Foto: Chuniti Kawamura/O Estado

 Enquanto a recuperação da orla não sai, administração promete instalação de bancos, jardinagem e quiosques na beira-mar.

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No aguardo da temporada de verão, autoridades e comerciantes de Matinhos – uma das praias do litoral paranaense que mais recebe turistas, nessa época, procuram ânimo em meio aos rastros da ressaca e acreditam que a cidade já viveu tempos mais promissores. Mesmo assim, entre o final deste ano e início do próximo, junto com Caiobá, Matinhos espera receber 500 mil visitantes. Como a cidade não tem vida própria e depende economicamente dos meses da temporada para sobreviver pelo resto do ano, a administração pública pretende investir em pequenos reparos e eventos até o início do verão à espera de soluções definitivas para as próximas temporadas.

Como as medidas que contemplam a orla da praia não devem vir a curto prazo – uma vez que dependem de recursos fora do âmbito do município -, pelo menos para essa temporada pretende-se atrair o visitante pelas atividades na praia. Os moradores acreditam que os velhos tempos de shows e eventos é que transformavam Matinhos e Caiobá em pontos procurados por veranistas de todo o Brasil. ?Já estamos em contato com empresas para promoção de eventos esportivos e culturais e também temos projeto quase pronto para o Carnaval, com a Matinbanda programada para tocar no sábado e a Caiobanda no domingo?, adianta o prefeito Francisco Carlim dos Santos.

Além disso, a administração pública promete melhorar a beira-mar com instalação de bancos e jardinagem. ?Neste verão os quiosques serão provisórios, de fibra de vidro, mas já temos projeto aguardando autorização para construção de quiosques padronizados?. A iluminação pública também deve ser reforçada desde a Praia Mansa de Caiobá até as proximidades de Matinhos, com instalação de lâmpadas mais fortes.

O prefeito, porém, demonstra não se iludir quanto à situação da cidade nas últimas temporadas. Além das ?maquiagens? – como ele mesmo define – nos problemas com o avanço do mar e o conseqüente sofrimento anual com as ressacas, Santos reconhece que falta infra-estrutura no litoral. ?Precisamos melhorar a qualidade para atrair maior quantidade de pessoas?. Ainda assim, para ele, o turista não deixa de ir a Matinhos porque a praia ainda é a opção de turismo mais barata para o verão. ?E o Paraná tem a característica de atrair o turista pela praia, não pelas cidades litorâneas em si. Por isso, não temos outra opção a não ser nos profissionalizarmos?.

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O prefeito afirma, ainda, que o turismo para a terceira idade deve ser foco de investimentos já nesta temporada. ?É um excelente nicho. Os que vêm morar aqui, geralmente por recomendação médica, não ocupam o mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, deixam dinheiro na cidade. O mesmo deve acontecer com o turista?.

Balneabilidade

O prefeito afirma que o governo do Estado tem dado suporte em algumas áreas para desenvolver o turismo nas praias paranaenses. Em Matinhos, os investimentos estão concentrados na melhoria da rede de esgoto, o que gera expectativa de melhor balneabilidade. As obras de uma nova estação de tratamento devem começar em meados do ano que vem. Durante a temporada de dezembro até o Carnaval – a população rotativa chega a 500 mil pessoas, contra 35 mil moradores fixos. Também por causa do grande contingente, a demanda por atendimento durante a temporada no hospital Nossa Senhora dos Navegantes – que o prefeito define como o melhor do litoral do Estado – aumenta em dez vezes. ?E não recebemos recursos suficientes do governo do Estado. A Prefeitura acaba gastando 30% do orçamento com isso?. Mas ele tranqüiliza os turistas afirmando que, apesar das dificuldades, nenhum visitante ou morador ficará sem atendimento à saúde nesta temporada.

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?Não dá mais para jogar dinheiro fora?, diz prefeito

O projeto de recuperação da orla marítima entre Matinhos e Guaratuba já está pronto. Falta, apenas, a execução. O prefeito Francisco Carlim dos Santos afirma que já solicitou à Superintendência de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (Suderhsa), que elaborou o projeto, uma cópia para apreciação da Prefeitura. ?O problema é que o município não tem orçamento para a obra definitiva na beira-mar?, ressalva Santos.

Ele afirma que, por enquanto, o que vem fazendo junto com o governo estadual são as obras temporárias (aterros), que, somadas, já resultaram em milhões de reais que não contemplam resultados reais. ?Não dá mais para jogar dinheiro fora. O governador Roberto Requião, assim como eu, é a favor da desapropriação, mas é uma solução tão ou mais cara que a execução do projeto de recuperação?.

A desapropriação imobiliária a que o prefeito se refere seria a forma natural de recuperar a praia, ao preço de retirar os imóveis construídos ao longo dos últimos 40 anos sem qualquer planejamento do ponto de vista ambiental. ?Afora isso, o projeto de recuperação da Suderhsa dá resultados, mas exige manutenção periódica, de cinco em cinco anos. É baseado na colocação de moles e gabiões, para conter o avanço do mar, e engordamento da praia – enchimento artificial?, define.

O prefeito afirma que o novo plano diretor da cidade definiu estudo das áreas que ainda precisam de liberação para construção de imóveis. ?O crescimento, daqui para frente, terá de ser ordenado.? (LM)

Comércio reclama da infra-estrutura

O presidente da Associação Comercial e Empresarial de Matinhos, Carlos Dalberto Freire, acredita que todos os anos a cidade perde no turismo por causa da situação da orla. ?Está pior que no ano passado?, acredita. ?Não temos problema com a água, mas nossa orla está jogada às traças. E também não temos infra-estrutura para receber o turista?.

