Maior parte do Litoral está impróprio para banho

Chuvas intensas, depois a falta de chuvas, ausência de vento sul, grande número de pessoas, falta de saneamento básico. Até agora, essas foram as explicações dadas pelo secretário estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Rasca Rodrigues, para os poucos pontos das praias paranaenses próprios para banho nesta temporada 2008/2009.

Do total de 43 pontos onde a análise foi feita, o número de locais próprios para banho nas quatro medições realizadas pelo IAP nesta temporada oscilou de oito, na primeira medição, passando para 11, depois para seis e, na última, quatro pontos. Locais como o Morro do Cristo, em Guaratuba, foram considerados impróprios para banho em todas as análises; o mesmo aconteceu com os cinco pontos avaliados em toda a Ilha do Mel e com oito dos nove pontos avaliados em toda a Pontal do Paraná, por exemplo.

Longe de ser uma novidade, essa é a situação enfrentada historicamente pelo litoral do Estado, em boa parte apontada como sendo de responsabilidade dos imóveis que ainda não possuem ligação na rede de esgoto.

Do total de residências no litoral do Estado, estima-se que 30% ainda não fizeram ligação de esgoto (nos locais em que existe a rede coletora), segundo levantamento da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar). “A Sanepar vai ampliar a rede coletora, com um investimento estimado em R$ 183 milhões para o sistema de esgoto no litoral”, avisa o gerente em exercício da Sanepar no litoral, Arilson Mendes. Em Pontal do Paraná, a estação onde é realizado o serviço foi inaugurada em dezembro de 2008 e agora vai ter mais de quatro mil ligações.

Para garantir que a população faça a ligação, equipes do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), em conjunto com a Sanepar e o Batalhão de Polícia Ambiental, reforçam a fiscalização do lançamento irregular de esgoto em rios e canais do litoral. A meta é vistoriar, até o final da temporada, previsto para 1.º de março, todos os 4.608 imóveis em Guaratuba, Matinhos, Morretes e Pontal do Paraná que possuem redes coletoras da Sanepar ou se encontram próximos aos canais, rios e praias.

Aliocha Maurício
Praia do Morro do Cristo, em Guaratuba, foi um dos locais considerados impróprios em todas as medições.

De acordo com o gerente da Sanepar no litoral, a fiscalização ocorre o ano todo, mas fica em evidência nesta época do ano porque é quando fica mais fácil encontrar o proprietário em casa para cobrar o serviço. “No inverno, as pessoas não estão aqui e, na maioria das vezes, não se sabe o segundo endereço delas para entrar em contato”, explica Mendes.

Nos locais que ainda não possuem a rede coletora, a orientação dos fiscais é construir fossas sépticas e sumidouros para evitar o lançamento do esgoto direto em águas abertas.

O IAP recebe denúncias da população sobre o lançamento clandestino de esgoto em canais e rios pelo telefone (41) 3458-5151.

Critérios definem qualidade da água

Jorge Eder/Secs
Na Ilha do Mel, os 5 pontos avaliados não têm condições de balneabilidade.

Os procedimentos técnicos que determinam a balneabilidade são norteados pela Resolução 274/2000 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama). No Paraná, a qualidade da água do mar neste verão está sendo analisada semanalmente pelo IAP. O resultado fica disponível em boletins impressos, dist,ribuídos na orla, e na internet, pelo endereço www.iap.pr.gov.br, no link Boletim de Balneabilidade 2008/2009.

Outro fator que afeta o resultado é o nível das marés, que pode ser alterado pela intensidade dos ventos. Estudo recente do IAP sobre o funcionamento das correntes marítimas identificou que, no litoral paranaense, é comum a formação de correntezas de retorno (rip currents), espécies de redemoinhos que propiciam o acúmulo de poluentes. Um ponto é classificado como impróprio quando, durante a amostra medida, forem detectados mais de dois mil coliformes fecais por 100 mililitros de água.

Outra possibilidade é se duas ou mais amostras apresentarem mais de 800 coliformes por 100 ml. Segundo o IAP, os índices referem-se a trechos de 200 metros – 100 metros à esquerda e à direita de cada ponto -, e não a praias inteiras. Barracas e bandeiras vermelhas devem indicar os trechos poluídos.

Municípios buscam alternativas

Enquanto o governo estadual cobra a realização das ligações de esgoto, os novos governos municipais divergem quanto a suas responsabilidades para melhorar a qualidade da água do mar.

Em Guaratuba, o novo governo municipal começa com projetos voltados à melhoria do saneamento básico. “Estamos estudando alternativas ambientais para fazer um contorno, talvez até subterrâneo, para desviar os rios, levando o escoamento para a baía, com estações de tratamento intermediárias. Outra saída é levar o canal diretamente ao mar, com tubulação, até a uma distância que não comprometa a balneabilidade”, planeja o secretário municipal de Infraestrutura Urbana, Carlos Carvalho.

Os estudos estão em andamento e a ideia é buscar apoio do governo do Estado para custear a obra. Independente da fiscalização da Sanepar, a prefeitura de Guaratuba pretende verificar todos os imóveis para checar tanto a ligação de esgoto como locais em que o serviço da Sanepar pode estar com algum problema na tubulação, por exemplo.

Para o prefeito de Matinhos, Eduardo Dalmora, o problema está concentrado nas chuvas. “Com céu de brigadeiro, a água está toda boa para banho. Desafio qualquer pessoa a demonstrar que a qualidade da água em Balneário Camboriú (SC), por exemplo, é melhor que a nossa”, acredita.

Se não chover nos dias anteriores à próxima medição de balneabilidade do IAP, o prefeito garante que a maioria dos pontos estará própria para banho. “Estamos melhorando a nossa praia e, com o investimento do governo do Estado no esgoto, o problema é mesmo da grande quantidade de chuvas”, acredita.