Quantas árvores você conhece em Curitiba? Alguns vão dizer nomes comuns como os ipês, palmiteiros, araucárias. No entanto, nem todo mundo tem conhecimento de outros exemplares, como a pata-de-vaca, o juvevê, o sassafrás, jerivá, tarumã ou dedaleiro. Qual seria a árvore mais velha da capital ou a mais alta? E as que correm risco de extinção? Além dos curiosos e especialistas, hoje, no Dia da Árvore, pode ser difícil encontrar alguém que realmente conheça uma grande quantidade de exemplares.
Observando o desconhecimento de muitos sobre esse assunto, acentuada pela falta de material relacionada ao tema, o jornalista e publicitário Francisco Cardoso desenvolveu e escreveu após uma extensa pesquisa o livro Árvores de Curitiba, contando com a colaboração dos especialistas Carlos Vellozo Roderjan e Murilo Lacerda Barddal.
A obra, que pode ser encontrada nas livrarias da cidade, foi distribuída para bibliotecas, escolas públicas e faróis do saber de toda a capital. “O livro foi feito sem termos técnicos, para ser compreendido facilmente. É difícil encontrarmos hoje em dia crianças e adolescentes que conheçam mais de uma dúzia de árvores. Antigamente era diferente, mas hoje as pessoas não têm mais esse costume”, disse.
A obra cataloga 50 árvores, exemplificadas em pontos de Curitiba e 30 fotos. “São árvores encontradas nas vias e em locais públicos. É uma quantidade enorme de exemplares”, afirmou o escritor. Somente nas praças Santos Andrade e Eufrásio Correia foram encontradas 51 árvores diferentes.
A árvore mais velha é um exemplar de imbuia que fica no Museu de História Natural, no bairro Capão do Imbuia. Não se sabe ao certo, mas sua existência pode passar dos dois mil anos. As árvores mais altas da cidade são dois eucaliptos de 30 metros de altura. Eles estão na pequena ilha sobre o lago principal do Passeio Público. O exemplar mais grosso também é um eucalipto. Ele se encontra na Avenida Nossa Senhora da Luz, esquina com Augusto Stresser, no Jardim Social, com 1,86 metro de diâmetro. “Com o trabalho dos especialistas foi possível levantar essas informações e deixar mais claro para a população, os locais onde esses exemplares se encontram”, destacou Francisco.
Dia da Árvore e a crise do conhecimento
Eloy Casagrande Jr.
Pois é, hoje se comemora mais um Dia da Árvore! Prefeitos e secretários do meio ambiente vão discursar, estudantes e professores vão plantar algumas mudas por aí, textos serão escritos em jornais (como este)! É mais um dia daqueles marcados no calendário e que amanhã já terá sido esquecido. É como o Dia do Índio, Dia do Negro ou de alguma outra minoria esquecida pela história que precisa de um dia para ser lembrado. Talvez tivéssemos de ter o dia do menor abandonado, dia do menor infrator trancado em “deformatórios”, dia da adolescente explorada sexualmente, dia do catador de papel, dia do mendigo de rua, todos infelizmente lembrados quando a tragédia se abate sobre eles! Se fossemos eleger um dia para cada categoria excluída da nossa sociedade, creio que os 365 dias do ano não seriam suficientes.
O triste é saber que mesmo que houvessem estes dias de “celebrações” a vida continuaria na mesma rotina de sempre. O Dia da Árvore não é diferente. Apesar de tanto discurso politicamente correto em favor do meio ambiente, a árvore continua sendo relegada a um segundo plano na agenda econômica das sociedades capitalistas! A ganância e o lucro continuam a promover o desmatamento na Mata Atlântica, nos Campos Gerais, no Cerrado, no Pantanal e na Amazônia. A nova edição do livro dos recordes Guinness 2005, que chega às lojas em novembro, vai apresentar o Brasil como recordista em áreas desmatadas. O País perdeu no século passado uma área de florestas equivalente ao Estado de Sergipe. A média anual de devastação de matas entre 1900 e 2000 foi de 22.264 mil km quadrados. A baixa conscientização da sociedade aliada as pressões de setores produtivos ligados a madeira e a agropecuária, assim como de empresas imobiliárias, prevalecem na maioria das vezes sobre as leis ambientais. Some-se a isso, uma fiscalização deficitária dos órgãos públicos, o baixo valor das multas, os recursos da Justiça para escapar dos pagamentos dos danos e a falta de maior controle social junto ao poder público responsável pela proteção ambiental.
Desmatamento é visto como parte da crise ambiental, assim como o problema de excesso de lixo e da poluição da água e do ar. programas de educação ambiental são implantados em escolas, por organizações não governamentais e por empresas. Produzem-se dezenas de dissertações de mestrado e teses de doutorado sobre as causas e as conseqüências do desmatamento sobre a qualidade da água e a interferência nas mudanças climáticas. Escrevem-se livros, cartilhas, manuais de separar o papel e reciclá-lo para “economizar” no corte das árvores. Aliviamos nossa consciência ao entregar nossas sobras de embalagens para reciclagem e lavamos as mãos, assim como as empresas também lavam ao deixar tudo nas costas do catador, sem mudar seus processos produtores de excesso de embalagens não biodegradáveis.
Nossa crise não é ambiental, é sim de conhecimento, da falta de entendimento que fazemos parte do todo, de que não podemos viver isolados de outras espécies do Planeta, de que há uma inter-relação em tudo, de que devemos ser sistêmicos, de que árvore em pé é a garantia de suprimento de água saudável e de clima equilibrado. Para isso não é preciso pesquisa científica, se sente no corpo as diferenças de temperatura nos centros das cidades como São Paulo e de seus bairros. Essa diferença pode alcançar até 6 graus Celsius! Bolsas de calor são formadas devido a impermeabilização do solo, a falta de vegetação e a emissão de gases poluentes dos nossos automóveis.
Para os dias que se comemora a árvore ou a água, nossa sociedade tem os dias comemorativos para estimular o consumo, como o dia do pai, dia da mãe, dia da criança, o natal, a páscoa e outros, que perderam seu verdadeiros sentidos. São considerados dias de fôlego a mais para uma economia doente que se recusa a tratar as causas e somente aplica remédios ineficientes para tratar as conseqüências. Enquanto isto não acontece, nos resta plantar uma árvore com nosso filho, esperando que o ato possa ser uma semente de uma nova consciência!
Eloy Casagrande Jr. é PhD e autor da coluna Sociedade Sustentável, veiculada aos domingos em O Estado.
Grupo dá bom exemplo
No último domingo, em São José dos Pinhais, o Grupo Escoteiro Iguaçu participou de uma ação de preservação no Parque Metropolitano. Os integrantes do grupo recolheram sete sacos de 100 litros de lixo que estavam espalhados pelo local e plantaram 19 mil mudas de árvores nativas.
De acordo com o chefe do grupo, soldado Mueller, a iniciativa estimulou os visitantes do parque, que participaram da ação colocando o lixo nos lugares adequados. “Talvez não percebam, mas a importância dessa ação é enorme. Com pequenas iniciativas é possível conscientizar mais pessoas sobre a necessidade da preservação do meio ambiente”, destacou. “Agora vamos acompanhar o desenvolvimento das mudas plantadas e continuar com o monitoramento das áreas de preservação da região”, afirmou o soldado. (RCJ)