O projeto de lei que proíbe castigos físicos aplicados a crianças não agrada a população paranaense por dois motivos principais: porque as palmadas educativas seriam aceitáveis e porque não caberia ao estado interferir em questões familiares.

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Pelo menos é o que apontou a enquete do site Paraná Online. Nela, 83,1% de 1.412 leitores das versões online dos jornais O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná responderam que discordam do projeto.

60,9% responderam o item da enquete que diz: “palmada educativa é diferente de agressão física”, e outros 22,2% marcaram o item “discordo. Acho que o Estado não deve interferir nessa situação” (ver quadro).

Várias manifestações pelo site do Paraná Online (www.paranaonline.com.br) ou pelo e-mail da redação dos jornais também apontaram para essa constatação de que os leitores não aceitam um projeto de lei que proíba os castigos físicos.

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É possível que alguns leitores tenham o entendimento de que a palmada, quando educativa e sem violência, possa ser um bom instrumento educativo. E também pode ser que os leitores interpretam que “palmada” é bem diferente de “castigo físico”.

Formada a polêmica, o fato é que interferindo ou não no âmbito familiar, discutindo ou não se a palmada pode ser educativa, o projeto é polêmico. Por e-mail, a leitora Regina Marinho comentou que “o mundo está do jeito que está, pura violência”, justamente porque há pessoas que não dão palmadas nos filhos.

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Também houve manifestações favoráveis. Uma leitora que se identificou apenas como Cláudia disse que apanhou muito quando era criança e que, por isso, é totalmente favorável ao projeto.

O resultado da enquete leva a outras reflexões mais complexas. Somente o fato de haver um projeto sobre o assunto já é motivo para pensar. E muito. A psicopedagoga e pedagoga, membro da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Simone Carlberg, avalia que o problema é mais abrangente do que simplesmente a questão da palmada, e envolve toda a sociedade, não somente a família.

E quando se fala em toda a sociedade se chega a fatores mais complexos como pressões do consumismo, falta de valores, ausência de equilíbrio. “Quando um pai chega ao ponto de bater em seu filho é porque ele chegou no seu limite. Esse limite está carregado de raiva, braveza, e até de impotência em lidar com a situação. Essas situações limite são promovidas por vários fatores, como por exemplo a pressão, a competição na sociedade. Então essa intervenção do estado com o projeto está carregada de ideologia, e a família é responsabilizada por tudo”, avalia.

Em relação ao projeto, Simone acredita que ele seja de boa intenção, oriundo de um desejo de vir a ser. Porém, é preciso avaliar, segundo ela, que a sociedade ainda não está preparada para isso, que há famílias equilibradas e outras não.

Outro leitor, Wagner Belmont, ressalta que os jovens estão cada vez mais sem limites, chegando ao ponto de agredir pais e professores. Segundo ele (que diz não ser a favor de espancamentos), as chineladas que levou na infância o ajudaram a ser um “cidadão exemplar que aprendeu a superar dificuldades financeiras, saúde e outras com a cabeça erguida e honestidade acima de tudo”.