Uma série de preconceitos e estigmas ainda cercam as pessoas portadoras de aids, principalmente no que diz respeito ao mercado de trabalho. Dados do Ministério da Saúde (MS) indicam que 20,6% dos pacientes com HIV dizem já ter perdido o emprego em decorrência do problema.
Entre as pessoas do sexo masculino que tiveram diagnóstico de aids, 58% não trabalham, enquanto a proporção masculina de desempregados na população em geral é de 33%. Já em relação à renda média, a de quem tem aids costuma ser inferior em R$ 149.
Com o objetivo de reverter a situação, o ministério anunciou ontem, em Curitiba, um edital voltado à formação de jovens líderes no tema HIV/aids. Será realizado um processo seletivo para que 27 moças e rapazes portadores de HIV de todo Brasil possam participar de um programa de formação, através do qual será concedida bolsa de iniciação profissional de R$ 472 pelo período de onze meses.
A ideia é que, após formados, os jovens estejam preparados para debater e opinar sobre ações de enfrentamento à epidemia. “A ideia da formação nasceu dos próprios jovens e, no futuro, também pode ser incorporada pelos estados. O objetivo é que os jovens conheçam a fundo o problema da aids para poderem atuar.
Assim, poderão ajudar na elaboração de planos de combate à aids e mesmo agir como agentes de prevenção da doença”, diz o diretor do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis e Aids do ministério, Eduardo Barbosa.
O processo de formação, que prevê quatro horas de atividades por dia, é composto pelos seguintes eixos temáticos: gestão de programas e estratégias governamentais; serviços públicos; e sociedade civil.
Através dos mesmos, os jovens vão aprender sobre a logística de insumos e medicamentos, acompanhar atividades do Programa Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE), observar a rotina de serviços e conhecer organizações civis que realizam ações de prevenção, educativas e de apoio a pessoas que vivem com aids.
“Iniciativas como a do Ministério da Saúde são muito importantes para que os jovens com HIV lutem para conquistar o próprio espaço. Além disso, ajudam a romper com certos preconceitos.
Infelizmente, muitas empresas ainda não contratam uma pessoa com HIV porque acham que ela não tem qualificação suficiente ou que vai estar sempre doente e faltar demais ao serviço”, afirma a jovem K. C., que tem 22 anos e convive com o HIV desde que nasceu.