Foto: Ciciro Back/O Estado |
Rui Nogueira esteve em Curitiba na última semana. continua após a publicidade |
A água do mundo não está acabando. Esta é uma das teses defendidas pelo médico, pesquisador e escritor carioca Rui Nogueira no livro Água: Organismos Internacionais e Corporações Financeiras x Humanidade, em que ele denuncia a tentativa de formação de um cartel de quatro empresas multinacionais que, segundo ele, querem controlar toda a distribuição de água mundial.
"Como pode a água estar acabando, para onde ela está indo? Para o espaço sideral?" questiona o escritor. "Isso é uma idéia criada por essas empresas, para poderem atribuir um valor alto à água que será vendida por elas, sem haver contestação", comenta.
No livro, Rui condena a privatização da água, que, para ele, "é um bem fundamental, um direito de todos, tem de ser universalizada, com gestão comunitária".
O interesse dele pelo tema surgiu há dois anos, quando teve notícia de uma denúncia, da Associação dos Jornalistas Investigativos Independentes da Europa, sobre a formação de um cartel para a privatização da água. Desde então passou a pesquisar e escrever artigos sobre o assunto, até finalizar o livro.
Durante suas pesquisas, Nogueira constatou que a maioria dos consórcios que venceram as licitações de água em diversos países são formados pelas mesmas empresas, e com o domínio de duas delas. Ele constatou, também, a presença de instituições financeiras internacionais, como o Banco Mundial, nesses consórcios. "Isso indica que, na hora de renegociar as dívidas com os países, essas instituições estão induzindo às privatizações", sugere.
Um dos exemplos usados pelo pesquisador é o caso da África do Sul, em que a água é privatizada e, para se ter acesso à torneiras públicas, o cidadão precisa de um cartão pré-pago. As pessoas passaram a procurar fontes alternativas e começaram a usar água sem tratamento, o que desencadeou uma epidemia de cólera no país.
Outro ponto abordado por Nogueira é o fato de, no Brasil, apesar de o direito à água ser universal, as pessoas não encontram, por exemplo, bebedouros nas cidades. "Quem tiver sede terá, fatalmente, que comprar água engarrafada, que, muitas vezes, é extraída do próprio serviço público e apenas adicionada de sais." Ele critica, também o fato de, em nossas casas, ao invés de utilizarmos a água do sistema público, que é de boa qualidade, também compramos garrafões de água.
Outros assuntos bastante relevantes também são tratados no livro, como o fato de apenas 8% da água potável do mundo ser usada pelas residências, enquanto cerca de 75% é utilizada na agricultura e acaba sendo envenenada.