Moradores e comerciantes do bairro São Francisco, em Curitiba, próximo à Capela da Luz, estão indignados. Eles reclamam que o mau cheiro exalado pela Capela – onde é feita a preparação dos corpos a serem velados – é intenso e freqüente. O episódio mais constrangedor foi registrado no último dia 6, quando uma empresa contratada para realizar o esgotamento da fossa acabou jogando, acidentalmente, os detritos para a rua – inclusive sangue. De acordo com a direção da Capela, o fato foi isolado, mas os moradores dizem que o mau cheiro é constante.

“Não temos nada contra a Capela, ela pode ficar onde está. O problema é esse trabalho que eles fazem há cerca de dois anos, conhecido como tanato”, reclama a telefonista Isabel Cristina Krause Lopes, 43, que mora há 30 anos no bairro. Tanato, ou tanatopraxia, é a preparação do corpo em que se retira o sangue venoso, substituindo por líquidos específicos, para torná-lo com aparência natural. “Era um cheiro tão ruim que eu estava quase vomitando. Foi muito desagradável”, relembra. “E a questão não é só o cheiro. Corremos o risco de adquirir doenças, os micróbios se espalham”, completa.

Outra preocupação é quanto à possível instalação de um crematório no local. “Por que não colocam isso em uma região que não seja residencial?”, questiona a mãe de Isabel, Illa Krause Lopes, 70 anos. Segundo ela, as reformas que estão acontecendo na Capela são justamente para receber o forno de cremação. “Em Colombo, havia um, mas foi fechado porque os moradores não agüentavam o cheiro”, conta.

O sócio-proprietário da Sapataria JKF, Ademir Aparecido Enumo, também protesta. “Para nós, que ficamos aqui fechados o dia todo, quase 12 horas por dia, não tem condições”, desabafa. A presença de moscas na região também é alvo de reclamações. Para a aposentada Ivete Lima, 81, que mora há 51 anos no bairro, tanto a preparação de corpos como o possível crematório deveriam ser distantes da área habitada. “Estamos a quase cinco minutos do centro e aqui só há residência. Deveriam escolher um outro lugar”, sugere.

Abaixo-assinado

A atividade da Capela da Luz é alvo de um abaixo-assinado que está circulando no bairro há cerca de uma semana. De acordo com a vereadora Clair da Flora Martins (PT), que foi procurada pelos moradores para intermediar o pedido de suspensão desse tipo de atividade, o abaixo-assinado será encaminhado à Secretaria Municipal do Meio Ambiente ainda essa semana. Também será encaminhado ofício à Vigilância Sanitária, questionando se o local dispõe de condições sanitárias para realizar a tanatopraxia. “Acredito que aquele não seja o lugar mais apropriado para isso, porque tem muitas residências”, comentou. A vereadora deve encaminhar o caso também à Promotoria do Meio Ambiente .

Capela da Luz

O presidente da Capela da Luz e procurador da Funerária Vaticano, Edson Cooper, informou que as reformas que estão ocorrendo no momento são para troca de piso. Ele não descartou, no entanto, a possibilidade de vir a instalar um crematório no local, no futuro. “Já temos dois crematórios, um em Campina Grande e outro em Pinhais. Está faltando um em Curitiba, e o melhor local para montar seria exatamente ali, próximo ao serviço funeral, floriculturas, cemitério, capela”, afirmou, ressalvando que “crematório não tem cheiro, nem fumaça”. “É coisa de primeiro mundo”, comentou, acrescentando que há análise do IAP a cada seis meses.

Com relação à reclamação dos moradores quanto ao mau cheiro, Cooper afirmou que a Capela toma todas as medidas necessárias, e que o ocorrido foi um incidente.

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