Devotos de Maria Bueno fazem romaria
ao túmulo da mártir no Cemitério
Municipal São Francisco de Paula.

Seguindo a tradição, o Dia de Finados movimentou os cemitérios curitibanos ontem. Milhares de pessoas foram orar e prestar homenagem a parentes e amigos mortos.

Velas, flores e orações lembraram dos mortos, fossem eles anônimos ou ilustres. Os quatro cemitérios municipais de Curitiba receberam ontem a visita de 250 mil pessoas. Mas, na sexta-feira, 15 mil pessoas já haviam antecipado a visita para evitar o movimento e também para viajar.

A família de Leonilda Colaço dos Santos, de 48 anos, foi uma das que chegou cedo ao Cemitério Municipal de Santa Cândida, zona norte, um dos maiores da cidade, para orar pelo pai e outros parentes. Ela também aproveitou para fazer a limpeza e enfeitar os jazigos. Leonilda disse que tinha o costume de ir sempre visitar os parentes no cemitério, mas agora acha perigoso ir sozinha. “Uma vez encontramos pessoas que pareciam perigosas aqui. Cheguei e saí correndo. Agora só venho no dia de Finados”, explica. Um grupo de evangélicos passou todo o dia no cemitério conversando e orando com as famílias.

No Cemitério Municipal da Água Verde, o movimento também era intenso, principalmente no Cruzeiro das Almas, onde os fiéis acendiam velas e rezavam pelos falecidos. Nos jazigos, a tradição da limpeza se manteve. Marlene Zink e seu marido conhecem bem a rotina de finados. “Minha mãe morreu há 34 anos e meu pai há 21. Todo dia de finados, venho. Todo aniversário deles, venho”, conta, enquanto preparava os panos para a limpeza do jazigo.

Maria Bueno

No Cemitério Municipal São Francisco de Paula, um dos locais mais visitados foi o túmulo de Maria Bueno. Silmara Guedes Marques é devota há 15 anos. Todo dia de Finados leva flores e reza agradecendo as graças alcançadas. “Considero ela como minha madrinha, ela protege minha família, ajudou muito o meu filho”, conta.

O cruzeiro era o local onde as pessoas paravam para rezar o terço por todas as almas. Arlinda Morcelli, 50, diz que tem o hábito de ir ao cemitério uma vez por semana para orar pelas almas e ontem estava aproveitando para acompanhar as orações. “As almas precisam de muita reza, principalmente as aflitas”, acredita. Durante todo o dia grupos de fiéis se revezaram nas orações.

Cemitérios arrecadam donativos para o Natal

Uma campanha para arrecadar alimentos, roupas e brinquedos para o Natal foi lançada ontem pela Associação Beneficente Jardim da Saudade. Nos cemitérios Jardim da Saudade 1, no bairro do Portão, em Curitiba, e 2, em Pinhais, foram distribuídos folders sobre o assunto. A campanha termina no dia 22 de dezembro e as doações serão entregues para três entidades carentes.

As paróquias de São Jorge e Nossa Senhora da Luz e a 1.ª Igreja Batista no Paraná também participam da promoção. Elas ficaram encarregadas de distribuir a arrecadação para a Pastoral da Criança, Lar Batista Esperança e Clube da Criança. As doações podem ser feitas nas paróquias e também nos cemitérios da Associação. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (41) 223-6573.

Feriado surgiu no século X em mosteiro na França

A oração pelos mortos é celebrada de modo diferente nas diversas culturas. A fé cristã celebra a esperança da ressurreição, apoiando-se no sentimento de solidariedade dos cristãos diante da dor da perda de amigo e ou parente.

A história da Igreja conta que a prática de dedicar um dia aos mortos começou com Isidoro de Sevilha. Ele ordenou aos monges que oferecessem o sacrifício da missa pelas almas dos defuntos, no dia seguinte ao dia de pentecostes. Porém o dia de Finados foi estabelecido mesmo em 998, quando o abade Odilão, superior do mosteiro de Clunny, na França, decretou que em todos os mosteiros filiados à ordem fosse celebrada uma missa na tarde do dia 2 de novembro. A comemoração se espalhou rapidamente pela França e Inglaterra. Em Roma, a celebração de todos os fiéis defuntos só teve início no século XIV.

Dia de Finados abre um filão para os comerciantes

Elizangela Wroniski

e Guilherme Voitch

Da festa religiosa nasce um grande comércio em Finados. Dentro e fora dos cemitério vende-se de tudo para o culto aos mortos. Velas, flores, fitinhas, além de lanche para os visitantes. Benedito Ribeiro da Silva resolveu apostar na venda de flores em frente ao Cemitério Parque São Pedro para faturar um dinheiro extra. “Estou vendendo o buquê a R$ 5,00. Já vendi uns quinze”, contou.

A lei do mercado falou mais alto no São Francisco de Paula. Clélia Oliveira começou a vender o vasos por R$ 6,00, mas percebeu que a concorrência estava com preços mais baixos e teve que reduzir para R$ 5,00. “Se a tarde a mercadoria ficar encalhada, abaixo mais”, prometeu.

Em outra barraquinha a proprietária também estava vendendo a R$ 5,00. “É por causa do laço que eu faço a este preço”, justificou. Mas quem andasse mais um pouquinho ia encontrar um lugar vendendo os vasos a R$ 4,00. Quem não deixou para a última hora e comprou antes, pagou mais barato. Neiva Bosse comprou três unidades em uma loja por R$ 1,48 cada uma. “É melhor trazer de casa. Aqui é muito caro”, diz.

Mas o comércio não era só de flores: muita gente aproveitou para vender doces e salgados. Sâmia Natácia Piaseck estava com uma barraca de cachorro quente. Pretendia vender trezentas unidades. “Dá para faturar um pouco”, afirma.

Outros ainda aproveitavam para lucrar oferecendo serviços de limpeza em túmulos. Dirce Francisca de Jordão estava com o marido e a filha nesta atividade. No ano passado diz que conseguiu R$ 70,00. “Dá para ajudar no orçamento”. Na Água Verde, Máicon Rodrigues Guimarães e seus amigos também tentavam ganhar um dinheiro com a limpeza dos túmulos. “Estamos cobrando cincão. Mas até agora ninguém quis”, lamentou.

Secretaria da Saúde faz campanha contra dengue

Elizangela Wroniski

Em todos os cemitérios municipais, foram distribuídos folders sobre a dengue. A iniciativa partiu da Secretaria Municipal da Saúde. A idéia é fazer com que as pessoas coloquem areia nos vasos de flores do cemitério para que não virem focos de propagação do mosquito. O cuidado também deve ser adotado em casa, não deixando água parada em vasilhas. “Gostei de receber o folder. É importante a gente cuidar da saúde das pessoas”, diz Silvia Maria Cordeiro, de 38 anos.

As pessoas também foram orientadas a fazer o recadastramento do lote nos cemitérios municipais. A medida é importante para que os concessionários possam ser avisados sobre qualquer problema que possa ocorrer com os túmulos. As pessoas podem realizar o procedimento em qualquer uma dos cemitérios municipais, basta levar o título de concessão.

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