há muito mais tempo do que o contrato de cessão. ?A igreja do vilarejo tem mais de 170 anos e existe gente que mora na ilha há mais de 80 anos?, afirma. O presidente relata que os moradores, quase todos de baixa renda, são descendentes de índios e que dependem da pesca artesanal para sobreviver, e estão assustados pela forma como a ação aconteceu. ?Todos estão até agora sem entender o que se passou. E, caso tenham que sair, não têm para onde ir?, diz.
Mesmo tendo acabado de forma pacífica, moradores relataram constantes rajadas de tiros de metralhadores para o alto durante os dias da ocupação e a derrubada de algumas propriedades de turistas que teriam sido construídas de forma irregular.
Fernandes diz que a federação dará apoio jurídico aos moradores, e critica a falta de diálogo da Aeronáutica no caso. ?Poderiam ter nos procurado, que intermediaríamos uma possível retirada. Mas é preciso achar um outro local para abrigar essa gente toda?. A Prefeitura informou que os militares teriam feito um cadastro dos moradores, para tentar identificar quem realmente tem direito aos terrenos.
A reportagem de O Estado procurou informações com o Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta 2), em Curitiba. Depois de muito insistir, a assessoria de imprensa comunicou que as explicações seriam dadas pelo comandante do Cindacta 2, o coronel-aviador Carlos Vuyk de Aquino, que está viajando e irá se pronunciar na próxima semana.