Vilmar Rodrigues da Silva, de 37 anos, finalmente pôde descansar em paz. Depois de passar quase 48 horas sendo velado na residência da família, no Jardim Acrópole, ele foi sepultado na tarde de ontem, no Cemitério do Boqueirão, em Curitiba.
O drama da família Rodrigues da Silva começou no domingo, quando foi comunicada que Vilmar havia sido encontrado morto na ponte do Rio Iguaçu, na BR-277, ao lado de sua companheira Zeni (a família dele não soube precisar o sobrenome da mulher). O choque pela morte violenta, resultado de traumatismo craniano possivelmente provocado a pauladas, teve que ser superado quando a família se deparou com um problema: não tinha dinheiro para enterrar o corpo.
Segundo Cristiano Paulo da Silva, sobrinho do morto, a família procurou o Serviço Funerário e foi informado que o custo para o enterro era de R$ 150. ?Nós não tínhamos o dinheiro e nem como conseguí-lo. Daí bateu o desespero?, diz.
Depois da frustrada tentativa de conseguir enterrar o ente sem custo, a família manteve o velório na residência.
Segundo o filho da vítima, o menor L.R.S., o corpo do pai já estava mudando de cor e ficando com cheiro diferente. Pela manhã, mais de 24 horas após a morte, a presidente do Clube de Mães do bairro, Lucimar Ferreira, foi acionada para interceder pela família. ?Fomos novamente à Prefeitura e após eles verem que a família realmente não tinha condições, arrumaram uma vaga no Cemitério do Boqueirão. Mas ainda tivemos que correr atrás de R$ 40 da taxa do pedreiro?, conta a presidente.
O dinheiro foi conseguido com a mobilização de vereadores que trabalham pelas causas do bairro. Como havia apenas uma vaga no cemitério, o corpo da companheira de Vilmar, cuja família ao que se sabe é de Santa Catarina, permanece no Instituto Médico-Legal (IML). Na saída do cemitério, a mãe de Vilmar, Tereza da Silva, diz que foi uma grande angústia perder mais um filho. Dos 10, apenas seis continuam vivos. ?Ele finalmente vai poder descansar em paz?, disse.
Confusão
Segundo o diretor de Serviços Especiais da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Walmor Trentini, a demora no atendimento à família deveu-se ao fato de um dos familiares ter afirmado que iria procurar outro cemitério para enterrá-lo. O local indicado era o Parque São Pedro, que cobra a taxa de R$ 150, por fazer parte de um convênio, não se tratando de um cemitério municipal.
?Não temos um sistema que permita constatar de imediato se a família é realmente carente. Como falaram que iriam procurar outro cemitério, o fiscal deduziu que a família iria recorrer a um local já existente?, disse. Quando ontem ficou confirmada a carência da família, a Prefeitura de Curitiba conseguiu uma vaga no Cemitério do Boqueirão, que é municipal. ?Quando assumimos a Prefeitura, constatamos um déficit de sepulturas nos cemitérios municipais, geralmente destinadas às pessoas sem condições de pagar pelo sepultamento. Mas já estamos trabalhando para resolver o problema?, diz. Segundo informações da Prefeitura, foi dado início às obras de construção de 1.800 novas gavetas mortuárias no Cemitério Municipal do Boqueirão.