Libaneses do Paraná rezam por parentes

Enquanto o Líbano é atacado, estando ou não no país, libaneses em todo o mundo sentem muito a destruição de sua terra natal. No Paraná, a comunidade árabe, principalmente libanesa, é bastante grande. Somente em Foz do Iguaçu são cerca de 12 mil pessoas e em Curitiba em torno de 1,5 mil. Em Paranaguá, no litoral do Estado, vivem mais de cem famílias libanesas. A maioria, das cerca de 500 pessoas, é comerciante e tem familiares na mesma cidade, Kherbet Rouha, no Vale do Bekaa, nordeste do Líbano. Lá estão filhos, esposas, irmãos, pais, primos, tios e amigos. O coração dos libaneses ?parnanguaras? está de luto.

Nas lojas comerciais do centro, bandeiras do Líbano marcadas de preto e mensagens de pesar exprimem um pouco do que sentem atualmente os libaneses que vivem em Paranaguá. Para esta semana, segunda ou terça-feira, a comunidade árabe local está organizando uma passeata e o comércio vai fechar suas portas em solidariedade e pedindo paz.

Paz e segurança é o que o comerciante Ale Charkie, de 34 anos, quer que a esposa, os três filhos – de 11, 10 e 8 anos -, os mais de 200 parentes e outros cem brasileiros tenham em Kherbet Rouha. Ele conta que a esposa e os filhos foram para o Líbano em 2005. As crianças, pela primeira vez no país, gostaram tanto que resolveram ficar. ?Eu não imaginava que essa situação chegaria. A cidade e uma boa parte da região por enquanto estão calmas, mas tem áreas próximas que já foram atingidas. A gente reza muito para que Deus os proteja lá?, diz Ale.

Ele fala com a família diariamente, mais de uma vez ao dia. Conta que ainda há segurança, mas dentro de casa. ?Hoje todos estão dentro de casa. Da nossa cidade até a Síria dá 15 ou 20 minutos de carro, mas o problema é pegar a estrada, pois não tem segurança. O que vejo pela televisão árabe e pela internet, que acompanho sempre, eles estão atacando crianças e outros civis, hospitais, ambulâncias, caminhões de remédio. A infra-estrutura do país está toda destruída. Na nossa região já há racionamento de água, luz e gasolina e o governo libanês anunciou que o alimento no país só dá para três meses. As crianças que vivem aqui no Brasil, que nunca viram isso, não entendem. Minha filha, quando falamos ao telefone, pergunta porque eles estão jogando bombas nas pessoas?, lamenta o comerciante.

Preocupação muda a rotina dos comerciantes da cidade

Foto: Lucimar do Carmo/Tribuna

Lojistas protestam contra a guerra.

O filho do casal Fauez Abdul El Assal e Zahia Omar El Assal, de 14 anos, também viajou, no dia 27 de junho, à mesma cidade, no Líbano, pela primeira vez. ?Ele estava muito animado, foi para ficar três meses. Quando ele foi não tinha nada. O Líbano era um paraíso e, de repente, começa esse bombardeio. Já mataram mais de trezentas pessoas. Falo com meu filho todos os dias, duas ou três vezes. Ele não estava, mas ficou assustado?, conta Fauez.

O adolescente, que está com outros libaneses de Paranaguá, chegou na última quarta-feira à Síria e diariamente tenta encontrar um vôo para voltar. ?Todos os dias às 4h30 eles vão ao aeroporto e ficam da fila da Air France, pois eles já têm passagens de volta compradas, mas não há vaga. Esperamos que ele volte ainda esta semana. Ficamos feliz que meu filho vai voltar, mas também ficamos tristes pois meus pais, que são brasileiros, moram lá há 18 anos, assim como meus cinco irmãos e muitos sobrinhos, vão ficar. Estou triste por ter deixado todo mundo lá?, lamenta Fauez, que tem um irmão no Exército libanês. Ele diz que cerca de 20 pessoas de Paranaguá estão no Líbano, metade deles já conseguiu sair e está na Síria, a outra parte continua no país. ?Eu e minhas esposa não dormimos há dias, assim como todos que têm parentes lá. Não tem nenhum libanês aqui que esteja com o coração tranqüilo. A comunidade está muito triste, não há quem não se emocione quando se fala sobre esse assunto aqui?, comenta o também comerciante.

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