Ele acredita que o visitante que chegar a Matinhos neste verão vai encontrar a cidade do mesmo jeito que na última temporada. ?Já era para a cidade estar preparada. Estamos em cima da hora e nada foi feito?, denuncia. O empresário relata que, todos os anos, enfrenta mais dificuldades nos negócios, assim como o setor em geral. ?O comerciante está desanimado. Se prepara, faz investimentos, mas sabe dos problemas que vêm pela frente?, desabafa.

A decadência relatada pelo presidente da associação comercial se justifica, em parte, pela falta de profissionalização do turismo local. ?O turismo aqui é amador. Poderíamos explorar o turismo ecológico, rotas no meio da mata, mas nada é feito?, diz, complementando com a situação da praia, que, acredita, deve ser sanada apenas quando governos federal, estadual, municipal e iniciativa privada se unirem. ?Não acredito na recuperação da praia para 2006 ou 2007. É um desrespeito total ao povo do Paraná e do Brasil apresentar a praia assim?.

O pedágio é outro fator que, acredita Freire, diminui a freqüência com que o turista desce ao litoral. ?É válido, mas o alto valor inviabiliza muita gente de vir. Quem descia de Curitiba toda semana, agora, por causa do pedágio, vem só uma vez por mês. Acabou o turista de fim de semana?, lamenta. (LM)

Corretores e hoteleiros apostam em bom movimento no verão

Os corretores de imóveis e hoteleiros de Matinhos e Caiobá garantem que o veranista não vai se deixar levar pelo tempo chuvoso que está antecedendo a temporada e nem pelas melhorias que não tenham sido feitas na cidade. A procura de casas, apartamentos ou leitos, principalmente para o Réveillon, já começou e deve se intensificar nos próximos dias.

?Temos boa perspectiva de melhora para essa temporada?, afirma a presidente da Rede de Imóveis Caiobá, Karina Fazzano. A rede congrega oito imobiliárias que justificam a expectativa por um motivo em especial: a Universidade do Litoral (Unilitoral). ?Muita gente que ia vender o imóvel deixou para alugá-lo. Ainda que tenha contribuído para os contratos mensais e anuais, acaba sempre refletindo na temporada?, enfatiza. Além disso, para ela, Matinhos e Caiobá acabaram virando atrativo para investidores, o que deve aquecer a economia durante o verão.

A gerente dos hotéis Praia e Sol, com sede em Matinhos e Guaratuba, Vanilda dos Santos, espera que o longo período de chuva passe em breve. ?Mesmo assim, a procura em Matinhos está boa, as pessoas estão ligando. Acho que esta temporada vai ser melhor que a do ano passado?, prevê, otimista com os resultados da baixa temporada de 2005 que, mesmo com tempo ruim, atraiu mais turistas que em 2004, segundo ela, por causa de eventos na cidade.

A pousada Luar de Caiobá, localizada na praia vizinha de Matinhos, deve receber um número equilibrado de visitantes em relação às últimas temporadas. É o que observa o proprietário, Fernando Michelotto, que não tem notado muita diferença nos verões do litoral paranaense. ?O que pode contribuir é o Carnaval no final de fevereiro?, ressalva. (LM)

Moradores sugerem melhorias

A dona-de-casa Lucila Maria Justen, que mora em Matinhos há quatro anos, concorda que pelo menos a beira da praia deve ser revitalizada, e com urgência. ?Está tudo feio e estragado?, comenta. ?Além disso, dentro da cidade tem muitos buracos. Desde que cheguei aqui nunca vi nada melhorar?.

Para ela, a situação prejudica quem vive em Matinhos porque afasta o turista que está disposto a permanecer na cidade por um tempo um pouco mais longo. ?A gente poderia estar ganhando, mas, enquanto isso, muita gente está indo para outras praias?. Quem se mantém fiel a Matinhos, para ela, é principalmente o curitibano, que tem imóvel na praia. ?A gente tinha de ter algo mais bonito para oferecer, já que é o turista que deixa dinheiro na cidade?.

O dono de uma loja no centro da cidade, que prefere não se identificar, relata que, a cada ano, vê o número de turistas em Matinhos e Caiobá decair. ?Faltam atrativos e a cidade está mal cuidada. Além das melhoras, acho que deve-se investir em eventos e shows. É o que atrai o pessoal para cá.?

O hoteleiro e também engenheiro civil Fernando Michelotto complementa que uma possível solução para a cidade seria a construção de um eixo de lazer à beira-mar, com bares e restaurantes. Ele já deu a idéia na reunião do plano diretor de Matinhos, do qual participa. ?Falei também sobre o calçadão, que está deteriorado por causa da ressaca. Não foi arrumado até agora e provavelmente não será à tempo do verão?. Ele afirma que uma boa idéia seria um desvio na Avenida Atlântica, pelo menos no trecho mais afetado. ?Um planejamento na rua paralela daria mais espaço para o mar, com a retirada do calçadão e do asfalto?. Nessa faixa, idealiza, ficariam quiosques e bares, que conseguiriam segurar o turista por mais tempo na praia e na cidade. (LM)