A menina Bruna Letícia Micoanski, de 6 anos, desaparecida há dois anos e encontrada na sexta-feira passada em Paragominas (PA), chegou em Curitiba na noite de anteontem, trazida pela mãe, Márcia Rosana Micoanski. A criança estava em poder do pai, que em outubro de 2002 a raptou depois de uma visita. Apesar de ter tirado a filha do convívio com Márcia, ele não pode ser punido criminalmente, pois na época possuía a guarda compartilhada da menina.
De acordo com a delegada do Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride), Márcia Tavares dos Santos, a menina foi registrada no nome do pai e da mãe. Assim, os dois possuíam a guarda natural da filha, o que dá permissão ao pai de transitar pelo território nacional sem necessitar da autorização da esposa. Depois de se separarem, a mãe não entrou com o pedido de guarda porque não queria privar o pai de ver a filha. Quando ela desapareceu, conseguiu uma liminar na Vara de Família de busca, apreensão e guarda de Bruna. “Hoje, a guarda é da mãe. Se o pai tentar pegar a filha, vai ser enquadrado em seqüestro e subtração de menor, podendo ser preso em flagrante. Infelizmente, não podemos fazer nada na esfera criminal por esses dois anos”, afirma a delegada.
O Sicride já tem informações de que o pai de Bruna vem a Curitiba para entrar com o pedido de guarda da criança. “É o juiz que vai determinar quem ficará com ela. O pai pode obter a guarda ou só poderá visitar a filha com acompanhamento. Tudo depende agora da parte cível”, conta a delegada.
A busca de Márcia, que morava em Cascavel, começou em outubro de 2002, quando ela permitiu que Bruna fizesse uma visita ao pai em Curitiba. Ele pegou a menina e telefonou todos os dias para a filha falar com a Márcia. No dia marcado para a volta, eles não apareceram. Preocupada, tentou entrar em contato com o ex-marido, mas não conseguiu. Uma tia dele informou que tinha deixado tudo para trás, inclusive o emprego, mesmo com o resto da família dele negando saber onde estava e o que tinha acontecido.
Márcia se mudou para Curitiba, onde procurou o Sicride e o Movimento. Ela entrou com o pedido de guarda e, em 27 de junho de 2003, a juíza Lenice Bodstein, da 2.ª Vara da Família, expediu uma carta precatória de busca, apreensão, citação e intimação. Mas como o ex-marido estava em local incerto, o Sicride começou a investigar onde a menina poderia estar. Cinco meses depois, com a divulgação de fotos da Bruna, uma informação anônima apareceu no Movimento dizendo que a menina estava no Pará.
Na terça-feira passada, foi descoberto que pai e filha estavam em Paragominas. Os órgãos entraram em contato com a juíza Marisa Beline, da Vara de Família na cidade, e mandaram todos os documentos necessários para o cumprimento da ordem judicial. Na sexta-feira, Bruna foi retirada da casa do pai e enviada para um abrigo, onde esperou pela mãe. “A emoção da mãe falando com a filha pelo telefone foi sobrenatural”, avalia Marília Marchesi, coordenadora de divulgação do Movimento.
Colo
No sábado, depois de muitas horas de viagem, Márcia chegou no local onde estava a filha e aguardou cinco minutos dentro do carro. Chorando muito, pensava como a menina iria recebê-la, se ainda lembrava dela. Bruna simplesmente correu para os braços da mãe e pediu colo, terminando assim um sofrimento de dois anos. “Durante todo o processo, a juíza e o oficial de Justiça do Paraná ajudaram muito a Márcia nesse encontro. Se não fosse por eles e pela polícia de lá, encontrar a menina seria muito mais difícil do que foi”, afirma Marília.
Bruna passou ontem por uma avaliação médica e será acompanhada por psicólogos disponibilizados pelo Sicride e pelo Movimento. A partir de agora, basta apenas esperar o desenrolar do processo na Justiça, que determinará quem vai ficar com a criança.
Serviço – Informações, pedidos de ajuda e denúncias podem ser encaminhadas para o Movimento Nacional em Defesa da Criança Desaparecida pelo telefone (41) 232-0535 ou no endereço Rua José Loureiro, n.º 464, conjunto 54, em Curitiba.