Maternidade enfrenta grave crise financeira

A Clínica e Maternidade Nossa Senhora do Rosário, uma das mais antigas de Curitiba, localizada na região central, está enfrentando uma das piores crises financeiras de sua história. Desde dezembro do ano passado, a instituição acumula dívida de quase R$ 80 mil. Com quase 90% dos atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ? cuja tabela não teve reajuste desde o Plano Real, em 94 ?, a maternidade não tem conseguido equilibrar as finanças e pede a ajuda da iniciativa privada para conseguir realizar os quase quatrocentos partos por mês.

A presidente da Sociedade Civil Beneficente Mater Dei (mantenedora da Clínica e Maternidade Nossa Senhora do Rocio), Irene Pregnolato Figueroa, explica que a crise está refletindo em diversos setores, como a falta de repasse de honorários aos médicos ? “com a concordância deles”, salienta ?, prorrogação do pagamento de materiais e medicamentos e suspensão de férias dos funcionários. Também faltam recursos para investir na instituição.

“Dois ou três meses atrás a gente chegou a pensar em fechar as portas. Mas hoje (ontem) recebemos uma ótima notícia: o reconhecimento pelo município de que o hospital presta atendimento secundário de risco”, conta. Em outras palavras, a verba da AIH (Autorização para Internamento Hospitalar) deve aumentar. A solicitação aos governos municipal e estadual foi feito há mais de um ano, mas Irene agradece mesmo assim o atendimento. “A gente sabe que tudo demora. E esse reconhecimento chegou em uma hora de extrema necessidade”, enfatiza.

Expectativa

A expectativa, afirma, é de que o incremento financeiro atenda ao déficit mensal da instituição, que é de quase R$ 30 mil. O montante será pago pelas secretarias municipal e estadual de Saúde. A receita média mensal da instituição é de aproximadamente R$ 180 mil, enquanto as despesas “dificilmente ficam abaixo de R$ 210 mil”. Do total de receita no mês passado, quase 63% (R$ 114 mil) veio do SUS, 27% de particulares e 10% de convênios. Os atendimentos pelo SUS, no entanto, somam 90%. “São os convênios e particulares que acabam arcando com as despesas do SUS”, explica.

Além da falta de atualização da tabela do SUS ? o governo repassa R$ 110,00 por um parto normal e R$ 250,00 pela cesariana ?, outro problema é o faturamento retido por conta do número de cesarianas realizadas. É que os hospitais têm um limite de cesarianas para realizar através do SUS, que para o Nossa Senhora do Rocio é de 35%. “O problema é que a gente recebe muitas adolescentes grávidas ou gestantes hipertensas, que precisam de um cuidado maior e, muitas vezes, da intervenção da cesárea”, explicou a chefe de enfermagem Sílvia Marcondes. De janeiro a junho, a maternidade acumula 212 cesarianas “retidas”, ou seja, não pagas, que somam mais de R$ 50 mil.

Apadrinhamento

Para contornar a situação, membros do hospital deverão percorrer empresas da região em busca de ajuda financeira ? o “apadrinhamento” de alas da instituição. “Sem a ajuda da iniciativa privada, é quase impossível fazer novos investimentos”, alegou Irene. Entre as prioridades estão a ampliação da UTI neonatal, construção de uma UTI para adultos e reformas em geral.

A Clínica e Maternidade Nossa Senhora do Rocio foi fundada em 1947. Conta com 53 leitos de obstetrícia, dez de UTI e quinze de médio-risco – ambos para recém-nascidos – e três para o programa Canguru – em que o recém-nascido fica em uma espécie de bolsa no colo da mãe, até ganhar alta. Emprega 106 pessoas e, em 2002, registrou 6.006 nascimentos.

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