Até a próxima quinta-feira, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) realizará uma série de manifestações em todas as regiões do País. O objetivo é conscientizar a população sobre a importância da reforma agrária e combater a violência contra os trabalhadores sem-terra. Em todos os locais, serão realizadas homenagens aos dezenove trabalhadores mortos durante o conflito de Eldorado de Carajá, ocorrido no Pará, em 17 de abril de 1996.
Ontem, quase na divisa de Curitiba com o município de Campo Largo, cerca de 1,8 mil pessoas, entre trabalhadores sem-terra e seus familiares, realizaram um ato público na BR-277, em frente ao monumento em homenagem a Antônio Tavares Pereira, morto durante um confronto com a polícia no dia 2 de maio de 2000, durante o governo de Jaime Lerner. Um grupo de manifestantes realizou uma encenação para relembrar o assassinato do trabalhador.
Parte das pessoas que participaram do movimento, cerca de 220 manifestantes, veio de Ponta Grossa. Elas deixaram a cidade na última quinta-feira e caminharam cerca de 100 quilômetros até a capital. Dormiram na beira da estrada e comeram alimentos preparados por equipes de apoio. “Foi uma caminhada puxada e bastante difícil, mas valeu a pena”, disse a manifestante Aparecida do Carmo Lima, que tem 23 anos e trabalha como educadora. “Acho que conseguimos chamar a atenção da população para nossa causa.”
Segundo um dos integrantes da coordenação do MST no Paraná, José Damasceno, o ato público realizado na BR-277 faz parte de uma jornada mundial pela reforma agrária. “Nosso movimento é principalmente em memória dos diversos trabalhadores que morreram em conflitos ocorridos em todo o País, lutando pela melhor distribuição de terras. Repudiamos a violência e a impunidade que imperaram nos oito anos de governo de Jaime Lerner”, afirma.
CPT
Dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) apontam que, de 1995 a 2002, dezesseis trabalhadores sem-terra foram mortos no Paraná, 497 foram presos, 326 sofreram lesões corporais, sete foram torturados, houve 45 ameaças de morte, 31 tentativas de assassinato e 130 despejos. “Atualmente, os conflitos diminuíram e a situação está bem mais calma no Estado. O governador Roberto Requião se comprometeu a tratar a reforma agrária como um movimento social, sem uso da violência. Estamos acreditando que ele vai cumprir com a palavra dada”, disse o secretário executivo da CPT, Jelson Oliveira. “Nosso único medo é de que os proprietários de latifúndios não mantenham a calma e resolvam agir com violência contra os trabalhadores sem-terra.”
Presente ao movimento, o vice-presidente nacional da CPT e bispo auxiliar da arquidiocese de Curitiba, dom Ladislau Biernaski, defendeu a limitação do tamanho da propriedade rural. Ele acredita que a propriedade deveria ser limitada a cerca de 35 módulos fiscais. No Sul do País, um módulo corresponde a vinte hectares de terra. “Sem a limitação, a reforma agrária se torna inviável”, declarou. “É preciso que os governos estaduais e federal não tenham medo de fazer a reforma. Com ela, encerram-se os conflitos.”
Assentamentos
O coordenador estadual do MST, Edson Marcos Bagnara, revela que no Paraná existem 16 mil famílias que vivem em assentamentos. Em 2002, 2 mil famílias foram assentadas. Também no Estado, o MST tem uma lista com 10,7 mil famílias que esperam ser incluídas no processo de reforma agrária. Dessas, 6,7 mil estão em beiras de estradas ou áreas cedidas por governos municipais. As outras estão morando em ocupações e acampamentos, entre 30 e 40 áreas.
Ocupação
Durante o protesto de ontem, líderes do movimento sem-terra anunciaram que, na madrugada de ontem, cerca de seiscentas famílias ocuparam o assentamento da família Solidor, às margens da PR-158, no município de Espigão Alto, no Oeste do Estado. Em 2000, 38 famílias, que viviam há 16 anos no local, foram despejadas. A notícia do assentamento foi bastante comemorada por todos.
Até o próximo dia 17, os trabalhadores sem-terra, que estão alojados no ginásio de esportes do Tarumã, participam de 22 audiências em Curitiba. Todas as noites, realizarão conferências no auditório da reitoria da UFPR. Hoje, às 10h, serão recebidos pelo governador Roberto Requião, no Palácio Iguaçu.