Em conseqüência do aumento desenfreado pelo qual vem passando nos últimos anos e pelo dramático quadro social que vivem as grandes cidades brasileiras, Curitiba está vivendo um problema que afeta todos os grandes centros urbanos do país. A cidade anunciada até pouco tempo atrás como modelo mostra que não consegue levar a todos a qualidade de vida que alardeava.
Um dos sintomas que deixa claro o crescimento acelerado da população excluída está nos muros e monumentos da cidade. As pichações tomaram conta de casas, praças, viadutos e qualquer construção. É verdade que muitos jovens de classe média e alta também fazem uso da lata de spray contra bens públicos ou alheios. Mas é na juventude pobre e marginalizada – na maioria das vezes sem escola, cultura e lazer – que está o centro da questão.
Como a falta de dinheiro e educação não serve de álibi para ações criminosas como o vandalismo, a parte da sociedade diretamente atingida pelo problema exige uma solução. Uma das maneiras encontradas pela Prefeitura para enfrentar os pichadores foi a repressão. Desde o dia 24 de setembro, quando foi lançada a “Operação Cidade Limpa”, a Guarda Municipal já deteve 36 pessoas, flagradas danificando o patrimônio público ou propriedades privadas.
Porém outra triste realidade vem se tornando clara desde que essa “guerra” aos pichadores foi decretada. Somente nos últimos dez dias, dois adolescentes foram baleados e mortos enquanto usavam tinta para expressar suas revoltas ou simplesmente escrever em muros o nome de seus grupos ou gangues.
Às 2h15 do último dia 2, o estudante Anderson Froese de Oliveira, de 18 anos, foi morto por policiais militares com um tiro na cabeça, durante uma abordagem na Avenida Marechal Floriano Peixoto, próximo ao viaduto do Parolin, em Curitiba. Andreson e mais três quatro amigos, que formavam o grupo denominado “Anti-Sistema”, estavam pichando o muro da empresa de ônibus Carmo.
Outro caso ocorreu na última terça-feira, dia 12. Bruno Andrade Taborda, de 19 anos, foi alvejado com um tiro no peito por um segurança enquanto pichava a marquise de um supermercado, em Colombo.
Como a solução para o problema certamente não está na simples execução de adolescentes, o Paraná Online quis saber a opinião da população. Durante a semana, 806 leitores responderam à pergunta “Que punição você acha que deve ser aplicada aos menores pichadores?”.
Vinte e cinco pessoas, ou 3,1%, responderam que não deve ser aplicada nenhuma punição. Para 50 internautas, ou 6,2%, os pais devem ser responsabilizados. 8,06% (65 votos) defendem a adoção de penas alternativas. Para 75 leitores, a pena deve ser de detenção. Outros 211 (26,18% do total) acreditam que a melhor coisa a fazer é obrigar os menores a limpar os locais pichados. Porém a maior parte defende punição ainda mais severa. 380 pessoas que responderam à enquete entendem que devem ser aplicadas todas as alternativas propostas.
O Paraná Online recebeu ainda oito comentários sobre a questão. Confira:
É crime e devem ser punidos e os pais ou responsáveis responsabilizados também, civil e criminalmente.
Luciano R. Ayres
Se simplesmente pedir aos pichadores que limpem os locais pichados, vão acabar sujando outro.
Se houver apenas detenção, quando saírem, vão continuar pichando.
Se houver somente penas alternativas, vão continuar pichando.
Os pais são os maiores irresponsáveis, mas os filhos também devem sofrer as conseqüências.
Portanto, o conjunto de todas estas medidas é o ideal.
Na enquete faltou o item “Multa”, pois sem dúvida que menores que fazem pichação tem algum tipo de recurso, e sem dúvida a mais pesada das punições seria aquela que dói no bolso, seja do menor ou de seus pais.
As penas alternativas não podem ser brandas demais, pois cresceu entre a juventude atual o ditado popular “Por que não pichar? NÃO DÁ NADA!”.
Esses porcos escalam e se dependuram em edifícios, viadutos e outros locais perigosos para emporcalhar nossa cidade e ainda se julgam heróis. Mas quando morrem são tratados nas matérias como estudantes??? Por que não “o pichador” ou “o vândalo”???
Os principais culpados são os pais que não procuram saber o que seus filhos ficam fazendo na rua até altas horas. Tive um problemas com um desses delinqüentes, liguei para o pai do moleque e, pasmem, este disse que seu filho estava, às 23h45 minutos da noite, pegando sapinhos no portão da minha casa (com uma garrafa de vinho cheia). Quando se têm pais que acreditam em qualquer desculpa dos seus filhos, teremos estes comportamentos inadequados.
Está mais que na hora das autoridades tomarem atitudes mais drásticas contra esses menores e seus pais irresponsáveis. Não podemos punir vigias e policiais que são pagos para proteger a propriedade, seja ela pública ou privada, pois como saber se alguém está armado (com um revólver ou com um spray) sobre seu muro ou telhado. Eu também atiraria primeiro!
Procuro educar meus filhos sobre direito e deveres, sobre bens públicos e privados.
O ato de pichar muros é sem dúvida vandalismo, entretanto, de maneira alguma autoriza a policiais militares executar pessoas ao seu bel-prazer. Muitos dirão que não aprovam a execução, mas são a favor do combate aos riscos nos muros. Só que não é tão simples assim. Realmente, a pichação é vandalismo. Mas seus autores não atingem a integridade física de ninguém, e os homens da guarda municipal que os perseguem melhor fariam se fossem atrás de assaltantes, estes sim uma ameaça real aos curitibanos. Além disso, é estratégia típica de regimes autoritários reprimir desproporcionalmente pequenos delitos enquanto fazem vista grossa aos grandes. Especialmente quando nestes últimos há participação oficial e de setores abastados da sociedade. Esse parece ser precisamente o caso do Paraná lernista.
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