A discórdia sobre a abertura da Praça Miguel Couto, mais conhecida como Pracinha do Batel, provocou momentos, no mínimo, pitorescos ontem em Curitiba. Além do já conhecido debate sobre a importância histórica do local, o enredo do dia contou com liminar da Justiça e moradores impedindo a passagem das máquinas da Prefeitura.
O projeto é uma das obras previstas pelo plano de mobilidade urbana de Curitiba para desafogar as ligações entre os bairros Água Verde e Bigorrilho. Na manhã de ontem, os trabalhos mal haviam começado e o grupo contrário à mudança já se mobilizava. Enquanto o pedido na Justiça para a suspensão das obras não chegava, os moradores trataram de impedir o acesso das máquinas. ?Eles agiram na calada da noite para nos pegar de surpresa?, bradou a moradora Rosana do Rocio Daniel.
Foto: SMCS |
Projeto prevê uma completa revitalização no local. |
A suspensão temporária foi concedida, através de liminar, pelo juiz Marcel Guimarães Macedo, da 1.ª Vara da Fazenda Pública. A decisão foi baseada no fato de que a praça está sob análise da Secretaria de Estado da Cultura (Seec) e pode ser tombada pelo Patrimônio Histórico do Paraná. O pedido foi feito pela Associação dos Amigos do Batel no dia 30 de maio. Segundo a Seec, a proposta deve ser analisada ainda este mês por uma comissão composta por personalidades do meio cultural-histórico do Estado.
Para a coordenadora da Associação dos Amigos do Batel, Celita Garcia, a praça é importante, pois sua criação data de 1896. ?Antes ela era um portão da chácara do Barão do Cerro Azul. Não se sabe como ela passou para a Prefeitura, mas hoje é um patrimônio municipal e deve ser preservado?, afirmou.
Segundo o morador Rafael Xavier, autor da ação que suspendeu as obras, a Prefeitura sabia do pedido de tombamento e mesmo assim tentou abrir a praça. ?Essa rua só serve para atender os interesses de empresários que vão construir um shopping no antigo bosque Gomm?, afirmou o advogado, que também é coordenador da Associação Amigos do Batel e presidente municipal da Juventude do PMDB.
Decisão
A Prefeitura informou que vai recorrer da decisão. ?Vamos tentar derrubar a liminar até pela importância dessa obra para a cidade?, afirmou o administrador regional da Matriz, Omar Akel. Segundo ele, o pedido de tombamento não foi informado à Prefeitura. ?A obra vai beneficiar os moradores. Quando você tem um ponto de engarrafamento, como o que há lá, degrada o próprio local com maior tráfego para chegar à praça e poluições do ar e sonora?, afirmou. Sobre a questão do shopping, Omar disse que não há problema na construção de um nas proximidades da praça. ?Até porque a lei de zoneamento permite esse tipo de construção naquele local?, concluiu.
Associação estranha resistência
Fabiano Klostermann
A tão controversa abertura da Praça Miguel Couto começou a ser estudada a pedido dos próprios moradores do Batel. A afirmação é de Paulo Nascimento, presidente da Associação dos Condomínios do Batel. De acordo com ele, a primeira reunião sobre a obra foi realizada em 1999, em conjunto com o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc). ?Desde então fizemos outras seis audiências para tratar do tema. Mas só agora, na última, realizada em 2007, estranhamente é que apareceram as resistências. Isso me parece intriga político-partidária?, afirmou. Para ele, a obra não foi realizada antes por ?falta de vontade política? da administração anterior.
Paulo defende a importância da obra como maneira de desafogar os acessos bairros Portão, Pinheirinho, Sítio Cercado e Cidade Industrial ao Bigorrilho.
O presidente afirma ainda que todos os 210 condomínios representados pela associação receberam correspondências avisando sobre as discussões. ?Se os síndicos não passaram a informação para os condôminos, daí já não é problema nosso?, concluiu.