Na última sexta-feira foi inaugurado, em Curitiba, o primeiro trecho da Linha Verde: são cerca de cinco quilômetros entre os bairros Pinheirinho e Hauer prontos para o uso de carros, pedestres e ciclistas. O empreendimento irá até o Jardim Botânico e será entregue em sua totalidade, com 9,4 quilômetros, até maio de 2009. A radical urbanização da rodovia já recebeu investimentos de R$ 121 milhões e marcou a primeira administração do prefeito Beto Richa. Em entrevista exclusiva a O Estado do Paraná, Richa falou da importância da obra, esclareceu dúvidas, respondeu a críticas e detalhou o que ainda está por vir.
O Estado – Quais são os principais benefícios que essa primeira parte da Linha Verde trazem?
Beto Richa – São inúmeros. É uma obra esperada pelos curitibanos há décadas. Vários prefeitos tentaram fazê-la e não conseguiram, e nós tivemos a felicidade de iniciá-la. É a maior obra de transformação urbana das últimas décadas e a maior obra viária em execução no Paraná. Os recursos estavam até perdidos no órgão financiador, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Mas perseveramos, procuramos várias vezes os representantes do banco. Em função do impasse jurídico que surgiu, eles não queriam mais financiar. Mas conseguirmos rever a obra, tivemos um entendimento da necessidade de revogar a licitação anterior e fazer uma nova, mais abrangente e menos restritiva. E o valor ficou menor do que se a licitação tivesse sido feita anteriormente, na outra administração.
OE – E as inovações?
BR – A obra traz avanços na área do transporte público. Com um sistema novo, com estações desalinhadas, vamos desafogar em cerca de 20% a 25% o fluxo do eixo norte-sul de transporte. Têm ali conceitos ambientais, parques lineares, áreas de lazer, ciclovia, o plantio de vegetação nativa. Ali era uma antiga rodovia que trazia transtornos diários pra toda essa vasta região. Agora, é uma avenida. Também o zoneamento foi alterado, com a possibilidade de implantação de comércio e serviços. Inúmeros empreendimentos estão acontecendo ao longo da Linha Verde. Ela valorizou todos os imóveis dali.
OE – A crise que veio a partir de setembro e a conseqüente desvalorização do real perante o dólar ajudou ou atrapalhou nas obras da Linha Verde? Como a prefeitura está vendo essa situação?
BR – Estamos apreensivos, porque vai afetar o mundo inteiro e todas as instâncias de governo, na medida em que se reduz a esperada arrecadação. Mas temos uma situação de equilíbrio fiscal e financeiro. Ajustes foram feitos ao longo da nossa gestão – eliminamos desperdícios, reduzimos gastos, o que possibilitou dinheiro em caixa. Todos os compromissos da prefeitura foram honrados. É uma situação financeira invejável. E com obras por toda a cidade, o que atesta uma gestão muito eficiente. Em alguns compromissos, como com o BID, essa desvalorização favorece. E nós temos vários empréstimos ainda para acontecer, como o BID3, que vai ser liberado no ano que vem.
OE – E para a segunda fase das obras, como está a situação financeira?
BR – Nós temos capacidade de endividamento para contrair um novo empréstimo. Para exemplificar, a capacidade de endividamento de uma administração vai até 120% das suas receitas, segundo a Lei de Responsabilidade Fiscal. A nossa está comprometida em torno de 13%.
OE – Durante a primeira fase das obras, quais foram as maiores dificuldades?
BR – As dificuldades apareceram como um todo. As escavações atrasaram o cronograma, porque ali nos deparamos com situações que não eram previstas. Por exemplo, encontramos fibras óticas que não estavam no inventário no Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (Dnit). E, depois, uma adutora d,a Sanepar que não estava prevista. Uma escavação a rompeu e atrasou um tempão a obra. Além de muitas chuvas. De qualquer forma, a obra está aí, sendo inaugurada, e está acontecendo bem e com qualidade.
OE – Desde que começaram as obras, muita gente fez críticas em relação a alguns pontos. Muitos reclamaram, por exemplo, que teriam poucos viadutos, trincheiras e passarelas na Linha Verde.
BR – Já temos quatro ou cinco viadutos e cinco ou seis trincheiras ao longo dela. O importante é que a obra privilegia o fluxo de veículos e o transporte público. Viadutos atrapalhariam o bom funcionamento das estações que terão ao longo da Linha Verde – e são cinco nesse trecho. O ônibus teria que passar por cima e dar uma longa volta para entrar nelas. Congestionamento também não vai ter, porque teremos um sistema inteligente de semáforos. A uma determinada velocidade, os carros vão pegar praticamente os sinaleiros todos abertos – o que chamamos de onda verde. E também tem espaço para travessia de pedestres, com sinaleiros. Com a Linha Verde vai haver vários pontos para travessia, com segurança. E outra: lá na frente, se for preciso uma passarela, um viaduto, uma trincheira, se faz.
OE – Com uma futura implantação do metrô, como será a integração com a Linha Verde?
BR – O metrô vai acontecer, mas é um projeto a longo prazo. Nessa proposta inicial, o metrô vem do Santa Cândida, passa pelo Pinheirinho, entra num pedaço da Linha Verde e chega na CIC, no cruzamento com o Contorno Sul. Tem uma área enorme que estamos adquirindo ali, onde vão ser implantadas oficina e uma estação de metrô e ônibus. Vai ser um pequeno trecho que não é subterrâneo.
OE – Como vai ser a segurança dos usuários – motoristas e pedestres – e dos equipamentos da avenida?
BR – Vamos ter câmeras nas estações. Elas têm inibido bastante a ação de criminosos. Desde que instalamos no centro histórico da cidade, muitas pessoas foram presas em um curto espaço de tempo. A idéia é levar isso para os bairros. E, em cada uma das regionais, ter uma central de monitoramento dessas câmeras. E há também a guarda de proteção do transporte coletivo para conter o vandalismo. Está prevista a contratação de mais guardas para o próximo mandato. A frota de veículos foi dobrada, todos têm coletes à prova de balas e seguro de vida.
OE – Na época em que a prefeitura assumiu a rodovia, havia uma onda de roubo de fios e lâmpadas, deixando a via no escuro. Como isso será evitado?
BR – Vamos encontrar uma maneira de coibir isso. Mas é preciso eliminar os receptadores. Mesmo durante as obras, passávamos ali e estava tudo apagado, porque roubavam os fios. Aconteceu umas três vezes. Aí fizemos os cabos aéreos, porque, se enterrados, quebram a caixa e roubam. No aéreo eles já têm que se expor, colocar escada.
OE – O que a segunda fase vai trazer de principal?
BR – Será a continuidade. O mesmo estilo, o mesmo formato desse trecho que vem da região sul até o Jardim Botânico.
OE – E em quanto tempo fica pronto esse trecho?
BR – Em um ano e pouco, a partir do início da obra.
