Má nutrição infantil vira epidemia mundial

A desnutrição infantil é um problema global, que faz com que em todo mundo crianças sejam encontradas com peso abaixo do normal e corram risco de morte. Porém, no Brasil, ainda mais evidente do que ela é a má nutrição infantil, que pode atingir crianças de todos os níveis sociais, não estando ligada apenas à pobreza, mas também a escolhas erradas no que diz respeito à alimentação.

Segundo um relatório publicado pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas pela Infância) em maio deste ano, a má nutrição é uma epidemia mundial responsável por mais da metade de todas as mortes na infância, que equivalem a 5,6 milhões por ano. "Uma criança malnutrida não é obrigatoriamente uma criança que se encontra abaixo do peso, o que caracteriza a desnutrição. Na maioria das vezes, acontece o contrário. A criança malnutrida é obesa por comer uma grande quantidade de alimentos calóricos, que dão muita energia, e deixar de lado alimentos ricos em nutrientes, como frutas e verduras", comenta o coordenador adjunto da Pastoral da Criança, Nelson Arns Neumann.

De acordo com ele, em alguns estados brasileiros os índices de desnutrição infantil vêm caindo na mesma proporção em que aumentam os índices de obesidade em crianças. No Paraná, isto é uma realidade desde o ano de 1996, podendo ser notada principalmente nas periferias das grandes cidades. "Ao contrário do que muita gente pensa, nas periferias a situação está bem pior do que em áreas rurais. No campo, as crianças ainda se alimentam de opções locais de plantio. Nas periferias, elas comem o que os pais podem comprar e geralmente os alimentos ricos em energia, como por exemplo o macarrão, costumam ser mais baratos."

Lucimar do Carmo/O Estado
Verduras devem estar sempre presentes nas refeições das crianças.

Entre as crianças de classes sociais mais elevadas, o consumo de produtos bastante calóricos, como os comercializados em fast-foods, também costuma ser superior ao consumo de frutas e verduras. Neste caso, entretanto, não é o poder de compra dos pais que influencia na condição nutricional da criança, mas sim suas opções incorretas no momento de levar alimentos para dentro de casa.

Anemia

Uma das principais conseqüências da má nutrição infantil é a anemia, que tem como principal causa a deficiência de ferro no organismo, e se caracteriza pela diminuição da quantidade de hemoglobina (células vermelhas do sangue) no organismo. Estudo realizado por pesquisadores da Universidade do Estado do Pará e da Universidade Federal de São Paulo indicam que a prevalência da anemia no Brasil aumentou a partir da década de 1970, fazendo com que o problema seja considerado a deficiência nutricional de maior importância em saúde pública da atualidade.

Lucimar do Carmo/O Estado
Maria: "Alimentos ricos em cálcio diminuem absorção do ferro".

"Entre as crianças pequenas, a principal causa de anemia costuma ser a substituição precoce do leite materno pelo leite de vaca, que não lhes é adequado. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que o leite materno seja a alimentação exclusiva da criança até os seis meses de idade. Depois, ele pode ser complementado com outros alimentos até os dois anos", afirma a nutricionista do hospital infantil Pequeno Príncipe, de Curitiba, Maria Emília Suplicy.

Nas crianças com mais de dois anos de idade, a anemia é causada pela pouca ingestão de alimentos ricos em ferro, como carne vermelha, fígado e vegetais verdes escuros (por exemplo, brócolis e espinafre). "Para facilitar a absorção do ferro, é indicado que, depois de ingerir estes alimentos, a criança coma uma laranja ou qualquer outra fonte de vitamina C. Já alimentos ricos em cálcio, como leites e derivados, diminuem a absorção do ferro e não devem ser fornecidos logo após as refeições", diz.

Pastoral atua no combate à desnutrição e má nutrição

Criada em setembro de 1983 pela médica Zilda Arns, a Pastoral da Criança vem realizando verdadeiros milagres no que diz respeito ao combate tanto da desnutrição, quanto da má nutrição infantil no Brasil.

Através da promoção de visitas domiciliares mensais a famílias com crianças e gestantes, ações para verificar o peso de meninos e meninas com menos de seis anos de idade e reuniões periódicas para avaliar a situação de crianças dentro de comunidades específicas, a entidade vem transformando a realidade de populações carentes. "Todas as ações são realizadas por trabalhadores voluntários ligados à pastoral", diz Nelson Arns Neumann. "Uma das coisas que eles ensinam às famílias atendidas é como aproveitar melhor os alimentos, tirando deles, da melhor maneira possível, todos os nutrientes e vitaminas."

Atualmente, conforme informações do coordenador nacional adjunto da pastoral, existe muito desperdício, sendo que muitos componentes dos alimentos são jogados no lixo. "Alguns talos e cascas, por exemplo, são dispensados pelas pessoas quando poderiam ser aproveitados em pratos nutritivos e ao mesmo tempo saborosos", destaca.

Exemplos de cascas que podem ser aproveitadas são a da melancia e a da banana, ricas em fibras. Já no que diz respeito aos talos, o da cenoura, que geralmente nem é vendido junto com o produto nos supermercados, é um dos mais ricos em nutrientes. (CV)

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