Uma brincadeira com uma bomba caseira feita com água e cal pode deixar um garoto de 14 anos cego. O oftalmologista Hamilton Moreira, do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), alerta que o número desse tipo de acidente está crescendo.
Há seis anos aconteciam dois casos por mês, agora são registrados seis. A última vítima é de São Mateus do Sul. O acidente aconteceu há 15 dias.
Para fazer a bomba, os jovens colocam cal e água em um recipiente fechado, geralmente uma garrafa PET. O processo desencadeia uma reação química que gera a explosão. Esse acidente é bem mais grave do que os que ocorrem com pedreiros, atingidos com o cal quando estão trabalhando. A diferença está na força da explosão. “É o mesmo que alguém pegar uma injeção e direcioná-la para os olhos, empurrando o líquido com uma pressão muito grande”, explica o oftalmologista.
Sempre que acontece um acidente com cal é aconselhável lavar logo o local com qualquer tipo de água disponível. Quando o problema é provocado pela bomba, o conselho é o mesmo, mas o problema é que em muitos casos a água não produz o efeito esperado, já que a pressão faz com que o produto fique impregnado nos olhos, sendo difícil retirá-lo. A cal pode ainda penetrar no interior do globo ocular e ficar agindo por vários dias, destruindo veias e artérias. Nenhum tratamento hoje é capaz de impedir esse avanço. “O ideal mesmo é a prevenção”, adverte o oftalmologista.
Geralmente o acidente acontece perto de obras ou em casa com o material que sobrou de alguma construção. Foi isso que aconteceu com Leandro Novakoski. Ele pegou o produto no barracão do pai quando se divertia com amigos. Era a primeira vez que realizava a experiência e o artefato explodiu nas mãos dele. Por sorte nenhum colega foi atingido.
O pai do garoto, Antônio Elói Novakoski, conta que não sabia da gravidade da brincadeira e é comum os jovens da região produzirem o artefato. Ele proibia os filhos de brincar com o material, mas desta vez estavam escondidos. “Agora todos no lugar pararam”, afirma o pai.
O garoto foi perdendo a visão ao poucos e agora só enxerga luzes. A sua córnea ficou toda branca devido à pressão da explosão. Para tentar melhorar seu quadro um transplante de conjuntiva deve ser feito e os irmãos podem ser os doadores. O procedimento vai ajudar a lubrificar o olho do adolescente, que ficou ressecado. Outra técnica de transplante que será aplicada é a que usa uma membrana amníótica, retirada de placenta após a cesárea eletiva. Ela formará uma espécie de leito para as células transplantadas dos irmãos, cicatrizando o local. Os procedimentos vão preparar o olho para um possível transplante de córneas, melhorando sensivelmente a visão.