Médicos realizam protesto contra medida do governo

Médicos e estudantes de medicina se mobilizam neste sábado (25) contra a vinda de médicos estrangeiros para o Brasil sem o processo para revalidação de seus diplomas. O protesto será na Boca Maldita, a partir das 8h30. No Paraná, a manifestação também ocorre em Londrina, Maringá e Ponta Grossa – cidades que têm escolas de medicina.

O protesto é contra o anúncio recente do governo federal, que estuda trazer médicos de países como Cuba, Espanha e Portugal para suprir a falta de profissionais em cidades do interior e periferias dos grandes centros. Para atraí-los, podem ser dispensados do Revalida, exame que reconhece diplomas estrangeiros de medicina. O Ministério da Saúde alega que de 2003 a 2011 surgiram 147 mil vagas para médicos no mercado de trabalho – contra 93 mil médicos formados.

Não resolve

Entidades médicas são contra essa proposta e afirmam que pode trazer prejuízos à saúde da população. O Sindicato dos Médicos do Paraná (Simepar) já pediu que o Ministério Público do Trabalho (MPT) abra procedimento investigatório sobre a questão.

Para o presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), Alexandre Bley, “a “importação de médicos’ para atuar no interior do país parece temerária, para não dizer irresponsável, pois nem de longe resolve a questão da deficiência da saúde em locais hoje desassistidos”. Ele ressalta que os médicos estrangeiros enfrentarão os mesmos problemas estruturais que os profissionais brasileiros enfrentam, com o agravante do idioma. Bley não se opõe à vinda dos médicos, contanto que seja em conformidade com a lei.

Em defesa da qualidade

O secretário da Associação Médica do Paraná (AMP), Nerlan de Carvalho, defende a vinda dos médicos estrangeiros seja mediante prova de qualificação. “Os médicos no exterior ingressam nas faculdades sem concurso, em um curso que sabe lá se tem qualidade. É justo que seja feita prova, já que aqui existem os vestibulares”, destaca. “O que nós queremos é qualidade”.

Segundo Carvalho, não faltam médicos no Brasil, que apresenta relação de 1,8 profissional para cada mil habitantes, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) define como ideal um a cada mil. A questão é a má distribuição dos profissionais. Ele afirma que os médicos não querem ir para o interior “porque lá não tem condições de trabalho”.

Sucateado

“Para levar para uma cidade pequena tem que oferecer o mínimo de estrutura para que o médico possa trabalhar com dignidade e atender com qualidade a população”, destaca o representante da AMP. Além disso, afirma que não existe plano de cargos e salários para dar estabilidade a esses médicos. Carvalho diz ainda que existe sucateamento na área de saúde pública do País, pois o governo não destina verbas suficientes para mantê-la.

Testes antes da atuação

Cauê Attab Negrinho, de 24 anos, estudante do 4.º ano de medicina e presidente do Centro Acadêmico Zilda Arns, da Universidade Positivo, também acredita que os médicos estrangeiros devem passar por testes antes de atuarem no País. “Eu não vejo como concorrência no mercado, mas sim a perda da qualidade da saúde pública do Brasil”, revela. “Não duvido da eficiência deles, mas sem a prova não tem critério”, destaca. Para ele, não faltam médicos e sim estrutura digna para o trabalho no interior.

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