Quase um mês depois de visitar as ilhas atingidas pelo óleo que vazou após a explosão do navio chileno Vicuña, no cais da Cattalini, no Porto de Paranaguá, a equipe de reportagem do Paraná-Online voltou ao litoral para conferir como anda a limpeza das áreas. A situação encontrada foi bem melhor do que a que se viu no fim de janeiro. A limpeza, mesmo que lenta e delicada, está surtindo efeitos e, aos poucos, as ilhas, a Baía de Paranaguá e as praias próximas ao local estão recuperando suas características naturais.
Especialistas e técnicos que estão trabalhando no local desde a explosão do navio, em novembro do ano passado, enxergam a situação de maneira mais otimista agora, apesar de ainda não se saber quais os reais impactos do acidente para o meio ambiente.
Cerca de um milhão de litros de óleo vazaram pela baía e se espalharam pela região. Hoje, o ponto mais crítico é a Ilha da Cotinga. Ali, homens trabalham fazendo uma limpeza com água doce de baixa pressão nas pedras, para não agredir ainda mais o meio ambiente.
João Antônio de Oliveira, fiscal do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), afirma que os órgãos ambientais vivem um verdadeiro paradigma: politicamente, são cobrados para terem certa postura, limparem o mais rápido possível as regiões atingidas. "No entanto, quando analisamos a situação biologicamente, a coisa muda de figura. Os especialistas que estão auxiliando nos trabalhos e estão acostumados em tratar de acidentes como esses dizem que, a partir de certo ponto, não é vantajoso continuar limpando as áreas porque a agressão ao ecossistema é maior do que se deixasse a natureza reagir sozinha ao acidente", explica.
Katharina Stanzel, bióloga marinha e consultora da ITOPF – organismo internacional sem fins lucrativos criado por donos de navios e que reúne especialistas para combater a poluição causada por acidentes como o do Vicuña – explica que a chamada "limpeza natural" é mais vantajosa a partir de certo momento, quando o "grosso" do óleo já foi retirado. "Certamente poderíamos remover o óleo dessas pedras utilizando água quente ou água em alta pressão. O problema é que essas técnicas agrediriam muito mais o meio ambiente. A partir do momento que temos esse óleo seco, oxidado nas pedras, ele não é mais nocivo aos animais, por exemplo. Esteticamente é feio, mas é menos agressivo deixá-lo ali e esperar que a natureza cuide da situação do que tentar removê-lo", explica a bióloga.
Marcelo Cortes Monteiro da Silva, coordenador de operações da Hidroclean – empresa responsável pela limpeza dos pontos atingidos pelo óleo – explica que, num determinado ponto da limpeza, a regeneração do ambiente é maior do que a degradação. É quando chega nesse meio termo que os especialistas decidem parar. A palavra final e avaliação dos pontos – para saber se já estão realmente limpos ou não – é dada pelos órgãos ambientais.
Barqueiros pedem R$ 1 mi de indenização
A Justiça Federal em Curitiba recebeu segunda-feira ação ordinária proposta por 27 proprietários de barcos da Baía de Paranaguá. A ação foi protocolada pela Barcopar – Associação dos Proprietários de Barcos de Turismo e Transporte do Estado do Paraná, contra a União Federal, a APPA Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina, Cattalini Terminais Marítimos e Sociedad Naviera Ultragas, empresa proprietária do navio chileno Vicuña.
Os proprietários de barcos foram impedidos de praticarem a pesca ou de utilizarem a água para práticas esportivas, conforme determinou a Portaria n.º 25/04, do Instituto Ambiental do Paraná e Ibama. A proibição vigorou por 51 dias em toda a extensão das baías de Paranaguá, Guaraqueçaba e Antonina. A Barcopar requer indenização por danos materiais e lucros cessantes no valor de R$ 1,196 milhão. A ação foi distribuída à juíza federal substituta Tani Maria Wurster, da 4.ª Vara Federal de Curitiba. Como não há pedido de antecipação de tutela ("liminar"), a juíza vai determinar a intimação e manifestação dos réus.
Mancha está prestes a desaparecer
Em locais onde a presença de turistas e a circulação de pessoas é maior – como a Ilha do Mel – os agentes contratados para fazer a limpeza estão retirando o óleo das pedras manualmente. "É um trabalho lento e visa a melhorar esteticamente a praia. Não é porque as pedras estão escuras que tudo está poluído", explica João Oliveira, do Ibama. Na areia, as equipes estão coletando resíduos de óleo que aparecem ao longo da praia, além de gravetos sujos de óleo. O trabalho é lento e delicado porque depende da maré. Quando ela enche, os trabalhadores não podem continuar com a limpeza. É preciso esperar condições naturais ideais para poder trabalhar.
Mancha
Hoje, existem sete pontos de limpeza ao longo da baía de Paranaguá: na Ilha da Cotinga, na Ponta da Cruz, Prainha de Ubá, Ilha do Mel, Ilha das Peças, Piaçaguera e no cais do porto.
Ao longo da baía, ainda é possível ver manchas de óleo, a maioria delas de cor acinzentada. A bióloga marinha Katharina Stanzel explica que quando a mancha está nessa tonalidade, ela está bastante fina e prestes a desaparecer. A mancha cinza significa que ali existe 0,0001% de óleo. É o melhor estágio de uma mancha porque em seis a doze horas, o sol cuida de fazer com que ela evapore", explica.
Quanto ao impacto do acidente, Katharina diz que é impossível prever porque a área atingida foi muito grande. "Mas podemos dizer com certeza que tivemos sorte. O impacto foi pequeno e localizado. As equipes de limpeza estão fazendo um trabalho minucioso e que está surtindo efeito. Os órgão ambientais estão colaborando também. E não podemos deixar de falar no papel da natureza, que está reagindo bem mais rápido do que imaginávamos ao acidente", afirma.
Para conferir a eficiência dos trabalhos, os órgãos de fiscalização pedem, periodicamente, análises e imagens de satélite. Todas as despesas são pagas pelo dono do navio, a Ultragas. (SR)
Resgate
A retirada da popa do navio chileno Vicuña foi adiada de novo. O guincho que está içando a peça não conseguiu retirar a popa da água em função do excesso de peso. No domingo, quando ocorreu a primeira tentativa, houve um vazamento de óleo de proporções consideráveis. Porém, de acordo com o Ibama, todo o óleo foi contido pelo sistema montado nas imediações do ponto zero. Em apenas um dia, a Smit – empresa holandesa responsável pela retirada do Vicuña – bombeou 70 mil litros de óleo da popa.